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Mais um centro do mundo: a Feira do Livro (mas não só)

Sugestões de músicas, teatro, colóquios, festivais de BD e poesia e… livros, livros, livros. Para os belos dias de Junho que aí estão.

CréditosCelestino Manuel / CC BY 2.0

Feira do Livro de Lisboa

O centro do mundo, desta feita, só pode deslocar-se para Lisboa e para a sua insubstituível Feira do Livro (1 a 18 de Junho, Parque Eduardo VII), oportunidade única de ter diante dos olhos a maior parte da actual produção editorial portuguesa, mas também muitos e muitos fundos, incluindo os aguardados saldos. E incluindo a produção dos pequenos editores ditos independentes e do esperadíssimo livro usado (sem dúvida que a possibilidade de o ver em larga quantidade e de o adquirir constitui um dos encantos desta Feira). Ah, e não se esqueça das revistas culturais, tão necessárias.

Dê por exemplo um salto ao stand da Editorial Avante! e consulte a Vértice, O Professor, a Poder Local. Mais do que nunca, importa preservar e apoiar estas revistas! Divulgá-las, criar círculos de debate em torno delas. Depois, encontra lá também colecções tão relevantes como a Biblioteca do Marxismo-Leninismo ou as obras escolhidas de Lénine (ainda não se esqueceu que estamos em 2017, pois não?; sim, foi há um século!) ou de Álvaro Cunhal, para não falar dos inesquecíveis romances e contos de Soeiro Pereira Gomes ou da desafiante obra poética completa de Manuel Gusmão, a par de muitos outros títulos de interesse e da maior actualidade.

Acredite, leitor, se é de fora da capital, vale a pena a deslocação de um dia a Lisboa, só para visitar a Feira e aproveitar as oportunidades que o esperam (além de contemplar os jacarandás floridos, é claro). Mais para o final deste roteiro, deixar-lhe-ei algumas sugestões muito, muito, muito (sim, três vezes!) pessoais. Por isso, valem elas o que valho eu e o meu gosto, no estádio actual da sua evolução. A propósito desta expressão, vem-me à mente um precioso artigo sobre educação literária do grande Óscar Lopes, incluído no seu precioso livro Modo de Ler – Crítica e Interpretação Literária / 2 (2.ª ed. rev., Inova, 1972) – se conseguir arranjar, usado, este título na Feira, merece um doce. Leia tudo e aconselhe-o aos actuais docentes de Português e de Literatura, quer no básico e secundário, quer nas instituições de formação de professores do ensino superior, onde – não em todas, é claro – se vêm fazendo impunes barbaridades em matéria de formação literária.

O corte de horas e de unidades curriculares é uma delas. E isto numa altura em que tanto se fala na urgência de dar novo fôlego à formação de leitores, tendo em conta recentes e preocupantes diagnósticos, por exemplo sobre os problemas da aprendizagem da leitura e do desenvolvimento da competência leitora e da competência literária.

Defender a literatura

Sim, leitor, hoje em dia, e por estranho que lhe possa parecer, a literatura precisa de recursos financeiros para ser defendida, e precisa, naturalmente, de quem a defenda, e bem (alô, sr.ª nova Comissária do Plano Nacional de Leitura, Dr.ª Teresa Calçada, alô, sr. Ministro da Educação, alô, sr. Ministro da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior…). A criação literária clássica e contemporânea precisa de quem a defenda, a começar pela escola (todos os níveis de ensino) e a acabar nas Bibliotecas da Rede Pública e nas Escolares, passando pelo próprio ensino superior politécnico (sobretudo) e pelo universitário. E já nem me refiro aqui ao que (não) deviam fazer os grandes grupos editoriais, que em Portugal são fundamentalmente dois.

«Literatura é tudo e nada. Por vezes o tudo ou nada. Destruição de mundos, construção de mundos, reconstrução de mundos, doença e lenitivo.»

Há meses, numa entrevista, o poeta galego Ramiro Torres fazia-me a pergunta fatal: «Que é para ti a literatura?». Como não sabia responder devidamente, apesar de ensinar literatura há cerca de quatro décadas, dei uma resposta eivada de subjectividade: «Literatura é tudo e nada. Por vezes o tudo ou nada. Destruição de mundos, construção de mundos, reconstrução de mundos, doença e lenitivo. É compromisso com o tempo (o do escritor), mas também alternativa ao aqui e agora. Evasão, revelação e conhecimento, literatura é o que se faz com palavras, não com ideias ou sentimentos. E é resguardo e reinvenção dessas palavras, antídoto contra o seu desgaste diário. É minúcia e torrente. Música verbal, arte e anti-arte, e linguagem saturada de ritmos e de sentido. É uma expressão cuja utilidade assenta na sua inutilidade. Na literatura existe muito de música, de pintura, de escultura e de arquitectura… Transpondo para este campo o que Pessoa escreveu sobre o mito, literatura é o nada que é tudo.»

