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Iémen, um novo episódio do «caos construtivo»

A Sanaa e Teerão une-os o xiismo dentro do islamismo e, principalmente, o envolvimento activo, especial e sem vacilações na defesa dos direitos do povo palestiniano. É isso que o chamado «mundo ocidental» é incapaz de perdoar ao martirizado Iémen.

Créditos / Esquerda Diario

Num acto próprio de quem continua a achar-se proprietário do mundo, como se já vivêssemos no pretendido imperialismo global, os Estados Unidos, juntamente com o seu satélite britânico e a cumplicidade agressiva e xenófoba dos Estados europeus, lançou uma guerra de agressão contra o Iémen. Baseiam-se, para isso, numa resolução do Conselho de Segurança das Nações Unidas fabricada por encomenda, além de, ainda assim, extravasarem o seu conteúdo, uma vez que as normas internacionais vigentes não dão a qualquer Estado o direito de policiar a «liberdade de navegação» em qualquer lugar do planeta alegando que está em causa a sua segurança.

Depois da humilhante derrota – não assumida, mas real – na guerra do Afeganistão, a administração de Biden entra assim, simultaneamente, em mais duas guerras, somando-se às da Ucrânia, da Síria e do Iraque, em pleno período eleitoral nos Estados Unidos. Fuga para a frente dos neoconservadores fascistas que manipulam os cordelinhos movendo o presidente/candidato fantasma ou instauração da entropia absoluta nas relações internacionais para prolongar, em desespero, a decrépita «ordem internacional baseada em regras»?

As duas guerras em que os Estados Unidos e alguns satélites acabam de entrar como intervenientes directos são precisamente a do Iémen e a de Israel contra o povo palestiniano com epicentro em Gaza, na qual desempenhavam até agora os papéis de municiadores, financiadores, além de protectores diplomáticos e jurídicos do agressor.

Em relação ao desprotegido Iémen, praticamente entregue a si próprio e à convicção nacional milenar de não admitir ser derrotado, os Estados Unidos limitaram-se a transformar em guerra directa a agressão por procuração em que estavam envolvidos desde 2015, através dos exércitos e grupos de mercenários da Arábia Saudita e dos Emirados Árabes Unidos. Na verdade, os Estados Unidos, o Reino Unido e a França contribuíram generosamente para que as ditaduras sauditas e dos Emirados conduzissem essa guerra criminosa que criou no Iémen, segundo documentação e declarações abundantes das Nações Unidas, a «pior situação humanitária no mundo». Conhecendo nós o terrível estado em que o mundo se encontra para a maioria dos seres humanos que nele habitam, ficaremos com uma ideia, ainda assim muito pálida, da situação catastrófica em que os iemenitas procuram sobreviver.

«As duas guerras em que os Estados Unidos e alguns satélites acabam de entrar como intervenientes directos são precisamente a do Iémen e a de Israel contra o povo palestiniano com epicentro em Gaza, na qual desempenhavam até agora os papéis de municiadores, financiadores, além de protectores diplomáticos e jurídicos do agressor.»

Ao cabo de nove anos de agressão impiedosa, Riade e Abu Dhabi perceberam que não conseguiam vergar o Iémen, sobretudo a partir do momento em que, principalmente os sauditas, viram instalações petrolíferas e campos de petróleo em chamas, além de serem incapazes de garantir a segurança dos seus aeroportos, tudo isto por acção de artefactos de guerra, mísseis e drones, cada vez menos rudimentares, apesar de serem fabricados pelo próprio Iémen.

A  história do auxílio iraniano a Sanaa é um mero parafuso da brutal engrenagem de ataque ocidental permanente contra o Irão; e a equação houthis=Irão não passa de um descabelado exercício algébrico das transnacionais de propaganda. Os houthis não são o Iémen e vice-versa; trata-se apenas de uma tribo que conseguiu unir a esmagadora maioria das suas congéneres iemenitas num quadro de afirmação e defesa nacional contra as agressões estrangeiras. Acresce que a antiquíssima civilização do Iémen – que já o era um milénio antes do nascimento de Jesus Cristo – não se caracteriza pela existência de relações históricas especiais com os impérios persas e com o Irão de hoje.

