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2017, ano de viragem

Ao refletirmos sobre os acontecimentos que marcaram 2017, é inevitável eleger como acontecimento do ano a catástrofe dos incêndios florestais que nos passados meses de junho e outubro flagelaram um elevado número de municípios das regiões Centro e Norte de Portugal Continental.

Imagem de zona atingida pelo grande incêndio florestal de meados de Junho de 2017 na freguesia de Alvares, concelho de Góis (distrito de Coimbra)
Imagem de zona atingida pelo grande incêndio florestal de meados de Junho de 2017 na freguesia de Alvares, concelho de Góis (distrito de Coimbra)Créditos

Para este destaque contribuíram decisivamente as 111 vítimas mortais dos incêndios e as dramáticas circunstâncias em que perderam a vida. Avulta o elevado número de feridos, alguns muito graves, bem como a dimensão dos danos provocados, ao nível do território, do tecido económico e das infraestruturas. Finalmente, o impacto ambiental, económico e social da extensão de área de povoamentos e matos consumidos pelas chamas, que, segundo os valores oficiais, ascende aos 442 mil hectares.

O ano que agora termina registou outros acontecimentos, uns positivos e outros negativos, com maior ou menor impacto na vida dos portugueses. Porém, a trágica realidade vivida, com a ocorrência da referida catástrofe, vai permanecer por muito tempo na nossa memória coletiva como o momento em que concluímos pela fragilidade do sistema de proteção civil que o país possui, incapaz de evitar a morte de tanta gente, sem ter sido possível socorre-la em tempo útil.

Mas esta catástrofe revelou também outro tipo de fragilidades. Em primeiro lugar, a impreparação de muitos decisores de cargos políticos (governantes, autarcas e outros) para lidar com situações de crise. Em segundo lugar, a falta de uma cultura de planeamento de emergência, nos serviços da administração central e local, nas áreas afetadas. Em terceiro lugar, um ambiente mediático influenciado pela criação de notícias tipo reality show, explorando os dramas humanos até à exaustão e demitindo-se do escrutínio das causas dos mesmos. Finalmente, a fragilidade de uma população impreparada para agir na cadeia de socorro, como primeiro garante da sua própria segurança.

São lições dolorosas que este 2017 nos deixa. São marcas que (desta vez) talvez contribuam para que muita coisa mude, já no próximo ano.

Entretanto as mudanças que é desejável que aconteçam não podem circunscrever-se ao habitual recurso à mera identificação de «bode expiatórios», enquanto expediente de contenção de pressões mediáticas ou outras.

Neste momento estão constituídos como arguidos dois responsáveis operacionais do incêndio de Pedrogão Grande.

É injusto eleger duas pessoas como responsáveis pelas consequências do criminoso somatório de erros e omissões de muita gente, a vários níveis e ao longo de tantos anos, no domínio da falta de ordenamento florestal, despovoamento de vastas zonas do Interior, ausência de atempada avaliação do sistema de proteção civil e das suas estruturas, demissão cívica dos cidadãos e outras variáveis que nos conduziram à situação que vivemos. É preciso mais, muito mais, para garantir o essencial, isto é, que o país não possa viver de novo, por falta de preparação, a situação vivida em junho e outubro deste ano.

Chegados aqui, resta encarar os próximos 365 dias com um espírito renovado e com a esperança de que, nas várias dimensões da ação politica (central e local), 2018 seja um período de mudança, caracterizado pela adoção de políticas sólidas e coerentes, participadas e empenhadas, sem exclusões nem distinções, onde cada uma faça a sua parte, em prol de todos.

O autor escreve ao abrigo do Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa de 1990

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