Um homem e uma mulher foram atingidos a tiro, no acampamento Quilombo do Livramento Sítio Rancho Dantas, organizado pelo MST. O crime ocorreu por volta das 15h30 do último sábado, no município de Princesa Isabel, no Sertão da Paraíba.
«É com extrema indignação e exigindo justiça que o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) na Paraíba denuncia os assassinatos de Ana Paula Costa Silva e Aldecy Viturino Barros e pede celeridade nas investigações da polícia junto à Secretaria de Segurança Pública do Estado», afirma em nota o MST.
Março é mês de luta das Mulheres Sem Terra, que promovem acções de mobilização, protesto, solidariedade e formação em 24 estados brasileiros, em diálogo com a sociedade e em luta por direitos. Com o lema «O agronegócio lucra com a fome e a violência: por terra e democracia, mulheres em resistência!», as mulheres do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) realizam uma Jornada Nacional de Lutas com iniciativas em 24 estados do país sul-americano. As actividades previstas incluem caminhadas em vias públicas, plantio de árvores, formações, acampamentos pedagógicos e distribuição de alimentos agroecológicos. O principal período de mobilização é agora, de 6 a 8 de Março, para assinalar o Dia Internacional das Mulheres «em celebração e resistência», refere o MST no seu portal. De acordo com o texto divulgado pelo movimento, as mobilizações visam denunciar a «fome, a violência e a destruição da natureza, cruéis facetas do agro-golpe-tóxico-negócio no Brasil», e a escolha do lema partiu da compreensão colectiva de que «o capital no campo estabeleceu laços bem atados com o neofascismo, crescente na sociedade brasileira». «A denúncia também expõe uma das maiores contradições difundidas pelo agronegócio, que não produz alimentos para o país e sim lucro para uma elite agrária e empresas multinacionais», afirma o texto, acrescentando: «Enquanto cerca de 60% da população passa fome ou não têm alimentos suficientes para sua família, o sector bateu recordes de safra e exportações de suprimentos.» A Jornada Nacional de Lutas das Mulheres Sem Terra começou, na verdade, logo nas primeiras horas da madrugada de 1 de Março. Em Itaberaba, na Bahia, cerca de 120 mulheres do MST ocuparam um latifúndio abandonado, a Fazenda Santa Maria. Propriedade da família Baleeiro, a zona já foi ocupada por famílias camponesas entre 2015 e 2019, tendo sido palco de oito despejos – alguns violentos, indica o Brasil de Fato. A acção, que visa denunciar as políticas do «governo Bolsonaro em relação à economia, terra e agricultura», marcou o encerramento do 1.º Encontro Nacional de Mulheres do MST, na capital federal brasileira. Esta segunda-feira, as mulheres do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) ocuparam o Ministério da Agricultura, em Brasília. Segundo informação divulgada pelo MST, a mobilização contou com a participação de 3500 trabalhadoras de 24 estados brasileiros e integra a Jornada Nacional de Lutas das Mulheres Sem Terra – que tem expressão em vários pontos do país. «Enfurecidas, em luta, em defesa dos nossos territórios, da nossa biodiversidade, dos direitos conquistados pela classe trabalhadora, denunciamos a aliança mortífera e destrutiva entre o governo Bolsonaro e o capital internacional imperialista que tem produzido violência», gritaram as mulheres sem-terra ao ocuparem o edifício na Esplanada dos Ministérios. «O objectivo desta acção de ocupação é denunciar o projecto de morte que está por trás deste órgão federal. Hoje o Incra [Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária] está subordinado ao Ministério da Agricultura e este ministério é o maior responsável pelo envenenamento de toda a população brasileira. Os agrotóxicos estão a ser atirados para a mesa do povo e nós viemos aqui denunciar isso», explicou ao Brasil de Fato Kelly Mafort, da coordenação nacional do MST. De acordo com o Ministério da Agricultura, em 2019 foram autorizados 474 agrotóxicos, um número recorde nos últimos 15 anos. A acção de ocupação desta manhã insere-se na Jornada de Lutas das Mulheres Sem Terra e marcou o encerramento do 1.