A não ser por um curto período a seguir a 575 depois de Cristo, quando o império Sassânida transformou a região numa satrapia persa. Em 628 os nobres iranianos do Iémen estabeleceram uma aliança com o profeta Maomé, iniciando-se assim a actual era islâmica no país e cessou então, já lá vão 14 séculos, a influência directa persa.

A Sanaa e Teerão une-os o xiismo dentro do islamismo e, principalmente, o envolvimento activo, especial e sem vacilações na defesa dos direitos do povo palestiniano. Em boa verdade, é isso que o chamado «mundo ocidental», minado pelo cancerígeno carácter divino e supra-terrestre do terrorismo sionista, é incapaz de perdoar ao martirizado Iémen.

O pecado iemenita

As boas e virtuosas almas que, vestindo a «camisola ocidental» – como apregoou orgulhosamente ao seu convidado em estúdio uma «âncora» de uma emissão da lusa CNN –, nos explicam como devemos obrigatoriamente olhar o mundo, asseguram que os ataques em curso das forças militares norte-americanas e britânicas contra o Iémen são castigos merecidos pelo modo como o poder iemenita fiscaliza a navegação no Mar Vermelho e no Estreito de Bab-el-Mandeb.

As autoridades de Sanaa decidiram unilateralmente que devem vedar a passagem pelo estreito aos navios mercantes israelitas ou com conexões israelitas enquanto o Estado sionista não permitir a entrada de alimentos, água e medicamentos suficientes para atenuar o padecimento de uma população submetida, na Faixa de Gaza, a um dos mais amplos, generalizados e cruéis actos de tortura e extermínio da história moderna. Um genocídio, como prova o testemunho minuciosamente explícito apresentado pela África do Sul no Tribunal Internacional de Justiça perante uma contestação obscena, desumana, liminar e factualmente falsa de Israel.

«A  história do auxílio iraniano a Sanaa é um mero parafuso da brutal engrenagem de ataque ocidental permanente contra o Irão; e a equação houthis=Irão não passa de um descabelado exercício algébrico das transnacionais de propaganda.»

A atitude iemenita de solidariedade com a Palestina desrespeita o direito internacional em relação às normas em que deve processar-se a navegação civil? Sem dúvida. Mas o que têm a dizer tantas e boas almas ocidentais em relação às agressões da Arábia Saudita, dos Emirados Árabes Unidos, dos Estados Unidos, Reino Unido, França e alguns mais contra o indefeso Iémen? E em que capítulos do direito internacional encaixa o extermínio do povo palestiniano metodicamente em curso há 75 anos, praticado pelo Estado sionista com o apoio dos Estados Unidos e seus satélites da NATO e na Europa? Que alíneas do direito internacional outorgam a Washington o direito de policiar a liberdade de navegação em qualquer recanto do mundo para defender «a sua segurança e a dos aliados»? Estarão o colonialismo, o imperialismo, as guerras como instrumento único das relações internacionais, as limpezas étnicas e o extermínio massivo de seres humanos contemplados no direito internacional?

Não estão. Tais práticas ajustam-se, porém, à «ordem internacional baseada em regras», uma espécie de «direito ocidental» emanado de Washington, orientado por normas casuísticas e avulsas, variáveis a cada momento e conhecidas apenas pelos que as definem. O antigo presidente de um popular clube desportivo lusitano costumava dizer que «o que é verdade hoje pode já não o ser amanhã». Não é provável que Joseph Biden ou os que lhe mexem os cordelinhos conhecessem essa figura do universo do futebol doméstico; mas «a ordem internacional baseada em regras» não é mais do que isso, mudar as leis a meio do jogo, neste caso banindo o funcionamento do autêntico direito internacional.

«Em que capítulos do direito internacional encaixa o extermínio do povo palestiniano metodicamente em curso há 75 anos, praticado pelo Estado sionista com o apoio dos Estados Unidos e seus satélites da NATO e na Europa?»

