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Corpos de palestinianos entregues por Israel com marcas de «extracção de órgãos»

A denúncia foi feita esta semana pelo cirurgião britânico-palestiniano Ghassan Abu Sittah: os corpos de palestinianos devolvidos por Israel mostram sinais de colheita de órgãos, realizada com precisão.

O Ministério palestiniano da Saúde em Gaza recebe dezenas de corpos entregues pela ocupação sionista, a 15 de Outubro de 2025 Créditos / PressTV

Em declarações à Al Jazeera, esta semana, o cirurgião plástico deu a sua opinião profissional sobre fotografias que o canal árabe lhe mostrou. Trata-se de corpos de palestinianos que foram entregues pela ocupação ao Ministério palestiniano da Saúde.

«A primeira observação é que, em todos os corpos de onde foram colhidos ou retirados órgãos, se encontram aqueles que hoje são transplantados de forma rotineira: coração, pulmões, fígado, rins e córneas», disse Abu Sittah, que passou mais de um mês a trabalhar em hospitais de Gaza durante a guerra de extermínio.

O cirurgião plástico e reconstrutivo acrescentou que a precisão com que os órgãos foram removidos aponta para um trabalho profissional.

«O método de extracção consistia em cortar a caixa torácica e as costelas com uma serra afiada – uma serra cirúrgica, uma serra óssea – e levantar o esterno, juntamente com a parte central das costelas, para permitir a remoção do coração e dos pulmões sem danificar os órgãos retirados», afirmou, referindo que a pele de todas as vítimas parecia ter sido queimada por azoto líquido – um produto químico utilizado para preservar os tecidos.

«O ponto essencial é que não houve danos nos restantes órgãos, o que significa que a extracção foi realizada cirurgicamente por um cirurgião experiente», declarou, citado por The New Arab.

De forma arrepiante, Abu Sittah citou múltiplos depoimentos de testemunhas que afirmaram que as vítimas estavam vivas no momento da extracção.

Os corpos devolvidos por Israel eram de palestinianos raptados ou mortos pelas forças israelitas em Gaza. Os corpos foram entregues aos palestinianos no âmbito do acordo de cessar-fogo.

Em Outubro, indica a fonte, pelo menos 135 corpos foram devolvidos à Faixa de Gaza por Israel, apresentando sinais visíveis de mutilação e tortura, incluindo mãos atadas atrás das costas e cordas à volta do pescoço.

Logo em Dezembro de 2023 – dois meses após o início do genocídio israelita em Gaza – as autoridades palestinianas alertaram para a possível extracção de órgãos por parte de Israel.

Trabalhadores da saúde, cúmplices da tortura

Um artigo publicado na prestigiada revista médica British Medical Journal (BMJ) detalha vastas provas de tortura e tratamento desumano a palestinianos presos em centros de detenção israelitas desde 2023, incluindo acusações de cumplicidade por parte de profissionais de saúde israelitas.

O texto, escrito conjuntamente por quatro médicos e especialistas, aponta múltiplos casos documentados de violência física, psicológica e sexual contra presos palestinianos.

O relatório refere que «pelo menos 75 palestinianos – incluindo crianças – morreram ou foram mortos enquanto estavam detidos em centros de detenção israelitas desde Outubro de 2023», citando dados das Nações Unidas. Os sobreviventes detidos sem acusação descreveram «espancamentos repetidos e condições horríveis», de acordo com os autores.

Estes observam que a tortura a detidos palestinianos já foi reconhecida pelas autoridades israelitas no passado. O relatório cita uma constatação de que a tortura foi utilizada «sistematicamente» contra detidos palestinianos, fazendo referência a uma admissão do governo israelita previamente documentada pelo The Guardian.

Cumplicidade médica

O texto publicado na BMJ destaca testemunhos de ex-detidos e denunciantes israelitas que indicam que alguns profissionais de saúde israelitas facilitaram ou deixaram de impedir actos de tortura.

Numa série de depoimentos de denunciantes do centro de detenção de Sde Teiman, o texto cita um médico israelita que afirmou que os médicos foram instruídos para «não escrever os seus nomes em documentos oficiais» porque «as autoridades temiam que pudessem ser identificados e acusados ​​de crimes de guerra».

O relatório faz ainda referência a um documento do Ministério israelita da Saúde que afirmava que os detidos palestinianos que recebiam tratamento no centro deviam ser «vendados e algemados às camas».

A organização Physicians for Human Rights Israel é citada, descrevendo as condições em Sde Teiman como «um ponto baixo para a ética médica e o profissionalismo».

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