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|Um outro Mundial

De que falamos quando falamos de futebol

Fazendo um balanço da forma como se comunicou em Portugal ao longo deste Mundial 2022, entende-se aquilo que é o discurso dominante e o discurso mais presente. O futebol enquanto laboratório da maneira como se quer intervir na sociedade.

CréditosAntónio Cotrim / Lusa

Uma semana de preparação e um mês de competição. Está prestes a fechar-se a cortina sobre o Mundial 2022 e assim se pode fazer um balanço sobre a maneira como “falar de futebol” se tornou, ao longo destas semanas, num exercício com diferentes enquadramentos. Se, de uma forma geral, o tema futebol se impregna com imensa facilidade no dia-a-dia dos portugueses, acumulando grandes audiências nos meios audiovisuais e transformando-se em língua-franca para as conversas de café e de elevador, também é certo que o “falar de futebol” foi conquistando, ao longo dos anos, uma carga negativa que se associa, sobretudo, a certas vestes que este acontecimento pode tomar. 

Dessa maneira, o Mundial 2022 não se excluiu daquela que parece ser a atual “normalidade”. O foco nas situações de tensão e a criação de polémicas é, hoje, uma ferramenta à mão de quem procura alimentar audiências. Estando mais do que provado que os posicionamentos polarizados são aqueles que mais respostas geram nas redes sociais, essas opções também acabaram por conquistar parte do tempo de antena dos canais por cabo, onde são as questões mais polarizadas que ganham destaque. Ainda assim, se formos analisar a forma como se fala de futebol na televisão, na rádio e nos outros meios de comunicação portugueses, veremos que esse não será o tipo de conversa que ocupa mais espaço. Em diferentes canais tivemos, ao longo deste Mundial, possibilidade de escutar conversas sobre a forma como se joga, sobre a realidade do país onde a prova se realizava, sobre as histórias dos adeptos que vivem no Catar ou que até lá viajaram, entre outras tantas histórias. No entanto, apesar de ser essa a conversa a merecer mais tempo de antena, não é essa a conversa dominante. 

Talvez seja aqui que nos devemos focar. Ao nos afastarmos da análise dos dados concretos sobre o tema, acabamos por embarcar na facilidade com que somos tomados pelo pensamento dominante. Assim, em lugar de analisar o rendimento desportivo de Cristiano Ronaldo e o seu impacto na utilização como titular, parece ganhar mais peso a maneira como se tentam desenhar análises especulativas sobre os comportamentos do jogador. Em lugar de entender as questões criadas pela posição de Fernando Santos, ameaçado por temas externos ao seu trabalho, como o seu contrato, neste Mundial, toma-se com muito mais facilidade o tentar entender as suas ações através de preconceitos criados ao longo dos tempos. Os próprios atores influenciam essa presença de um tratamento mais especulativo de forma dominante. Vários jogadores e o próprio treinador se queixaram dos momentos negativos da conversa em volta da seleção sem que nenhum tenha dado o mínimo destaque a exemplos positivos que fomentam uma conversa mais profunda sobre o jogo e os acontecimentos. 

Vivemos tempos em que a informação se conjuga com o entretenimento, de uma forma profunda, na procura de conquista de atenção. A produção de imensos conteúdos leva a que, no entanto, as pessoas tenham cada vez menor capacidade para se focarem no entendimento de cada mensagem. Ganha assim muito maior importância a reflexão que podemos fazer sobre cada ação. Porque se, por vezes, oferecemos enorme peso a uma opinião ou a um trabalho partilhado nas redes sociais, a realidade é que qualquer dessas coisas só chega à maioria das pessoas como uma espécie de resumo, de flash, e não como algo completo. Nessa realidade, a procura de entendimentos mais profundos não perde espaço no território mediático, mas exige que novas formas de aí participar sejam levadas em linha de conta. O futebol é assim um laboratório, um campo que nos prepara para a intervenção noutras áreas da nossa sociedade. Assim o saibamos enquadrar. 

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