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Operacionais americanos presos no Haiti estão de regresso a casa

Encontravam-se fortemente armados quando foram detidos em Porto Príncipe, no domingo passado, num controlo de rotina. Recusaram explicar-se à polícia local. Estão livres e de volta aos EUA.

O arsenal ilegal apreendido aos operacionais americanos detidos em Porto Príncipe, Haiti, em 16 de Fevereiro de 2019, incluía armas de assalto automáticas e semi-automáticas, algumas com miras de precisão.
O arsenal ilegal apreendido aos operacionais americanos detidos em Porto Príncipe, Haiti, em 16 de Fevereiro de 2019, incluía armas de assalto automáticas e semi-automáticas, algumas com miras de precisão.Créditos / SOCNET: The Special Operations Community Network

Cinco americanos e dois sérvios residentes nos EUA, fazendo parte de um grupo de oito homens detidos no Haiti, no domingo passado, na posse de um verdadeiro arsenal de armas de guerra, regressaram ontem aos EUA num voo da American Airlines, «depois de terem faltado a uma primeira apresentação em tribunal perante a justiça haitiana», noticia o Miami Herald.

Em vídeo filmado no interior do salão da American Airlines, no aeroporto Toussaint Louverture, é possível ver que nenhum se encontra algemado, estando enquadrados, segundo o Miami Herald, «por pessoal da embaixada norte-americana». Funcionários do aeroporto disseram ao jornal que os homens se encontravam muito à vontade e esperaram pelo voo na sala VIP do salão diplomático. Um dos dois sérvios, acrescenta o Herald, inicialmente não foi autorizado a embarcar pela imigração haitiana, «por falta de selos mostrando onde reside». Alguns telefonemas depois, porém, foi dada a autorização de embarque.

Viajaram para os Estados Unidos, segundo o jornal de Miami, os ex-oficiais das forças especiais da Marinha (Navy Seals) Christopher Michael Osman e Christopher Mark McKinley, o ex-fuzileiro Kent Leland Kroeker, e os veteranos Dustin Porte e Talon Ray Burton. Os dois sérvios, segundo a mesma fonte, são Vlade Jankvic e Danilo Bajagic, um deles comprovadamente residindo nos EUA. O único dos homens que permanece detido é o haitiano Michael Estera, conhecido pelo pseudónimo de «Cliford», que está sujeito às leis do país. Os homens agora devolvidos aos EUA serão, alegadamente, investigados pelo FBI e, eventualmente, responderão perante as leis americanas.

«Ninguém quer prestar declarações oficiais sobre o caso», refere o Herald, acrescentado que «fontes a par das negociações» disseram que o governo dos EUA intervira, «exprimindo preocupações sobre a segurança dos membros do grupo», após o primeiro-ministro haitiano, Jean Henry Créant, ter dado uma entrevista à CNN em que os caracterizou como «mercenários» e «terroristas».

Estes receios são contraditórios com o facto de, tal como afirmou ao Herald o director executivo da ONG National Human Rights Defense Network, Pierre Espérance, terem sido os próprios EUA a, «desde 1995», gastarem «uma incontável soma de dinheiro» para reformar a Justiça no Haiti, «não só reformando o sistema judicial como o próprio código penal e o aparelho policial». Estes homens «pelo menos deveriam ter comparecido perante um juiz de instrução haitiano», disse.

O envio desta equipa carece ainda mais de justificação se se tiver em conta que o Haiti não dispõe de força militar autónoma. A sua segurança é garantida, até ao final de 2019, pela Missão das Nações Unidas para o Apoio à Justiça no Haiti (Mission des Nations Unies pour l’Appui à la Justice em Haïti, MINUJUSTH). Ora a direcção desta força é asegurada por Helen La Lime, alto funcionário do Departamento de Estado dos EUA com uma carreira diplomático-militar particularmente ligada a África, incluindo países considerados teatros de guerra, tendo sido, nomeadamente, chefe de missão no AFRICOM, o Comando Militar norte-americano para as suas missões no continente africano.

É bem provável, por isso, que aquele país pretenda, pura e simplesmente, terminar discretamente uma operação ilegal mal conduzida. Para este entendimento é significativo o facto de o nacional haitiano, anteriormente a viver nos EUA, ter sido deportado para o Haiti pouco antes deste acontecimento. A sua presença junto ao grupo armado faz crer que a deportação foi uma camuflagem para que pudesse preparar a chegada dos restantes operacionais.

Apanhados num controlo policial de rotina

Duas viaturas todo-o-terreno novas, deslocando-se sem matrículas, foram paradas no domingo passado, dia 16 de Fevereiro, na baixa de Porto Príncipe, capital do Haiti, durante um controlo policial de rotina destinado a proporcionar acalmia à cidade, após nove dias em que o país esteve praticamente paralisado por manifestações diárias contra o presidente Jovenel Moïse e o seu regime pró-americano.

No interior das viaturas, um Toyota Prado e uma Ford Pickup, ambas topo de gama, as forças da Polícia Nacional do Haiti (PNH) encontravam-se oito homens que se faziam acompanhar de um verdadeiro arsenal de guerra, incluindo espingardas de assalto, pistolas e drones profissionais.

Foram identificados cinco americanos, dois sérvios – um dos quais inicialmente apresentado à imprensa como russo – e um haitiano. O responsável pela detenção, Joel Casseus, chefe da esquadra da PNH de Porto Príncipe, afirmou ao Miami Herald, em entrevista prestada na segunda-feira, que os americanos se tinham recusado a explicar a sua conduta, alegando estarem em «missão governamental» – sem esclarecerem sequer se o «governo» para o qual eventualmente trabalhariam seria o haitiano ou o norte-americano.

Os detidos, que se mostraram confiantes na sua rápida libertação – «os nossos patrões vão telefonar aos vossos», terão dito –, terão sido apenas acusados de condução de veículos sem matrícula. Já o membro haitiano do grupo foi acusado de posse ilegal de armas e de outros crimes ao abrigo da legislação haitiana. O comportamento da PNH foi considerado «altamente profissional» por fontes locais.

Um país em revolta

Desde o dia 7 de Fevereiro que fortes mobilizações populares tomaram diariamente, durante 9 dias, as ruas do Haiti, em protesto contra as difíceis condições de vida e a miséria crescente da população, mas também contra a corrupção da elite política e a má gestão governamental de milhões de dólares do fundo de auxílio venezuelano PetroCaribe destinado ao Haiti. Os manifestantes exigem a demissão do presidente Jovenel Moïse.

As manifestações degeneraram frequentemente em confrontos com as forças policiais, destruição e pilhagem de estabelecimentos e viaturas, tendo sido registados uma dezena de mortos e uma centena de feridos, segundo fontes oficiais, e mais de 50 mortos e um número indeterminado de feridos, segundo a oposição.

O país encontra-se num estado de quase permanente revolta desde o ano passado, com protestos que tiveram o seu pico nos meses de Julho e Novembro, que na altura levaram à queda do primeiro-ministro em exercício. Agora é o presidente da República, acusado de corrupção e roubo de bens públicos, que os protestos visam.

O Haiti, encontrou-se mais uma vez intervencionado desde o terremoto que abalou e destruiu o país, em 2010. Apesar da «ajuda humanitária prestada» pela comunidade internacional e, sobretudo, pelos EUA (que chegaram a ocupar militarmente o país entre 1915 e 1934 e que, dos anos 50 aos anos 70, o fizeram por intermédio da família Duvalier), 60% da população continua a viver em estado de pobreza extrema, quase uma década após essa «intervenção humanitária».

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