A «ordem internacional baseada em regras» não é mais do que um sinónimo de colonialismo, imperialismo, de exercício do poder através da militarização e da guerra. Além de ser uma ferramenta indispensável da «democracia liberal» ou «democracia ocidental» que nos governa, proporcionando, aliás, situações e exemplos merecedores de reflexão. No Iémen, os cruzados ocidentais investem contra os amaldiçoados houthis, esses bárbaros que tudo fazem para ameaçar o nosso sossego, o bem-estar de que naturalmente deve usufruir, por direito inalienável, a «nossa civilização». E sabem os leitores qual é a principal organização que conduz a oposição armada interna contra os «houthis», entidade sintonizada com todos os agressores externos, logo empenhada na instauração da «democracia liberal» no país? Nada mais, nada menos do que a al-Qaida, esse omnipresente instrumento libertador ao serviço do Ocidente, sempre com um estatuto «moderado», seja no Iraque, na Síria, no Afeganistão, na Líbia, na África Central, enfim… no Iémen. A al-Qaida, grupo que, segundo Laurent Fabius, ex-ministro francês dos Negócios Estrangeiros, sionista e grande amigo de Israel, está «a fazer um bom trabalho», certamente como uma ramificação da NATO para o que der e vier em qualquer sítio do planeta.

A guerra pela guerra

Analistas militares e de inteligência norte-americanos que não alinham com o poder fascista neoconservador e bipartidário vigente em Washington interrogam-se ainda sobre os objectivos e a configuração desta guerra contra o Iémen assumida directamente pelos Estados Unidos. Uma agressão cara, duvidosa para o embaciado prestígio das forças armadas norte-americanas, a braços com a derrota na Ucrânia, e provavelmente inconsequente, uma vez que, segundo generais há bem pouco no activo, só é possível derrotar «os houthis», isto é, o Iémen, «pondo as botas no terreno», o que parece longe de vir a acontecer.

«E sabem os leitores qual é a principal organização que conduz a oposição armada interna contra os "houthis", entidade sintonizada com todos os agressores externos, logo empenhada na instauração da "democracia liberal" no país? Nada mais, nada menos do que a al-Qaida»

O governo iemenita conseguiu parte dos seus objectivos, perturbando de facto a circulação no estreito de Bab-el-Mandeb e paralisando o porto israelita de Eilat, atingido por vários mísseis. Por outro lado, nenhuma das acções realizadas até agora pelas forças militares imperialistas teve qualquer influência no foco do conflito, as águas do Mar Vermelho. Mesmo a tão celebrada destruição de um radar próximo de Sanaa, que teria supostamente um papel relevo na vigilância da navegação, foi uma espécie de vitória de Pirro pois as instalações estavam desactivadas desde a guerra imposta pela Arábia Saudita.

Além disso, os países do sul da Península Arábica receberam as acções norte-americanas com nulo entusiasmo e zero em participação, todos eles a contas com a dureza, a ineficácia e os prejuízos decorrentes da confrontação com o nacionalismo iemenita.

As forças armadas «houthis» são bastante móveis e ágeis, com as bases de lançamento de mísseis e drones em constante movimento num território que conhecem a palmo, desafiando a pesada estrutura agressora constituída por um porta-aviões e respectivo grupo de combate portadores de mísseis impróprios para lidar eficazmente com nuvens de drones de montagem mais ou menos doméstica. Num só dia de bombardeamentos, as tropas norte-americanas lançaram oito mísseis SAM-2, isto é, 16 milhões de dólares, para derrubar 14 drones iemenitas, avaliados seguramente em menos de 100 mil dólares. Além disso, os navios do grupo de combate do porta-aviões têm arsenais limitados, não podem reabastecer-se de armamento no mar; para o fazer terão de deslocar-se ao Bahrein ou ao Dubai, levando consigo o porta-aviões, que não poderá ficar desacompanhado. A semelhança desse movimento com uma retirada não favorecerá a imagem de arrogância e de capacidade punitiva que as tropas imperiais pretendem demonstrar com mais esta guerra.

Olhando através da história recente, a actual agressão militar norte-americana contra o Iémen, inserida numa mão cheia de guerras sem fim, pode, afinal, ser mais um episódio da aplicação da teoria do «caos construtivo» para «remodelar» o Médio Oriente, elaborada pelo filósofo  filonazi de origem alemã Leo Strauss, o pai ideológico da seita neoconservadora determinante em Washington. A antiga secretária de Estado Condolezza Rice, da administração de George W. Bush, recordou esse seu patrono em 2006 repescando uma das suas mais significativas (e actuais) citações programáticas durante uma conferência de imprensa com o primeiro-ministro de Israel, Ehud Olmert: «É nesta violência (na altura mais uma agressão israelita contra o Líbano) que os interesses imperiais dos Estados Unidos se confundem com os do Estado judaico».

