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|Imperialismo

NATO prepara guerra contra o cérebro humano

«A guerra cognitiva tem um alcance universal, desde os indivíduos, os Estados e organizações multinacionais. O seu campo de acção é global e pretende assumir o controlo do ser humano».

Créditos / NATO

Terra, mar, ar, espaço e cibernético – os cinco domínios operacionais definidos pela NATO para as conflagrações de âmbito global. A aliança, porém, está a apetrechar-se num novo campo de batalha, o sexto: o «domínio humano», o único «que pode determinar a vitória final completa», segundo um relatório produzido em 2020 dentro da envolvente atlantista.

Trata-se da «guerra cognitiva», a maneira de usar «as ciências do cérebro como arma», de travar «um combate contra o nosso processador individual, o nosso cérebro», define o autor do trabalho, o ex-militar francês François de Clouzel, chefe do Centro de Inovação da NATO (iHub), a funcionar em Norfolk, Virgínia, Estados Unidos. Ou ainda, dito de outra forma, o objectivo é «hackear» (piratear) o indivíduo explorando as vulnerabilidades do cérebro humano, proporcionando «uma engenharia social» mais sofisticada.

Para que não haja dúvidas sobre o carácter fascista, orwelliano, doentio dos planos da aliança guerreira, retenhamos as palavras de Marie-Pierre Raymond, tenente-coronel canadiana, proferidas durante uma conferência realizada em 5 de Outubro sob o patrocínio do governo do Canadá: «guerra cognitiva é a forma mais avançada de manipulação vista até hoje»; e «a rápida evolução das neurociências é uma ferramenta de guerra».

O ponto da situação do projecto será feito em 30 de Novembro no Canadá, durante o habitual «Desafio de Inovação Outono» da NATO e que tem como tema deste ano «A ameaça invisível: ferramentas para combater a guerra cognitiva».

O título escolhido é, como se percebe, um exercício semântico típico do léxico da NATO. Apresenta o novo campo de batalha para transformar os seres humanos em marionetas como um «exercício defensivo» porque não será mais do que uma resposta às práticas de condicionamento humano já praticadas pelos «inimigos» da «civilização ocidental», a Rússia e a China, como será fácil deduzir.

Porém, numa confissão absolutamente rara, a aliança reconhece que o projecto prevê igualmente tácticas ofensivas porque o factor «humano é muitas vezes a principal vulnerabilidade, o que deve ser reconhecido de modo a proteger o capital humano da NATO mas também para tirar partido das vulnerabilidades dos nossos adversários», sublinha o documento encomendado pela aliança através do Comando Aliado da Transformação (ACT).

Uma «guerra global»

«O cérebro será o campo de batalha do séc. XXI» e «os seres humanos são o domínio em disputa», define o documento atlantista. François de Clouzel, o seu autor, explicou durante a reunião promotora do «Desafio de Inovação de Outono», realizada igualmente no Canadá, que «a guerra cognitiva tem um alcance universal, desde os indivíduos, os Estados e organizações multinacionais (...) O seu campo de acção é global e pretende assumir o controlo do ser humano, tanto civil como militar».

«Isto é, os cidadãos, sobretudo os que não pensam como a NATO exige, no exterior ou no interior da organização, não são pessoas que expressam as suas próprias opiniões mas sim agentes inimigos, uma situação que impõe o controlo sobre toda a população.»

Caem por terra os argumentos que apresentam a «guerra cognitiva» como uma acção contra adversários e inimigos, ficando claro que se trata de operação de domínio imperial que não salvaguarda, sequer, as populações dos 30 Estados membros da Aliança Atlântica. «A militarização da ciência do cérebro é a militarização de todos os aspectos da sociedade, desde as relações sociais mais íntimas à própria mente» porque, segundo o documento atlantista, «existe uma quinta coluna instalada onde todos, sem o seu conhecimento, estão a comportar-se de acordo com os planos dos nossos concorrentes».

