Na sua conta de Twitter, o portal WikiLeaks sublinha que o seu fundador «não saiu da Embaixada», acrescentando que foi o embaixador equatoriano no Reino Unido, Jaime Marchán, a convidar os agentes da Polícia Metropolitana a entrarem na representação diplomática, onde Assange foi preso de imediato.
O convite foi confirmado pela Polícia britânica num comunicado emitido esta manhã, no qual se dá conta da detenção de Julian Assange e da sua transferência para uma esquadra no Centro de Londres, onde deverá permanecer até ser presente ao Tribunal de Magistrados de Westminster.
A detenção do jornalista de 47 anos, de origem australiana, foi também confirmada pelo ministro britânico do Interior, Sajid Javid, que garantiu que Assange irá «enfrentar a Justiça no Reino Unido», segundo revela a RT.
Lenín Moreno retira asilo diplomático a Assange
Julian Assange foi preso pouco depois de o presidente do Equador, Lenín Moreno, ter decidido retirar-lhe o asilo diplomático, acusando-o de «violar repetidamente convenções internacionais» e de ferir «demasiadas vezes» o protocolo de convivência que permitia garantir a sua permanência na embaixada.
As relações entre o fundador da WikiLeaks – a quem o anterior presidente do país sul-americano, Rafael Correa, concedeu a nacionalidade equatoriana – e o governo do Equador foram-se deteriorando com a chegada de Lenín Moreno ao poder, em 2017. Em Março do ano passado, Assange ficou sem acesso à Internet, alegando o governo do país latino-americano que o jornalista ficava assim impedido de «interferir nos assuntos de outros estados soberanos», informa a RT.
Assange era um hóspede cada vez mais incómodo para Moreno, até porque o WikiLeaks tinha divulgado um relatório sobre o envolvimento do actual presidente equatoriano numa rede de corrupção chamada «INA Papers». O WikiLeaks afirmou que as acusações lançadas por Moreno contra Assange estão relacionadas com esta divulgação.
Refúgio na embaixada desde 2012
Julian Assange encontrava-se desde 2012 na Embaixada do Equador em Londres, que lhe concedeu asilo – e posteriormente a cidadania –, protegendo-o contra um mandado de detenção europeu e a detenção iminente por parte das autoridades britânicas.
O refúgio ocorreu já depois de, em 2010, o portal WikiLeaks ter divulgado centenas de milhares de documentos confidenciais relacionados com as acções militares dos EUA no Afeganistão e no Iraque, bem como centenas de telegramas diplomáticos do Departamento de Estado norte-americano.
Assange temia ser extraditado para os EUA – mesmo depois de as autoridades suecas terem arquivado, em 2017, um caso relacionado com alegados crimes de natureza sexual – e ser ali indiciado pela publicação, ao longo dos anos, de informação secreta pelo WikiLeaks, entre a qual se encontram centenas de milhares de documentos diplomáticos secretos dos EUA.
Espionagem a Assange
A detenção do fundador do WikiLeaks ocorre um dia depois de um editor do portal, Kristinn Hrafnsson, ter denunciado que Assange estava a ser alvo de uma grande operação de espionagem, por parte do governo de Lenín Moreno, no interior da representação diplomática equatoriana em Londres, com o objectivo de recolher dados para uma eventual extraditação.
O portal apresentou como provas excertos de vídeos e fotografias de câmaras de vigilância das reuniões privadas de Assange.
De acordo com Hrafnsson, o material foi guardado e muito provavelmente partilhado com a administração norte-americana. O islandês disse ainda que havia uma ordem de extradição à espera de ser enviada para Londres quando Assange saísse da embaixada.