|Síria

Turquia acusada de «empurrar» refugiados para a Europa

Refugiados sírios acusam as autoridades turcas de os ter desalojado de Istambul, onde viviam há mais de cinco anos, para os transportar para a fronteira, onde foram «empurrados» para o lado grego.

Um refugiado nada de volta para o lado turco depois de ficar preso por dois dias numa pequena ilha no rio Meric (Evros) para chegar à Europa, na fronteira turco-grega, em Edirne, Turquia, 1 Março de 2020. O governo turco anunciou a decisão de não continuar a impedir os refugiados de atravessarem a fronteira, depois de vários soldados turcos terem morrido em Idlib, na Síria, a 27 de Fevereiro, por se encontrarem entre fileiras terroristas.
Um refugiado nada de volta para o lado turco depois de ficar preso por dois dias numa pequena ilha no rio Meric (Evros) para chegar à Europa, na fronteira turco-grega, em Edirne, Turquia, 1 Março de 2020CréditosERDEM SAHIN / EPA

Refugiados sírios chegados hoje à povoação grega de Lamara, na fronteira com a Turquia, acusaram as autoridades deste país de os ter desalojado das casas onde viviam há mais de cinco anos, em Istambul, despojado de bens pessoais e forçado a passar para o lado grego.

O grupo, constituído por dez pessoas, incluindo dois recém-nascidos, foi interpelado pela polícia grega. Um deles, que foi identificado pela agência France-Presse (AFP) como Taisir, 23 anos, natural de Damasco, referiu que «ontem [segunda-feira], eles [os turcos] tiraram-nos das casas onde estávamos, tiraram-nos o dinheiro que tínhamos e os nossos telefones».

Acrescentou que em seguida foram transportados para o rio Evros, na fronteira grego-turca, onde foram «abandonados nas margens do rio» pelo exército turco e lhes foi dito: «vão-se embora».

A AFP refere que é impossível verificar de momento a versão deste grupo sírio encontrado na Grécia mas sublinha que os relatos são semelhantes a outros ocorridos na mesma zona.

Os refugiados como arma da guerra

O conhecimento destes factos lança uma luz diferente sobre as recentes declarações de Ancara de não ir «impedir a passagem» de refugiados para o espaço da União Europeia (UE), a pretexto da guerra na Síria.

Após esse anúncio, feito na semana passada, milhares de pessoas dirigiram-se para território grego, tendo as autoridades de Atenas usado medidas de força para repeli-los. De acordo com as Nações Unidas, no sábado cerca de 13 mil refugiados encontravam-se na fronteira entre a Turquia e a Grécia, aos quais, segundo a AFP, se juntaram mais dois mil no domingo.

Já na segunda-feira, a Turquia ameaçou que «milhares» de pessoas «vão entrar na Europa», tendo o Presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, pedido que esta «assuma a sua parte de responsabilidade» no acolhimento de migrantes e de refugiados «da Síria», na tentativa de obter mais apoio ocidental para o prosseguimento da sua ocupação militar ilegal de território sírio, directamente ou por intermédio de grupos jihadistas sob seu controlo político-militar.

A polícia grega confirma o aumento do fluxo de refugiados que chegam à zona de fronteira vindos da Turquia, indicando que tanto provêm da Síria como do Afeganistão, da Somália, do Paquistão e de Marrocos.

O desalojamento de refugiados há muito a viver na Turquia e o seu envio para a fronteira com a UE põe em causa a narrativa de Ancara de uma «onda de refugiados» causada pela evolução mais recente da ofensiva libertadora do EAS na província de Idlib.

Desde Agosto de 2019 que as forças de Damasco progridem no sul e no leste da província de Idlib, com o objectivo de a libertar do domínio do grupo terrorista Hayat Tahrir al-Sham (al-Qaeda).

Se no passado as autoridades turcas colocaram na frente de combate dezenas de milhar de jihadistas ao seu serviço no território sírio ocupado pela Turquia, a derrota desses combatentes e o contínuo avanço do EAS obrigou Ancara a colocar as suas tropas em apoio directo dos grupos terroristas, aproximando-as perigosamente da linha da frente.

Na semana passada tropas turcas foram atingidas e sofreram numerosas baixas, quando participavam, de forma encoberta, numa contra-ofensiva jihadista nas imediações da estratégica cidade de Saraqib, a 19 quilómetros a leste de Idlib.

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