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O significado da obesidade no século XXI

É errado que se deixe à livre iniciativa dos mercados e à procura do lucro a solução dos problemas alimentares da Humanidade. Já o estamos a pagar demasiado caro e o processo está em rápido agravamento.

Com a globalização, generalizou-se a comida industrial, pré-cozinhada, uniformizada, «fast food»
Com a globalização, generalizou-se a comida industrial, pré-cozinhada, uniformizada, «fast food»CréditosBas Czerwinski/EPA / Agência Lusa

A obesidade é um dos principais problemas de Saúde Pública do mundo actual. Não se restringe apenas aos países ricos, nem sequer aos ricos dos países pobres… Paradoxalmente, coexiste com a fome, em alguns países menos desenvolvidos.

Associada a ela, vêm a diabetes, a hipertensão, a dislipidémia. Aumentam os enfartes agudos do miocárdio e os acidentes vasculares cerebrais. Desgastam-se as articulações e disparam as próteses da anca e do joelho. Agudizam-se os problemas psíquicos, numa sociedade em que a imagem é tão importante.

A obesidade pode ser o factor principal para, pela primeira vez, a esperança de vida nos EUA estar a regredir.

Mas hoje não é sobre os problemas de saúde em torno da obesidade que vos quero falar. Dei por mim a concluir que a análise da problemática da obesidade permite-nos entender melhor as disfunções da evolução da nossa sociedade. Deixo aqui uns tópicos para reflexão.

1. Tivemos capacidade para aumentar a produção de alimentos para responder às necessidades de uma população em grande expansão. Mas fizemo-lo à custa de transgénicos, de pesticidas, do uso intensivo de hormonas e de antibióticos.

2. Com a globalização, generalizou-se a comida industrial, pré-cozinhada, uniformizada, fast food. Aniquilou-se a cultura gastronómica de cada região. Sempre com refeições hipercalóricas e nutritivamente desequilibradas. Deseducou-se o gosto em alimentos naturais, ao mesmo tempo que se promoveu o vício em comida industrializada.

3. Impuseram-nos ritmos de vida, pela desregulação dos horários do emprego, pelas distâncias entre as residências e os locais de estudo ou de trabalho, que nos empurram para refeições rápidas fora de casa.

4. Foram reduzidos ou eliminados os refeitórios próprios de cada escola ou de cada instituição, concessionando as refeições a empresas que poupam uns cêntimos à custa de comida congelada, enlatada…

5. Proliferam as máquinas automáticas de refrigerantes, doces e chocolates nas escolas, hospitais e estações de transportes.

6. A publicidade é cada vez mais cativante, invadindo o nosso espaço, quase sempre para seduzir e manipular no consumo de bebidas e alimentos hipercalóricos, em especial dirigida ao público mais jovem, com os seus heróis ou brindes adicionados.

7. Foi reduzida e desvalorizada a prática de educação física nas escolas.

8. As novas tecnologias diminuem o esforço físico e mental, reduzindo os gastos energéticos e o tempo livre para brincar.

9. Desenvolvemos toda uma indústria (ginásios, clinicas de emagrecimento, medicamentos...) que encaixa perfeitamente nas indústrias que nos engordam . Sempre na busca do lucro.

10. Generalizou-se o uso de fármacos para corrigirem os desequilíbrios que advêm do descontrolo alimentar: «Hoje comi demasiado; tenho que tomar a pastilha.»

11. Disseminou-se o desperdício nos restaurantes, em casa, nos hipermercados (os prazos de validade de muitos alimentos levam à destruição de comida que é válida para ser usada).

Os exemplos são múltiplos, e a análise de cada um poderia ser muito mais aprofundada. Para nós, a conclusão é que este trajecto da sociedade é paradoxal e absurdo. O aumento da produção de comida mostrou que temos capacidade para sustentar o crescimento populacional, mas este modelo está a criar efeitos laterais devastadores, quer em termos ecológicos globais, quer em termos de desequilíbrio individual.

É errado que se deixe à livre iniciativa dos mercados e à procura do lucro a solução dos problemas alimentares da Humanidade. Já o estamos a pagar demasiado caro e o processo está em rápido agravamento.

A solução para este problema passa necessariamente por uma mudança profunda no modelo económico e social predominante.

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