Isto é, os cidadãos, sobretudo os que não pensam como a NATO exige, no exterior ou no interior da organização, não são pessoas que expressam as suas próprias opiniões mas sim agentes inimigos, uma situação que impõe o controlo sobre toda a população. «A guerra cognitiva», pode ler-se no documento sobre «o domínio humano», «não é apenas uma luta contra o que pensam as pessoas mas sim uma luta contra a maneira como pensam» e, por isso, «vai muito além da guerra de informação ou das operações psicológicas (Psyops)».

A nova forma de guerra da NATO «é a arte de usar tecnologias para alterar a cognição dos alvos humanos». Essas tecnologias «incorporam NBIC – nanotecnologia, biotecnologia, tecnologia de informação e ciências cognitivas» e, como admite François de Clouzel, constituem «um cocktail muito perigoso que pode manipular ainda mais o cérebro».

Na sua exposição feita em 5 de Outubro no Canadá, significativamente intitulada «Guerra cognitiva – uma batalha pelos cérebros», François de Clouzel explica que as operações a desenvolver «não são apenas acções contra o que pensamos, mas também acções contra a maneira como pensamos, a maneira como processamos a informação e a transformamos em conhecimento. Por outras palavras, a guerra cognitiva não é apenas mais uma expressão ou outro nome para a guerra de informação: é uma guerra contra o nosso processador individual, o nosso cérebro».

Como funciona?

Fazendo das experiências nazis em seres humanos uns prosaicos exercícios de amadores, as teses de Clouzel a rogo do Comando Aliado da Transformação da Aliança Atlântica não deixa neurónio sobre neurónio nos nossos cérebros e não hesita em devassar todos os sinais das nossas vidas.

«Tudo começa com hiperconectividade», explicou o chefe do Centro de Inovação da NATO na sua exposição no Canadá. «Toda a gente tem telemóvel. Começa com informação porque a informação é, por assim dizer, o combustível da guerra cognitiva. Mas vai muito além da informação, que é uma operação autónoma (...) A guerra cognitiva sobrepõe-se ao BigTech (grandes centros tecnológicos) e à vigilância em massa porque trata-se de alavancar o BigData (grandes centros de recolha e processamento universal de dados). Produzimos dados onde quer que vamos, a cada minuto, a cada segundo em que estamos online. É extremamente fácil aproveitar esses dados para conhecer melhor cada pessoa e usar esse conhecimento para alterar a maneira como pensa».

Segundo Clouzel, «qualquer utilizador de tecnologia de informação moderna é um alvo potencial. A guerra cognitiva tem como alvo todo o capital humano de uma nação». O objectivo dessa forma de combate, acrescenta, «é atacar as sociedades, não apenas os militares».

Numa apresentação divulgada para promover o «Desafio de Inovação» de 30 de Novembro, o governo do Canadá avança na materialização desta ideia considerando que «ataques contra o domínio cognitivo envolvem a integração de capacidades cibernéticas, de informação/desinformação, psicológicas e de engenharia social».

« A guerra cognitiva sobrepõe-se ao BigTech (grandes centros tecnológicos) e à vigilância em massa porque trata-se de alavancar o BigData (grandes centros de recolha e processamento universal de dados). Produzimos dados onde quer que vamos, a cada minuto, a cada segundo em que estamos online. É extremamente fácil aproveitar esses dados para conhecer melhor cada pessoa e usar esse conhecimento para alterar a maneira como pensa».»

François de Clouzel

Esqueçamos, entretanto, todos os rituais das guerras convencionais através dos quais, em determinadas fases dos conflitos, havia compromissos estabelecidos entre as partes para os interromper transitoriamente, suspender ou concluir.

«A guerra cognitiva é potencialmente infinita», estabelece o documento encomendado pela NATO. «Não pode haver tratados de paz ou rendições para este tipo de conflito. O campo de batalha é global, via internet. Sem princípio nem fim, esse combate não conhece tréguas, pontuado por notificações dos nossos smartphones, em qualquer lugar, 24 horas por dia, sete dias por semana».