º Encontro Nacional de Mulheres do MST, que se realizou em Brasília desde dia 5 e no qual foram debatidas questões relacionadas com a terra e o «feminismo camponês e popular», e se promoveu a troca de experiências e o conhecimento da diversidade do país. A ocupação do Ministério da Agricultura «dá um recado para a sociedade de que nós temos que enfrentar esse governo e desgastar esta política, que é uma política de morte», destacou Mafort. O protesto de hoje em Brasília teve como um dos principais objectivos denunciar o desmantelamento da política de Reforma Agrária no país sul-americano. «Jair Bolsonaro trabalha contra os sem-terra e ao serviço dos latifundiários. A medida provisória 910 quer entregar mais de 70 milhões de hectares de terras públicas da União a empresas do agronegócio e do latifúndio», denuncia Mafort. A dirigente do MST afirmou ainda que «Jair Bolsonaro não quer que o povo do campo estude, não quer que o povo tenha terra», a propósito da extinção do Programa Nacional de Educação na Reforma Agrária (Pronera). O governo do actual presidente brasileiro «está determinado a privatizar as terras e a promover a devastação ambiental», afirma numa nota o MST, que acusa ainda o executivo de proceder a cortes avultados no investimento público, atingindo fortemente a população brasileira em áreas como o emprego, a habitação e a alimentação, de tal modo que o país voltou a entrar no «Mapa da Fome» da Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO). «O cenário que já deu errado lá fora encontra por aqui as mesmas justificações fantasiosas. É uma mentira essa ideia de que, se o governo gastar menos, o mercado terá mais confiança e tudo vai melhorar como um passe de mágica», explica o MST na nota enviada à imprensa. Desde há vários anos, o AbrilAbril assume diariamente o seu compromisso com a verdade, a justiça social, a solidariedade e a paz. O teu contributo vem reforçar o nosso projecto e consolidar a nossa presença. Centrada no «direito à terra e ao território» e apontando a reforma agrária e a agroecologia como contraponto à lógica do agronegócio, a luta das mulheres do campo articula-se, em simultâneo, com as restantes organizações feministas de movimentos do campo popular, que celebram as muitas conquistas das mulheres nos últimos séculos e, explica o MST, denunciam igualmente «os graves problemas de género que persistem no país e em todo o mundo». Neste sentido, a Jornada será também ocasião para denunciar «as diversas formas de violências patriarcal e racial, que têm atingido as pessoas em condições de vulnerabilidade e feito vítimas em nossas áreas», afirmam as Mulheres Sem Terra, que anunciam a sua disposição «para construir relações humanas emancipadas, livres de todas as formas de violência». Desde há vários anos, o AbrilAbril assume diariamente o seu compromisso com a verdade, a justiça social, a solidariedade e a paz. 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Mulheres Sem Terra mobilizam-se contra o agronegócio, a fome e as violências
Reforma agrária e outras exigências das mulheres do campo
Internacional|
Mulheres do MST ocuparam o Ministério da Agricultura em Brasília
Ataques à Reforma Agrária, privatizações, desinvestimento público
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Ana Paula Costa Silva era acampada, tinha 29 anos e três filhos. Aldecy Viturino Barros, com 44 anos e dois filhos, era o coordenador do acampamento. De acordo com o testemunho de moradores, os criminosos disseram que o coordenador tinha de assinar um documento.
Foram encontrar Aldecy a arranjar o telhado da casa de Ana Paula, em cima de uma escada. Antes que pudesse descer, efectuaram vários disparos contra ele, que teve morte imediata. Ana Paula, atingida também no ataque, ainda foi levada para um hospital, mas não resistiu.
O caso está sob investigação da Polícia Civil da Paraíba e o MST exige o apuramento cabal dos factos, assim como a prisão dos criminosos.
«Enquanto movimento, reafirmamos a nossa luta contra toda forma de violência. Aos nossos mortos nenhum segundo de silêncio, mas uma vida toda de luta», lê-se na nota.
Assassinato em Pernambuco
No domingo anterior, dia 5, Josimar da Silva Pereira, agricultor, acampado e membro do MST, foi assassinado na cidade de Vitória de Santo Antão (estado de Pernambuco), onde morava.
O camponês, de 30 anos, foi atingido a tiro na nuca e nas costas quando se dirigia de moto para o Acampamento Francisco de Assis, onde trabalhava na irrigação do plantio de arroz orgânico.
Embora a autoria e a motivação do assassinato sejam desconhecidas, sabe-se que Josimar participava na luta pela desapropriação do Engenho São Francisco, onde o acampamento está localizado há 29 anos, sendo uma das ocupações mais antigas do MST no estado nordestino.
A longa disputa pela área fez com que o caso entrasse na Comissão de Conflitos Agrários do estado de Pernambuco antes ainda do assassinato de Josimar.
Segundo indica o MST, a coordenação do acampamento está a ser «acompanhada pelo programa estadual de protecção e defesa de defensores dos direitos humanos, devido às graves violações de direitos que estão ocorrendo na área».
Para o movimento, assiste-se no momento a uma escalada da violência ruralista «contra acampados e assentados em todos os estados brasileiros», o que se deve à inacção do Estado e à falta de cumprimento da lei da reforma agrária.
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