Governar no caos, navegando à vista, legislando à la carte e pondo quotidianamente o mundo à beira do abismo é outra particularidade assustadora da «ordem internacional baseada em regras», mais uma razão para que a sua perigosa agonia se prolongue o menos possível.

A ignorância civilizada

Os martelados noticiários corporativos mais as torrentes de comentários e análises que lhes dão seguimento no fabrico da verdade pronta a engolir explicam-nos, mais coisa menos coisa, que os Estados Unidos foram castigar merecidamente uns bárbaros pouco menos do que analfabetos, uns terroristas maometanos (que outra coisa poderiam ser?), que, além de não aceitarem ser civilizados, ainda querem perturbar os nossos interesses e impedir a aplicação dos nossos direitos a governar o mundo.

Alguns comentadores e analistas ignorarão, outros nem tanto mas comportam-se como se assim fosse, que mais de um milénio antes de a «nossa civilização» gatinhar já os sabeus, antepassados dos iemenitas, eram personagens das crónicas assírias. E que a rainha Bilqis dos sabeus, a lendária rainha do Sabá, há quase três mil anos terá visitado em Jerusalém o rei Salomão, filho do rei David, levando preciosidades que então eram transportadas da Índia e do Extremo Oriente para os portos mediterrânicos e daí para todas as civilizações e regiões do universo do Mare Nostrum. Essas rotas comerciais, durante séculos os mais importantes movimentos comerciais transcontinentais, faziam-se em caravanas que tinham nos reinos do Iémen como Sabá, Qataban e Hidramaut os seus principais entrepostos antes de se aventurarem para norte bordejando os desertos arábicos e o Mar Vermelho em direcção a Alexandria, Gaza, o norte da Síria e daí para o Mediterrâneo.

A região hoje abrangida pelo Omã e o Iémen foi conhecida como a «Arábia Feliz», centro de uma actividade comercial febril e onde, durante séculos, não faltaram água e produções agrícolas variadas, em grande parte devido à irrigação proporcionada pela represa de Maarib e respectivos canais, uma gigantesca obra de engenharia graças à qual foi possível a formação e abastecimento de longas caravanas que, a partir do porto de Aden, no Estreito de Bab el-Mandeb, desafiavam os desertos em viagens de seis meses, com 56 paragens.

Incenso, mirra e outras resinas, abundantes sobretudo na região de Dhofar (actual Omã), sal, pedras preciosas, ouro, sedas, café, especiarias produziam-se ou circulavam através do Iémen, que por essas mercadorias cobrava enriquecedoras taxas. Do Iémen, dos seus povos precocemente sedentários e mercantis, emanaram as bases da cultura arábica e da sua riquíssima civilização. A mítica deslocação da rainha do Sabá a Jerusalém, no século X antes de Cristo, para se encontrar com o rei Salomão e lhe apresentar enigmas por ele facilmente resolvidos, é citada nos livros sagrados do judaísmo, do cristianismo, dos etíopes e no Corão, em cada caso com a sua versão e o seu contexto. Havia mundo, civilizações e culturas diversificadas, inovações, intercâmbios e comércio transcontinentais muito mais de mil anos antes de podermos falar da «nossa civilização». Por isso, é inevitável que a «nossa civilização» tenha raízes nesses padrões de vida, sabedoria, expressões culturais e relações humanas que floresceram e se respeitam no Iémen, terra de «bárbaros» que os rambos nascidos de uma cultura com 250 anos e raízes genocidas estão agora a tentar meter na ordem.

No Iémen ancestral afirmou-se igualmente a cultura himiarita, uma tribo de origem hebraica que chegou a ser dominante no país, no século II depois de Cristo. Esses judeus, porém, não cabem no sionismo de hoje. Arthur Rupin, a quem chamam o «segundo pai da instalação sionista» e que chefiou a colonização sionista da Palestina entre 1908 e 1930, desenvolveu este processo de acordo com uma estratificação xenófoba por ele engendrada e posta em prática, na qual os judeus iemenitas devem ser «limitados a empregos subalternos». Judeus de segunda, enfim, e que na escala da xenofobia sionista que enforma a sociedade de Israel apenas têm os judeus etíopes (falachas) abaixo deles. Estes eram simplesmente «para excluir», segundo a doutrina de Rupin, homenageado em selos e nomes de ruas através de Israel. Do seu interessante currículo consta a reunião que teve na cidade alemã de Iena, depois de Hitler ter subido ao poder, com o ideólogo nazi «das raças», Hans F.K. Gunther. Eventualmente, a sua estratificação xenófoba do sionismo bebeu nessa fonte, outorgando o topo da escala aos «judeus da Europa Oriental», os que, segundo postulou, correspondem ao conceito de «raça pura».