Por tudo isto, leitor, o aconselho a ir à Feira e a encher o saco de romances, novelas, contos, poesia, textos dramáticos, ensaios, literatura para a infância e a juventude (não, não apenas para os seus filhos ou netos e sobrinhos, para si também!).

Ramiro Torres perguntava-me ainda: «Que caminhos (estéticos, de comunicação das obras e d@s escritor@s com a sociedade, etc.) estimas interessantes para a criação literária hoje?»

Respondi-lhe: «Sou muito crítico em relação ao excesso de festivais literários, em Portugal. Acho que servem para pouco e têm sido um exemplo crescente de mercantilização e instrumentalização da actividade literária e cultural. Reconheço, por outro lado, que as experiências de “poetry slam”, na sua especificidade, ou as sessões individuais de leitura oral, por escritores, em pequenos espaços, livrarias, galerias e bibliotecas, sessões essas seguidas de debates, podem ser actividades mais produtivas, no sentido de elevar o grau de comunicabilidade da literatura e de promover a leitura literária (…). Destaco também os bons espectáculos teatrais construídos em torno da palavra poética, por exemplo os do grupo português Andante – Associação Artística. São exemplos conseguidos de promoção da palavra literária que vão para lá do livro e que os jovens, por exemplo, podem apreciar.»

E disse ainda: «Já num outro plano, incomoda-me, em alguma escrita contemporânea, a ausência de compromisso do autor com o seu tempo. Choca-me o carácter quase inofensivo, do ponto de vista sociocultural, de muita dessa escrita (egocêntrica em excesso). É uma tendência que gostaria de ver alterada. E de assistir a eventos concretos em que ela fosse contrariada. Também é triste constatar que, em Portugal, a crítica literária divulgativa, nos media escritos e áudio-visuais, é chão que deu uvas. Praticamente deixou de existir. Daí que a história e a crítica literárias se encontrem, neste momento, acantonadas na esfera universitária e tenham como veículos preferenciais os “papers” em congressos e colóquios, além das revistas e volumes monográficos de natureza académica.»

Noutro ponto, acrescentei: apesar da vitalidade da literatura portuguesa contemporânea, «preocupa-me (…) certo divórcio entre criadores (…) e contexto sociopolítico (com honrosas excepções, claro), a própria desvalorização social da literatura e da leitura literária, bem como uma espécie de conformismo um tanto oportunista e um individualismo feroz que alastram, como uma doença, no meio literário.»

Uma antologia de poesia brasileira

Esta mesma impressão me assaltou ao ler, recentemente, É agora como nunca: antologia incompleta da poesia contemporânea brasileira (Cotovia, 2017), organizada por Adriana Calcanhoto (intérprete e compositora brasileira que muito prezo, actualmente «visiting artist» na Universidade de Coimbra). Tive no entanto a incómoda sensação do fosso entre o Brasil de hoje, com a sua luta de classes ao rubro (Dilma na presidência e depois o golpe de Temer e dos seus apoiantes), e aquilo que esta escrita vem exprimir (quase todos poetas nascidos nas décadas de 70 a 90).

A sensação é que se tratava de poesia produzida num Brasil que não é o da maioria do seu povo, não obstante o óbvio interesse de alguns idiolectos (como o de Gregorio Duvivier [n. 1986]). Não por caso, destaco, por exemplo, um cortante e belo poema sem título de Julia de Souza (n. 1986): «Deitada na cama / Olhos no teto mudo / Não temo o silêncio / Não temo o escuro / Mas a bomba, mãe / A bomba» (p. 24).

Não sei, pois, se recomende muito a antologia a quem tenha os tostões contados. Pela minha parte, prefiro ir à procura de outros poetas brasileiros, que os há, e que não figuram nesta escolha. Vozes em que possa encontrar imagens outras, menos a-coçar-para-dentro, do Brasil de hoje.

Um colóquio: como é viver na Palestina hoje?

