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|Síria

Destacado cientista sírio assassinado à bomba

O director do principal centro de investigação sírio foi assassinado. Fontes próximas dos serviços secretos da região apontam o dedo a Israel, que não confirma mas «saúda a partida» do cientista.

O Primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu (D), e o ministro da Defesa, Avigdor Lieberman (E).
O Primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu (D), e o ministro da Defesa, Avigdor Lieberman (E). CréditosMenahem Kahana / Reuters

No sábado, dia 4 de Agosto, o Dr. Aziz Asbar1, director do Centro de Estudos e Pesquisas Científicas (CERS), foi assassinado através de um engenho explosivo que atingiu a sua viatura, perto da cidade de Masyaf, numa zona rural no Oeste da província de Hama – noticiou a 6 de Agosto a agência estatal SANA. O motorista da viatura também perdeu a vida, segundo o Al-Watan (Síria). O assassinato do Dr. Asbar é mais um dos crimes cometidos contra a Síria pelos seus inimigos, afirma a referida agência, apontando o dedo ao Estado de Israel e aos Estados Unidos da América (EUA) e lembrando que, por diversas vezes, o CERS foi alvo de ataques aéreos destes países «devido ao seu papel como uma instituição científica líder na Síria».

Os jihadistas das auto-denominadas Brigadas Abu Amara assumiram a responsabilidade da operação, segundo o Times of Israel, que adianta ter o grupo, anteriormente, «assumido ataques a oficiais e comandantes das milícias [pró-governamentais] em território controlado pelo governo». O grupo fora referenciado, em 2016, como estando a combater ao lado do Jabhat Fateh al-Sham e do Nour al-Din al-Zinki, ambos braços da Al-Qaeda, em Alepo. Há, no entanto, um pormenor intrigante nesta reivindicação. O Times of Israel cita a televisão israelita Hadashot como tendo sabido que a bomba «foi colocada no encosto de cabeça do assento da viatura». Ora o mesmo método «foi usado para assassinar» Imad Mughniyeh, dirigente do Hezbollah, morto no Líbano «numa operação conjunta israelo-americana, em 2008», adianta o jornal.

O dedo aponta para Israel

Aziz Asbar, um dos mais importantes cientistas sírios, estaria a preparar «um arsenal de mísseis», que poderiam ser dirigidos a alvos «a centenas de milhas» e atingi-los «com grande precisão» (pinpoint accuracy), escreveu o New York Times, acrescentando que o Dr. Asbar manteria relações estreitas e de alto nível com os governos sírio (com «livre acesso ao palácio presidencial») e iraniano («colaborando com o Maj. Gen. Qassim Suleimani», comandante da força iraniana de elite Quds), dirigiria uma «unidade de desenvolvimento de armamento altamente secreta», designada por «Sector 4», e encontra-se-ia a «trabalhar arduamente» para construir «uma fábrica subterrânea de armamento que substituísse a destruída por Israel» em 2017.

Aziz Asbar

O New York Times não hesita em designar o atentado como «aparentemente», perpetrado «pela Mossad, a agência de espionagem israelita», socorrendo-se de uma fonte altamente colocada num dos serviços secretos do Médio Oriente, o qual teria sido informado da operação. A referida fonte falou ao jornal, na condição de «anonimato», sobre a «altamente secreta» operação, confirmando que «há muito que a Mossad se encontrava na pista do Sr. Asbar». Uma segunda fonte do jornal, pró-síria, corroborou a tese, dizendo «acreditar que Israel queria abater o Sr. Asbar mesmo antes de começar o actual conflito», em 2011, devido ao seu «proeminente papel no programa de mísseis da Síria».

O Dr. Asbar estaria a preparar a produção dos novos mísseis de precisão «reconvertendo os pesados foguetões sírios SM600 Tishreen» e a trabalhar numa «fábrica de combustível sólido para os mísseis, uma alternativa mais segura do que o combustível líquido», reporta o New York Times.

