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|Festa do Avante!

Música clássica volta ao palco da Festa do Avante!

O AbrilAbril conversou com Madalena Santos, da direcção da Festa do Avante!, sobre o regresso do concerto de música clássica ao palco 25 de Abril, que este ano é dedicado ao centenário do PCP.

CréditosEgídio Santos

AbrilAbril (AA): Teremos de novo música clássica, depois de um ano em que esta tradição foi interrompida pelas condicionantes da pandemia de Covid-19. É um concerto adiado ou é um programa totalmente novo?

Madalena Santos (MS): Este concerto foi integral e especialmente pensado para a comemoração do 100.º aniversário do PCP. E isso pode ser reconhecido, desde logo, no próprio lema do concerto: «A revolução na arte e a arte na revolução». 

No ano passado, a Comissão de Espectáculos da Festa do Avante! tinha de facto pensado e terminado a concepção de um programa em torno de um concerto de comemoração dos 250 anos do nascimento de Beethoven, mas por razões que se prendem com a pandemia e as recomendações de distanciamento entre músicos, não foi possível, nem era prudente, avançar com a ideia de ter em palco uma orquestra sinfónica.

De alguma forma, este ano, ao incluirmos no programa dos primeiros andamentos de três sinfonias de Beethoven (da Sinfonia n.º 3, da Sinfonia n.º 5 e da Sinfonia n.º 7), pretendemos explicitar e fundamentar, tal como referido num dos textos que integram o suplemento do jornal Avante! sobre o concerto, que Beethoven também deve ser considerado um revolucionário no seu tempo. 

Mas o cerne principal do programa é a comemoração do 100.º aniversário do PCP. E isso está bem presente em diversos aspectos. Desde logo, na escolha das canções da Comuna de Paris, uma vez que se comemora também este ano o seu 150.º aniversário. Também nas canções seleccionadas de Hanns Eisler – compositor ainda muito desconhecido entre nós – com um concerto que pode contribuir para a divulgação da sua obra e, sobretudo, dar a conhecer também o seu compromisso entre a criação artística e a transformação da vida. E finalmente em três das Canções Heróicas de Lopes-Graça, autor que também sempre assumiu com determinação a sua arte como um compromisso com a luta do povo e das classes oprimidas.

Nessa linha, fizemos ainda um convite a três jovens compositores portugueses para conceberem arranjos para essas canções da Comuna de Paris, de Eisler e de Lopes-Graça, que fossem pensadas para a voz da mezzo-soprano Cátia Moreso.

Finalmente, a celebração do aniversário do PCP expressa-se ainda na peça final de encerramento do concerto, a «Abertura Clássica sobre um tema popular português, Op. 87», de Vitorino d’ Almeida, que é um trabalho sobre a «Carvalhesa» e cuja última actualização feita pelo autor do arranjo de 1991 será pela primeira vez tocada na Festa. 

Achamos, por isso, que este concerto é a melhor forma que encontrámos para celebrar o 100.º aniversário de um Partido que lutou, luta e continuará a lutar pela transformação da sociedade e que sempre assumiu a defesa da total liberdade criativa na arte e o direito do artista em ser um agente transformador da vida, como aliás está  conceptualizado no ensaio de Álvaro Cunhal A Arte, o Artista e a Sociedade.

AA: Na Festa há música de intervenção e de luta em todos os palcos. O concerto de música clássica talvez seja o menos associado à intervenção política mas este ano a coincidência é total.

MS: Eu não estaria muito de acordo com a ideia de que o concerto de música clássica, assim designado, seja o menos associado à intervenção política.

Se considerarmos todos os concertos de música clássica realizados na Festa, verificamos que todos eles, sem excepção, têm um lema, pretendem assumir e defender uma ideia. Três exemplos: «Concerto sinfónico para um glorioso aniversário - 40 anos de Festa do Avante!» (2016); «Concerto Sinfónico em louvor do Homem - a música sinfónica na celebração do II centenário do Nascimento de Karl Marx» (2018); aquando da realização da Grande Gala de Ópera (2009) o texto explicativo do concerto referia: «Tomando como princípio de que a presença da Arte concorre para a elevação intelectual do ser humano, bem como para a melhoria da sua qualidade de vida (...)».

AA: Três jovens músicos a pensar o programa é uma forma de aproximar a juventude a este espectáculo?

MS: Pretende ser muito mais do que isso, até porque não estou muito ciente de que os jovens se afastam da música clássica. Essa seria uma discussão muito interessante para podermos ter no que ao interesse dos jovens diz respeito, em particular na dita tipologia da música. O convite feito a estes três jovens compositores, Ana Seara, Carlos Garcia e Filipe Melo, que se assumem hoje com um papel muito interventivo no panorama da criação artística musical em Portugal, é também um reconhecimento desta sua intervenção.

É que todos eles apresentam um curriculum multifacetado, de colaboração com vários projectos em áreas até muito diversas e que vão para além da música dita clássica, ou mesmo do jazz. Todos eles têm recebido inúmeros prémios e reconhecimento nacionais e internacionais, estão ligados ao ensino da música, dominam linguagens artísticas muito diversificadas (como é por exemplo o caso de Filipe Melo com a sua ligação ao cinema, à televisão, à BD, e à literatura).

AA: E o que vem de novo sobre a «Carvalhesa»?

MS:  Bom, a «Carvalhesa» não é só o hino da Festa do Avante! como alguns já lhe chamam. A «Carvalhesa», como sabemos, surgiu de uma necessidade objectiva de criação de um tema musical para a campanha eleitoral da CDU em 1985.

Desde logo, pensou-se na escolha de um tema popular que pudesse ser transformado e adaptado por diversos artistas convidados a elaborarem distintos formatos (Música Popular Portuguesa, rock, jazz, fusão e clássica). E essa escolha recaiu sobre um tema popular recolhido por Michel Giacometti na aldeia de Tuiselo (Bragança). A versão mais insistentemente tocada, logo a mais reconhecida por todos, é de facto a versão MPP da qual os visitantes da Festa se apropriaram de tal forma que elaboraram até uma coreografia específica, que passou a ser dançada em todas as aberturas e encerramentos dos Palcos da Festa.

A versão clássica, da autoria do Maestro Vitorino d'Almeida, ou para sermos mais precisos, «Abertura Clássica sobre um tema popular português, Op. 87 (1991)», tem merecido do seu autor uma atenção muito especial, dado que desde 1991, quando se gravou a primeira versão, a tem modificado e aperfeiçoado. A versão que este ano ouviremos na Festa terá essas novidades e recriações. Não há Festa sem «Carvalhesa» e portanto, esta seria a forma mais espectacular e gloriosa de terminarmos este concerto comemorativo dos 100 anos do PCP.

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