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O Museu de Arte Contemporânea

Os museus de arte contemporânea não são apenas espaços «guardiões da memória» mas também «produtores» da experiência estética. O Museu do Chiado e o MUSEU do CAPC Coimbra.

Rui Macedo, Instalação site-specific no MNAC, Pintura-Retrato#3 (A partir de Miguel Ângelo Lupi, Retrato do poeta Raimundo Bulhão Pato, 1880-82), 2019, óleo sobre tela e óleo sobre madeira + molduras variáveis
Rui Macedo, Instalação site-specific no MNAC, Pintura-Retrato#3 (A partir de Miguel Ângelo Lupi, Retrato do poeta Raimundo Bulhão Pato, 1880-82), 2019, óleo sobre tela e óleo sobre madeira + molduras variáveis CréditosFrancisco Palma

O Museu do Chiado – Museu Nacional de Arte Contemporânea (MNAC)1 é uma instituição pertencente ao Estado português e situada em Lisboa, fundada em 1911 e tutelada pela Direcção-Geral do Património Cultural (DGPC). Este museu possui uma colecção de Arte Portuguesa, de 1850 à actualidade, que inclui pintura, escultura, desenho, vídeo, fotografia e instalação.  Ao longo da sua existência foi palco de inúmeras insuficiências que chegaram a levar ao seu encerramento em 1987, sendo depois reaberto após as obras realizadas em consequência do incêndio do Chiado em 1988, e tendo finalmente sido ampliado com a ligação ao ex-Governo Civil em 2015. Quanto ao papel a ser desempenhado pelo MNAC, sobre o mesmo se conheceram também, conforme o parecer dos diferentes responsáveis, diferentes perspectivas, algumas delas assumidas pelos titulares do Ministério da Cultura ou da DGPC, outras pela direcção ou ainda pelas diversas curadorias do museu, perspectivas essas que nos últimos anos têm sido acarinhadas por alguns, não deixando contudo de serem polémicas e acusadas, por outros, de se ter vindo a privilegiar quase em exclusivo as exposições temporárias de artistas portugueses emergentes e artistas internacionais, valorizando alguns dos núcleos da colecção histórica em detrimento de outros, principalmente os que pertencem ao final do séc. XIX.

A questão que se tem vindo a colocar, quanto à programação no Museu do Chiado, é precisamente qual a programação possível para uma das poucas colecções de arte contemporânea do Estado português2 que tem como principal missão guardar a memória artística: como se divulga os seus artistas, quais as possíveis narrativas criadas com as suas obras e que outros olhares serão possíveis sobre a própria colecção, qual o seu papel na relação do público com as obras, com a crítica, com a história de arte, assim como qual a relação que a colecção deve ter, ou não, com outros espaços exteriores ao do museu.

Rui Macedo, Instalação site-specific no MNAC, Pintura-Embalagem#12(A partir de Dórdio Gomes, Éguas de Manada), 2019, óleo e acrílico sobre madeira, 175x122cm. Instalada no chão, junto a uma obra de Amadeo de Souza Cardoso (Cabeça, 1913–1915, Óleo sobre cartão, 19 × 17 cm) CréditosFrancisco Palma /

Quanto a um novo posicionamento sobre as possíveis actividades de uma instituição museológica contemporânea, tem sido afirmado já desde a década de 70 do séc. XX por Szeemann e ainda mais recentemente por Hubert Damisch, a possibilidade de os museus se assumirem, não apenas como espaços «guardiões da memória» mas também como «produtores» de experiência estética, em que «uma obra tem todos os sentidos que se queira e toda uma história que lhe pode ser atribuída»3, lembrando-nos ainda, nessa entrevista, a frase de Lévi-Strauss em que este afirmava que «o que me interessa não é o que as coisas, as obras representam, mas o que elas transformam».