E é a propósito do poema de Julia de Souza que venho deixar outra sugestão: ir até ao Colóquio «Viver na Palestina após 50 anos de colonização», na Voz do Operário, dia 6 de Junho, pelas 18h.

A organização é do MPPM (Movimento pelos Direitos do Povo Palestino e pela Paz no Médio Oriente). Cito o texto de divulgação: «Como é a vida quotidiana na Palestina ocupada e colonizada por Israel há meio século? Em 5 de Junho de 1967, com o falso pretexto de que as forças árabes estacionadas junto das suas fronteiras constituíam uma ameaça à sua segurança, Israel, com forças manifestamente superiores, invadiu o Egipto, a Síria e a Jordânia dando início à Guerra Israelo-Árabe que ficou, também, conhecida como Guerra dos Seis Dias. A vasta população de refugiados árabes foi aumentada com mais 300 000 palestinos e 100 000 sírios. O cessar-fogo assinado em 11 de Junho não pôs termo à ocupação, por Israel, da Faixa de Gaza e da Península do Sinai, tomadas ao Egipto, da Cisjordânia e de Jerusalém Oriental, administradas pela Jordânia, e dos Montes Golã, conquistados à Síria. Destes territórios, tomados por Israel pela força das armas, apenas a Península do Sinai foi devolvida ao Egipto em 1982. Nos territórios palestinos ocupados desde 1967, Israel tem procedido à pilhagem de recursos naturais, apropriação ou destruição de casas e terras, e construção de colonatos, concretizando uma política de colonização, contrária ao Direito Internacional e inúmeras vezes condenada em instâncias internacionais, de que o Muro do Apartheid é a face mais visível.»

Terá, leitor, neste colóquio, oportunidade de ouvir testemunhos do que é viver na Palestina ocupada: por Adriana Mabília, jornalista brasileira que visitou a Palestina e relatou a sua experiência no livro Viagem à Palestina: Uma prisão a céu aberto; por Fernando Quaresma, estudante que participou como voluntário num campo de trabalho em Nablus. Quanto à contextualização histórica e política, dela se encarregarão José Goulão, colunista do AbrilAbril, e Carlos Almeida, historiador e vice-presidente do MPPM.

Três sugestões musicais

Annette Peacock – a 7 de Junho, na Casa da Música, no Porto. Subscrevo as palavras da apresentação: a «vocalista, multi-instrumentista e compositora (…) continua, ainda hoje, a sua busca por territórios inexplorados. Reconhecida também pelo uso pioneiro de sintetizadores, é uma figura lendária da música experimental, da electrónica (…) e das franjas mais exploratórias do jazz, tendo durante a sua carreira juntado forças com nomes como Paul Bley, Mick Ronson, Chris Spedding, Bill Bruford e até com o surrealista Salvador Dalí».

Elza Soares – a grande cantora popular brasileira estará, a 10 de Junho, no NOS Primavera Sound, mas irá actuar, também, no Coliseu de Lisboa, aonde levará a sua Mulher do Fim do Mundo, no dia 3 de junho. Uma voz cujo grão não nos larga.

Patxi Andión, com o espectáculo «Zeca no Coração» (tributo a José Afonso), estará a 2 de Junho no CCB (Lisboa), a 5 na Casa da Música (Porto) e a 28 (Évora).

BD em Beja

Começou a 26 de Maio e prolonga-se até 11 de Junho o Festival Internacional de Banda Desenhada de Beja – Comics' Festival. Tudo decorre no Centro Histórico da cidade e em especial no Largo do Museu Regional. Dezoito exposições, 10 países representados, da Argentina à Dinamarca, passando por Angola e pela Roménia… É proposta uma programação paralela diversificada: apresentações de projectos, conversas à volta da BD, lançamento de livros, sessões de autógrafos, workshops, concertos desenhados, etc. Há um Mercado do Livro e uma zona comercial com tendas instaladas. Um evento a não perder, no coração vermelho do Alentejo.

Dois festivais, no Porto e em Lousada: um de teatro, outro de poesia

Não se esqueça: este ano o FITEI (Festival Internacional de Teatro de Expressão Ibérica), do Porto, celebra a sua quadragésima edição. Consulte a magnífica programação, na qual – sinto-me bem a dizê-lo – ganha forte expressão a dimensão literária na sua relação quase umbilical com o teatro.