Ainda no documento pode ler-se que «o conceito moderno de guerra não é sobre armas mas sobre influência (...) A vitória a longo prazo será exclusivamente dependente da capacidade de influenciar, afectar, alterar ou ter impacto sobre o domínio cognitivo».

O estudo patrocinado pela NATO não esconde a envolvente imperial para domínio global e globalista através do estabelecimento do controlo político na esteira da conquista militar.

«A guerra cognitiva pode muito bem ser o elemento que faltava para permitir a transição da vitória militar no campo de batalha para o êxito político duradouro. O domínio humano pode muito bem ser o domínio decisivo (...) Os cinco primeiros domínios podem dar vitórias tácticas e operacionais mas apenas o domínio humano pode alcançar a vitória final completa».

Não se trata, como se vê, de um assunto estritamente militar mas de uma questão geral de consolidação do poder em todas as suas vertentes. Lê-se no relatório atlantista que, «além da potencial execução de uma guerra cognitiva para complementar um conflito militar, também pode ser conduzida de forma isolada, sem qualquer vínculo com o envolvimento das forças armadas». Pelo que o controlo dos cérebros dos cidadãos serve, naturalmente, fins políticos e sociais.

Como declarou Robert Baines, organizador e supervisor da reunião organizada em 5 de Outubro pelo Canadá, no âmbito de uma organização não governamental (ONG) patrocinada pela NATO, «a guerra cognitiva é um novo domínio de competição onde actores estatais e não-estatais pretendem influenciar como as pessoas pensam e como agem», o que representa também «grandes oportunidades para as empresas». Business as usual, os negócios do costume.

Efeitos pretendidos

Já se percebeu que o resultado ideal da guerra contra os cérebros que a NATO desenvolve será o controlo total sobre amplos sectores populacionais tanto dos inimigos como dos aliados.

O documento publicado pelo governo do Canadá para promover o «Desafio de Inovação de Outono» da NATO considera que um dos objectivos da guerra cognitiva em termos de massas é «semear discórdias, instigar narrativas de conflitos, polarizar opiniões, radicalizar grupos. A guerra cognitiva pode motivar as pessoas a agir de maneiras que podem perturbar e fragmentar uma sociedade coesa».

O documento de Clouzel, salienta, por seu lado, que «o armamento directo das neurociências e da neurotecnologia» pode permitir, por exemplo, casos de influência global como desenvolver «ou mitigar a agressão, promover cognições e emoções de adesão ou passividade, induzir morbidade, incapacidade ou sofrimento, "neutralizar" potenciais opositores ou incorrer em mortalidade». Por outras palavras, pode induzir como uma sociedade se comporta consoante as necessidades militares e os interesses que servem – sem excluir os assassínios.

«O documento publicado pelo governo do Canadá para promover o «Desafio de Inovação de Outono» da NATO considera que um dos objectivos da guerra cognitiva em termos de massas é «semear discórdias, instigar narrativas de conflitos, polarizar opiniões, radicalizar grupos. A guerra cognitiva pode motivar as pessoas a agir de maneiras que podem perturbar e fragmentar uma sociedade coesa».»

Ainda segundo François de Clouzel, «a combinação de Ciências Sociais com Engenharia de Sistemas será fundamental para ajudar analistas militares a melhorar a produção de inteligência»; e «o aproveitamento das Ciências Sociais será fundamental para o desenvolvimento do Plano de Operações do Domínio Humano».

A manipulação do cérebro humano, à escala individual ou de massas, para induzir comportamentos sociais amestrados em situação de guerra global permanente e, no limite, infinita é apenas ainda um projecto. É um papel, uma súmula de declarações e intenções.

Não tenhamos dúvidas, no entanto, de que acções por estes caminhos estão já em andamento, apesar de o estudo encomendado sublinhar que o conteúdo não vincula oficialmente a Aliança Atlântica. Além disso, o simples facto de a NATO encomendar e patrocinar estudos sobre o controlo do cérebro humano em massa e sem fronteiras não é um exercício académico e especulativo. É para passá-lo à prática.

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