Mais de duas dezenas de pinturas foram realizadas exclusivamente para a intervenção artística «(In)Dispensável ou A Pintura que inquieta a colecção do museu» de Rui Macedo, título irónico de uma exposição-intervenção que poderá ser visitada até 29 de Setembro no Museu do Chiado. Este poderia ser o título de um manifesto em que o diálogo e a interpelação a algumas obras do museu parece ser o principal objectivo, no entanto, no momento imediato, essa mesma instalação assume-se também como uma prática provocatória, interpelando o espaço do museu e os limites da criação contemporânea, da pintura e da montagem, assim como o discurso museológico. Segundo a curadora, Emília Ferreira, há muito que Rui Macedo interroga esses mesmos limites, referindo que «este é um processo recorrente na obra deste artista que se compraz na criação de múltiplos, de heterónimos pictóricos, revisitando os seus mestres, e apropriando-se do seu modo de ver. E é assim que, nesta sua instalação pictórica, avançamos pelas salas do museu, interpelando Miguel Ângelo Lupi, Columbano e Artur Loureiro»4 e ainda «evocações em torno de um dos mestres preferidos do pintor: Jorge Pinheiro».

«Nenhuma exposição é inocente, porém a exposição na exposição é, deve ser, a menos inocente de todas: invade, acrescenta e transforma», escreveu José-Luís Porfírio5, referindo ainda que, no caso desta intervenção, a exposição do MNAC recebe a entrada de «um ou mais corpos estranhos vindos de outros lados do espaço, invadindo uma estabilidade fundada tantas vezes numa narrativa real ou aparente; tal invasão perturba e destabiliza. Consumada essa invasão, nada permanece na mesma… a exposição inicial fica acrescentada na capacidade de atrair o nosso olhar obrigando-o a inventar-se novamente como inaugural»6.

MUSEU, Francisco Tropa, 2001. Construído e instalado em 2015, na Praça Cortes de Coimbra, junto à ponte de Santa Clara em Coimbra Créditos

A exposição de Rui Macedo tem ainda pinturas-embalagens com referências ou a partir de obras de António Carneiro, Carlos Botelho, Vieira da Silva, Lino António, Sarah Afonso, Mily Possoz e António Quadros, obras que pertencem à colecção Calouste Gulbenkian, ou de Abel Manta da colecção Grão Vasco, ou ainda de Dórdio Gomes da colecção do MNAC, como «proposta ampliada face à que é, actualmente, apresentada»7.

O Círculo de Artes Plásticas de Coimbra (CAPC), fundado em 1958, por um grupo de jovens estudantes da academia de Coimbra, dos quais se destacam Emílio Rui Vilar e Mário Silva, é uma associação cultural sem fins lucrativos, dedicada à promoção da arte contemporânea. O CAPC é uma referência das vanguardas artísticas portuguesas das décadas 70, 80, 90 até à contemporaneidade. Actualmente, o CAPC funciona em dois núcleos, o Círculo Sede e o Círculo Sereia. Além das diversas exposições de arte contemporânea organiza colóquios, conferências, debates e programas de cinema e vídeo, organizando também, em parceria com a Câmara Municipal de Coimbra e a Universidade de Coimbra, o Anozero: Bienal de Arte Contemporânea de Coimbra, que decorreu pela primeira vez em 2015.

Pormenor da Exposição «Memoriae-Objetos» de Mário Mendes e Pedro Carvalho de Ferro no MUSEU/CAPC Coimbra Créditos

O CAPC organiza ainda diversas actividades artísticas no MUSEU8.  O MUSEU é uma obra de arte experimental, concebido e projectado pelo artista Francisco Tropa em 2001 e construído em Novembro de 2015 para a edição inaugural do Anozero — Bienal de Arte Contemporânea de Coimbra. O MUSEU é uma experiência artística que questiona a ideia que temos acerca do que é um museu e apresenta-se como «um edifício rectangular com duas entradas que permitem atravessá-lo na sua largura. De ambos os lados do percurso, duas vitrinas permitem ver duas salas, apenas com acesso pela cobertura». No espaço MUSEU podemos agora visitar duas exposições, «Memoriae/Objetos», respectivamente de Mário Mendes e Pedro Carvalho de Ferro9, até 30 de Setembro.

Memoriae é apresentada pelo autor como «uma exposição que utiliza dois objetos significativos dos meus antepassados, uma esfera em calcário (elemento ornamental/arquitetónico da casa dos meus avós) e um brinquedo antigo (tartaruga em plástico da década de 1960)».

Quanto à exposição Objectos, Pedro Carvalho de Ferro diz-nos que os objectos expostos «pertencem a uma esfera privada, originalmente dispostos em frente a livros numa estante que vai sendo povoada de objectos, num gesto contínuo e desprovido de qualquer sentido, além de uma ocupação do espaço encontrado livre».

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