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Portugal dá «Aquele Abraço» a Gilberto Gil

Uma das maiores honras académicas para Gilberto Gil: a Universidade Nova atribuirá, em Outubro, o título de Doutor Honoris Causa ao grande compositor brasileiro.

Concerto de Gilberto Gil em Barcelona, a 21 de Julho de 2022 
Concerto de Gilberto Gil em Barcelona, a 21 de Julho de 2022 CréditosEnric Fontcuberta / EPA

Em todas as frentes, culturais e políticas, que o compositor encabeçou, ao longo dos seus 81 anos, Gilberto Gil posicionou-se sempre do lado certo – e com as pessoas certas. Foi resistente durante o sangrento período da ditadura militar, preso, perseguido, exilado em Londres (Aliás, a sua solar música «Aquele Abraço», que toda a gente entoa, esconde uma dolorosa vivência, a necessidade de se despedir do Rio de Janeiro e partir, em 1969). Figura central do tropicalismo, movimento político, filosófico e estético, que contestava os «Podres poderes», e tornou a MPB (Música Popular Brasileira) referência mundial, Gilberto Gil aventura-se com o mesmo à-vontade, na sua meia centena de discos, no rock, na pop, no samba, no reggae, no funk, até nas composições infantis (Sítio do Pica-Pau Amarelo, 1977).

Até no registo mais hippie, como a gloriosa digressão, em 1976, dos Doce Bárbaros, integrado pelo quarteto de baianos Gil, Caetano Veloso, Maria Bethânia e Gal Costa. Algumas das suas composições aludiam às suas origens baianas (nasceu em Salvador, em 26 de Junho de 1942, filho de um médico e de uma professora e formou-se em Administração de Empresas), como Ladeira da Preguiça (1973) ou Toda a Menina Baiana (1979).

Compôs para, e com, o Prémio Camões Chico Buarque. A parceria Cálice (1973), canção- símbolo contra a repressão, construída com alegorias, conotações bíblicas transfiguradas em duplos sentidos, nomeadamente a semelhança fonética de Cálice sagrado, na oralidade brasileira, com o «cale-se» da Censura, foi vítima desse mesmo silenciamento e desligados os microfones quando eles a cantavam. Em 1980, Chico e outros músicos brasileiros puderam entoá-la em alto e bom som, e muita emotividade perante o mar de gente, no famoso concerto da Festa do Avante!, então no Alto da Ajuda. Também Copo Vazio (1974) que ofereceu a Chico está impregnada de melancolia e referências não explícitas à ditadura: «É sempre bom lembrar que um copo vazio está cheio de ar». 

A sua carreira valeu-lhe prémios internacionais, como Grammy Awards e Grammy latino. Mas para a Ordem nacional do Mérito do governo francês ou a nomeação Artista pela Paz, pela Unesco ou embaixador da ONU terá contribuído o seu posicionamento e activismo político. Ministro da Cultura do Brasil nos dois primeiros mandatos do Presidente Lula, Gil foi signatário do famoso manifesto anti-Bolsonaro, tornando-se membro da Academia das Letras brasileiras, em 2021.   

Aproveitando a digressão europeia e familiar «Aquele Abraço» de Gilberto Gil (com dois dos filhos e netos), que celebra 60 anos de carreira, e culmina em finais de Outubro nos coliseus de Lisboa e Porto, a Universidade Nova de Lisboa atribuirá o título Honoris Causa, «pela sua extraordinária contribuição para a cultura internacional e pelo legado que deixa ao longo de várias décadas». A cerimónia ocorrerá a 31 de Outubro, mas a partir de dia 22, a Universidade evocará o percurso do compositor, em múltiplas iniciativas e concertos com Júlio Resende, António Zambujo e José Miguel Wisni, «para fazer ecoar a obra de Gil e reflectir sobre ela a partir da Universidade como espaço de interrogação». 

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