Nos próximos dias 6 e 7 de Junho, terça e quarta-feira, na Biblioteca Municipal de Lousada e noutros espaços desta vila do distrito do Porto, decorre o Festival Internacional de Poesia/Projeto Europeu e-Publisher. Participam no evento os poetas Laima Kreivyte (Lituânia), Ahmed Zaidan (Iraque) e Juha Kulmala (Finlândia), autor que vive em Turku, cidade-sede da organização deste projecto europeu que agrega várias cidades. O representante português é João Pedro Mésseder. Da Polónia haverá, em princípio, um quinto poeta, ainda não divulgado.

Coimbra: no Museu da Água, imagens e um livro que interpelam

Do mesmo autor português, é possível ler: «Sejam bem-vindos, irmãos, a estas areias cálidas, a este arame farpado, a estas coronhas, a estas rasteiras e pontapés», num dos pequenos fragmentos de Clube Mediterrâneo – doze fotogramas e uma devoração, obra em torno da tragédia dos migrantes e refugiados no Mediterrâneo, a apresentar a 3 de Junho, no Museu da Água, em Coimbra, pelas 19h.

Publicado pela Editora dos Tipos e pela Xerefé, o livro, com impressivas ilustrações de Ana Biscaia e concepção gráfica original e desafiante de Joana Monteiro (duas artistas premiadas), conta com o apoio da Semana Cultural da Universidade de Coimbra e é trilingue – português, francês e inglês. O designer João Bicker e o músico Luís Pedro Madeira apresentarão. Se puder apareça.

Livros a procurar na Feira de Lisboa (ou noutro local): Ovídio, Albano Martins e outros

Bom, leitor, já mencionei alguns livros, mas deixe-me perguntar-lhe se tem plena consciência do que tem sido, ao longo da sua vida de criador, o inestimável trabalho de Albano Martins como tradutor (poesia grega arcaica, Leopardi, Neruda, Mahmud Darwich, poetas italianos e espanhóis contemporâneos…)?

Pois bem, é este mesmo premiado tradutor quem agora nos oferece, com a chancela da Afrontamento, o belíssimo e elegíaco Poemas do Desterro (2017), de Ovídio, o poeta clássico latino que nasceu a 43 a.C. e morreu em Tomos (a actual Constança, na Roménia) no ano 17 d.C. Aí chegara o autor de Metamorfoses em 8 d.C., deportado por ordem do imperador Augusto, ignorando-se, até hoje, os reais motivos na origem de tal decisão. Esta tradução e respectivo enquadramento histórico-crítico apresentam-se como trabalho de rigor e minúcia, gesto de sólida cultura, aliado a uma sensibilidade e a uma intuição poética singulares.

Senhor de um vigor criativo que surpreende, Albano Martins (n. Fundão, 1930) propõe-nos, no entanto, um novo livro de poesia – assim o classificarei, não obstante a sua estrutura, algo como uma série de breves poemas em prosa, organizados pela ordem alfabética dos títulos, todos eles nominais.

Trata-se de Pequeno Dicionário Privativo seguido de Um Punhado de Areia (Afrontamento, 2017). Para mim, é uma das mais belas obras deste admirável poeta, enquadrável numa certa tradição, ou numa certa tendência de género, se se preferir (pese embora a radical singularidade de cada um dos volumes que apontarei); refiro-me aos dicionários ou elucidários poéticos, a que pertencem o Glossaire j’y serre mes gloses (1939), de Michel Leiris (1969), o Elucidario (1999), do galego Gonzalo Navaza, o Elucidário Oblíquo do Reino dos Bichos… (2004), de Augusto Baptista, Barbarismos (2014), de Andrés Neuman, o Dicionário do Menino Andersen (2015), de Gonçalo M. Tavares, o Devocionário da Terra que Francisco Duarte Mangas publica, desde 2016, no jornal on-line Correio do Porto, e vários outros títulos.

Um estudo mais sistemático deste género e afins deverá ter igualmente em conta obras algo aparentadas com as anteriores, embora diversas nas intenções e fortemente contaminadas pelo discurso ensaístico, tais como o Dictionnaire des Idées Reçues (1850-1880, publicado em 1913), de Gustave Flaubert, The Devil’s Dictionary (1911), de Ambrose Pierce, ou, já nos nossos dias, as experiências da Enciclopédia da Estória Universal, de Afonso Cruz (2009, data do primeiro volume da série), e, porventura, do Dicionário de Ideias Feitas em Literatura (2016), de José Gardeazabal. E assim acabo de lhe deixar, caro leitor, outras tantas sugestões de leitura.