«Havia mundo, civilizações e culturas diversificadas, inovações, intercâmbios e comércio transcontinentais muito mais de mil anos antes de podermos falar da "nossa civilização".»

A componente sionista da «nossa civilização» contribuiu fortemente, como se percebe, para o carácter arrogante, colonialista e supremacista que são as marcas de água do Ocidente tal como hoje é entendido.

Não ignoremos, entretanto, que o comércio passando pelo Iémen mil anos antes de Cristo tinha igualmente como destino, além de Alexandria, o porto de Gaza, na terra sempre designada como Palestina. Telejornais, jornais de «referência», comentadores, analistas, historiadores encartados para moldar e perverter o regime em que vivemos podem soterrar e tentar apagar estas velharias, mas elas não desaparecem da herança dos povos apenas porque eles assim o estipulam. 

Esta ignorância, estas artimanhas imbecis mas manipuladoras e agressivas são parte integrante do culto da «ordem internacional baseada em regras», neste caso do «caos construtivo» para «remodelar» o Médio Oriente de acordo com os interesses imperiais, a arrogância colonial e supremacista. Mais de um milhão de iemenitas, entretanto, juntaram-se na capital, em Sanaa, para repudiar a agressão imperialista. Ou os houthis e o seu movimento Ansar Allah são muito mais fortes do que os pintam ou a consciência da nação iemenita, ainda que sofrendo uma ocupação militar em parte do sul do país, vai buscar as suas forças e disponibilidade não apenas à religião, como se pretende fazer crer, mas sobretudo a uma enraizada herança cultural, civilizacional e nacional que extravasa em muito os agrupamentos políticos, religiosos e militares dominantes – permitindo-lhe derrotar a Arábia Saudita e os Emirados Árabes Unidos como procuradores imperiais. O Iémen ainda é um país independente, coisa que alguns outros, todos no Ocidente, já se esqueceram de ser. Também por isso é um alvo a abater.

Nota de assassínio: O regime nazi de Kiev encabeçado por Volodymir Zelensky e os esbirros da administração de Joseph Biden assassinaram o jornalista Gonzalo Lira, com dupla nacionalidade chilena e norte-americana. Lira, um homem de formação conservadora sem deixar de ser, acima de tudo, um corajoso humanista, dedicou anos da sua vida a expor com factos sólidos e indesmentíveis a limpeza étnica da população russófona ucraniana desencadeada pelos grupos institucionais hitlerianos a partir da «revolução de Maidan» que, garantem-nos os gurus da propaganda, instaurou «a democracia» na Ucrânia.

Os vídeos de Gonzalo Lira emitidos a partir da cidade de Kharkov, ainda submetida ao nazismo ucraniano, eram libelos que desmontavam, passo-a-passo, a mentira de Kiev e dos países da NATO e da União Europeia; cada um deles, porém, soava como um marco num caminho de morte. Lira era um nome na lista de execuções a realizar pelo nazi-banderismo, designada Myrotvorets, que cinicamente se traduz por «pacificadora». Gonzalo Lira acabou por ser preso. Libertado episodicamente, tentou viajar para a Hungria, mas acabou por ser novamente detido. Morreu oficialmente de «pneumonia» depois da tortura e dos maus-tratos a que foi submetido. Zelensky, Biden, os dirigentes da NATO, da União Europeia e dos Estados-membros têm as mãos sujas do assassínio político do jornalista Gonzalo Lira, que se limitou a realizar corajosa e deontologicamente o seu trabalho.

Não consta que alguma organização de jornalistas do Ocidente e dos Estados onde vigora a «democracia liberal» e a «liberdade de imprensa» tenha pronunciado uma palavra de solidariedade com Lira e de repúdio pelo seu assassínio. Infelizmente não é de estranhar: dignidade, consciência, respeito pela profissão, a sua deontologia, a liberdade e o humanismo estão em vias de extinção no jornalismo inquisitorial da verdade e da opinião únicas. Salve Gonzalo Lira.

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