Os reais motivos para os ataques israelitas e americanos

À luz destas informações, percebe-se a verdadeira razão por trás dos ataques aéreos israelitas às instalações do CERS em Masyaf, em 2017, alegadamente a pretexto de destruir o «arsenal químico» do regime sírio. A 7 de Setembro de 2017 jactos israelitas atacaram com mísseis as instalações do CERS em Masyaf, destruindo-as completamente e provocando dois mortos. Então, o Times of Israel veiculava «que a fábrica teria armazenadas armas químicas e mísseis» e acrescentava que o CERS era visto pelas governos ocidentais como «estando de há muito associados à produção de armas químicas».

O facto de a Síria ter garantido a destruição total dos seus stocks de armas químicas, sob pressão russa e mediante o controlo da OPAQ, era resolvido citando «uma fonte da oposição síria» que «disse ao jornal» não terem sido apresentadas [as armas em Masyaf] aos inspectores internacionais que tinham assegurado a sua destruição das armas. O mesmo jornal voltava a citar a oposição a propósito de uma alegada cooperação com especialistas iranianos «para desenvolver armas químicas para mísseis», em Masyaf.

Em Abril de 2017 a administração americana colocara sob sanções centenas de empregados do CERS, depois de ter responsabilizado as autoridades sírias por um alegado ataque químico na cidade de Khan Sheikhoun, que teria matado dezenas de civis, incluindo crianças. O governo sírio negou veementemente tal ataque mas o relatório das Nações Unidas afirmou haver «evidência clara de o regime estar por trás do ataque». Em 2016 empresas operando na Europa, que forneciam o CERS, foram colocadas pela administração Trump na lista de sanções. Repetia as sanções do seu antecessor, o presidente George W. Bush, que em 2005 afirmara que o CERS produzia – tal como o Iraque – armas de destruição massiva.

Cientistas sírios na mira de Israel

A SANA recorda que este não é o primeiro assassinato de destacados cientistas sírios, sejam levados a cabo directamente pelo Estado de Israel ou através dos terroristas seus intermediários. Desde 2012, quando se iniciaram fortes ofensivas «dos terroristas chamados de “rebeldes” pelo Ocidente», foram assassinados numerosos médicos, jornalistas, engenheiros e outros especialistas. O nome do Dr. Nabil Zougheib é destacado pela agência, pela sua ligação ao assassinato do Dr. Aziz Asbar.

O Dr. Zougheib, um especialista de mísseis com a patente de general de brigada, de convicção cristã, foi assassinado com a sua família em casa, num bairro cristão dos arredores de Damasco, em Julho de 2012. A sua morte, bem como a de outros proeminentes cristãos sírios, a destruição de numerosas igrejas e a perseguição das comunidades cristãs pelos terroristas, lançaram o medo sobre os então dois milhões de cristãos sírios que viviam na Síria2.

Em 2011 fora assassinado em al-Nezha, nos subúrbios da cidade de Homs, o jovem inventor Issa Aboud. À data da sua morte, com 27 anos, tinha registadas mais de 100 patentes. Participava regularmente na Basel Creativity and Inventions Exhibition, tendo aí obtido diversas medalhas de ouro e prata.

  • 1. O nome é grafado como Aziz Asbar (New York Times) ou Aziz Isber (SANA). Optámos pela primeira transcrição por ser a mais comum.
  • 2. «Syria’s Christians face uncertain future», em The National (UAE), 14 de Outubro de 2012. Para esse artigo o jornal entrevistou, em Miami, Nidal Kalach, um cidadão norte-americano originário da cidade cristã de Maaloula, na Síria, que expressou uma grande preocupação sobre o possível derrube do governo de Damasco. «A Síria cairá nas mãos dos extremistas. Ninguém protegerá os direitos dos cristãos» – anteviu, prevenindo que sem um regime secular («que protege os cristãos») a Síria tombaria no caos.

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