Mas regresso ao «dicionário» de Albano Martins: o rigor da escrita aliado ao tom por vezes elegíaco (a roçar o travo amargo em certos textos ensombrados pela consciência da finitude), mas também a vibrante paixão pelo mundo, pela natureza, pelos lugares e objectos, pela música e por tantas outras coisas (incluindo a dimensão erótica) – são traços que nos movem e, por vezes, nos comovem, ainda que a escrita deste poeta seja invariavelmente marcada pela contensão e por outro gesto para o qual apenas guardo uma expressão, porventura pobre: a ideia do desenho, do recorte, da lapidação talvez, que, parece-me, se ajusta ao registo gnómico e à epifania por vezes colorida e cristalina, mas sempre discreta, aspectos a que não são alheias a tradição grega e a nipónica (tão marcantes, ambas, na poesia deste autor).

Deixe-me, ainda, sugerir, leitor, outro saboroso livro de duas dezenas de poemas sobre o Porto, seus lugares e seus tipos humanos, rico na observação, aqui e acolá de sentido crítico e humor indeclináveis, numa poetização temática e formalmente muito estruturada. É Porto de Honra (Crescente Branco, 2017), do poeta minhoto Vergílio Alberto Vieira, que se destaca também pelas sugestivas fotografias a preto e branco de Augusto Baptista.

Outras propostas poéticas: Siringe (Averno, 2017), de Rosa Maria Martelo, que reúne todos os seus volumes de poesia até ao momento; What’s in a Name (Assírio & Alvim, 2017), de Ana Luísa Amaral; e o belíssimo (de algum modo pungente, mas sempre rigoroso, vibrante e não raro irónico) A Sombra do Mar (Assírio & Alvim) de Armando Silva Carvalho (1938-2017) – livro premiadíssimo de um autor que no dia 1 partiu, deixando irremediável sensação de perda no mundo das letras.

Mais alguns títulos: Do Ínfimo (Coisas de Ler, 2017), de Maria João Cantinho; e dois outros títulos a (re)descobrir: A Pele das Sombras (Fonte da Palavra, 2011) e Para Guardar o Fogo: epitáfios (Página a Página, 2012), Prémio Literário Cidade de Almada, de 2009, ambos do ficcionista, crítico e poeta Domingos Lobo.

Na ficção de moldura romântica, não resisto a sugerir-lhe os Contos Musicais de Wackenroder, Kleist e Hoffmann (Antígona, 2016), cuidadíssima e rigorosa edição de cunho temático, com tradução e prefácio de Cláudia Fischer e posfácio de Mário Vieira de Carvalho, a atestar os fortíssimos laços que unem a literatura à arte musical. Imprescindível.

De um grande mestre, indiano, tem à sua disposição A Voz da Mãe Dava Sentido às Estrelas (Assírio & Alvim, 2017), do Nobel Rabindranath Tagore – narrativas breves que, na verdade, são autênticos poemas em prosa, em mais uma cuidada versão de Joaquim M. Palma (além de poeta, um nome que aos poucos se afirma como um dos nossos mais atentos e sensíveis orientalistas). Um segundo mestre é norte-americano: experimente o experimental O Quarto Enorme, ficção narrativa de implicação autobiográfica, do inconfundível poeta vanguardista e. e. cummings (assim mesmo, em minúsculas), difícil, laboriosa tradução de José Lima.

E que tal o regresso a um policial premiado? Sugiro: Condenada à Morte (Caminho, 1991), de Modesto Navarro. E porque não ler, do mesmo autor, de raiz transmontana, os contos de O Coração da Terra (Caminho, 2006)?

No domínio do livro para a infância, permito-me uma única sugestão: A Arca do É (ou a versão vegetariana da Arca de Noé) (Teorema, 2015), divertido livro de Ana Margarida de Carvalho com ilustração de Sérgio Marques.

Para o «grande final», retorno à poesia e deixo-lhe… o esplendor: da Língua, da inventividade formal e expressiva, da graça e do humor, do apuradíssimo e refinado sentido crítico, da verve surrealizante como sustentáculo de certeira reflexão sobre os modos de ser português.

Refiro-me a Poesias Completas & Dispersos (Assírio & Alvim, 2017) do incomparável Alexandre O’Neill (1924-1986), de facto já um clássico. Trata-se de uma edição indispensável, a cargo da sua arguta e rigorosa biógrafa e estudiosa, Maria Antónia Oliveira. Adquira-o, claro está, se a sua bolsa estiver recheada, porque o livro, uma autêntica bíblia poética de 744 páginas, é de um preço quase incomportável.

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