Ruas e praças cheias na Argentina, esta terça-feira, em defesa da universidade e do ensino público. Na Praça de Maio, Carlos de Feo, secretário-geral da Federação Nacional de Docentes Universitários, destacou precisamente os números da oposição às políticas de Milei: 800 mil na capital e mais de um milhão em todo o país.
«Estamos orgulhosos da nossa educação pública. Queremos um país com desenvolvimento, soberania e inclusão», disse, citado pelo Página 12, ao intervir no palco montado nas imediações da Casa Rosada.
«A universidade argentina soube sempre lutar ao lado do povo e dos seus trabalhadores. Mostrou-o dando a vida de milhares de estudantes, docentes e não docentes durante a noite negra da ditadura», afirmou, sublinhando que «essa universidade hoje está em perigo» e acusando o governo de Milei de querer celebrar um excedente orçamental gerado à base de pobreza, miséria e exclusão.
«Estamos decididos a levar esta luta para a frente. Não é a congelar os nossos salários e a reduzir os orçamentos que nos vão assustar», disse, acrescentando que a mobilização de ontem não era apenas pelo direito à universidade, mas também «para que o povo tenha direito a um futuro melhor, de soberania, com emprego, sem fome e sem exclusão».
Defender o direito a um ensino gratuito, de qualidade e federal
Perante as centenas de milhares de pessoas que se juntaram na Praça de Maio, a presidente da Federação Universitária Argentina, Piera Fernández, defendeu que o ensino público é a base da democracia e do desenvolvimento social.
Ao ler um documento elaborado pelas organizações convocantes, Fernández referiu-se aos cortes profundos sofridos pelas universidades argentinas em termos reais e disse que o aumento de 70% das verbas orçamentadas, no mês passado, juntamente com o anúncio de outros 70% constituem um aliciante, «embora insuficiente, na medida em que a inflação foi 300% no mesmo período».
Além disso, alertou que as obras que o Programa Nacional de Infra-estrutura Universitária possibilitava se encontram paradas, sem que haja certezas ou informação relativamente à sua continuidade.
Sem salários dignos, a universidade pública é inviável
A dirigente estudantil denunciou também que, nos últimos meses, o salário dos trabalhadores do sector perdeu 50% do seu poder de compra. «Uma deterioração salarial que se irmana com os demais sectores do mundo do trabalho», disse, acrescentando: «Isso leva-nos a retomar palavras de ordem de há mais de 20 anos: "Nenhum trabalhador das universidades nacionais abaixo da linha da pobreza!"»
Criticando as políticas de cortes promovidas pelo executivo de Milei, Fernández destacou que a educação é um direito humano fundamental e vincou a importância de manter as bolsas de estudo, que estão a ser reduzidas de forma alarmante.
«Não queremos que nos arrebatem os nossos sonhos: o nosso futuro não lhes pertence. Somos orgulhosos filhos da universidade argentina, pública, gratuita e sem restrições no ingresso, de excelência, com liberdade e equidade. Por isso, lutaremos, numa resistência democrática e luta pacífica irrenunciável, pela educação que queremos, pelo país com que sonhamos», acrescentou.
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