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Há mais de meio ano, xullaji lançou «Sonhei no meu bairro», uma faixa com a produção de Sam the Kid que marcava o início do seu projecto «PREC - Poesia Revolucionária em Curso». Nessa música, xullaji, anteriormente Chullage, mas que também se apresenta como pretú, trouxe de volta o ritmo boom bap pelo qual era conhecido, e continuando fiel a si próprio manteve a crítica social e política que o caracteriza. 

Agora, na semana das eleições legislativas, xullaji lança mais dois temas que integram o mesmo projecto. Se sonoramente é um diferente de xei di kor, liricamente é semelhante. Tanto em «Surto» como em «Açaime» a «poesia revolucionária» está presente em cada segundo. Ambas as faixas têm a participação de Tayob J, músico e produtor que já colaborou com nomes como Sara Correia, Dino d’Santiago, Heber Marques ou Virgul.

Ninguém melhor que xullaji para descrever as músicas em questão. Em «Surto», o mesmo diz que escrita numa noite de insónia e que «poderia vir da boca de qualquer outra pessoa que vive e tenta trabalhar em Portugal, a quem o Liberalismo (confundindo-se com liberdade) empurrou para o refugo da sociedade.  E cujo desespero e protesto empurra para escolhas comprometedoras propagandeadas como a solução ao actual regime, mas que são no fundo uma reconfiguração ainda mais fascizada do mesmo».

Já em «Açaime», xullaji não esconde que «segue uma linha assumidamente panfletária e de combate ideológico num momento em que a ignorância e a mentira instigam o ódio como solução política, em que a confusão atingiu o ponto de levar pessoas a consultar soluções algorítmicas enviesadas para decidir onde votar, com a mesma leveza com que consultariam um horóscopo. Ou que a política é cada vez mais escrava do espectáculo, do clickbait,  da performance individual, ao ponto de se assemelharem debates políticos a concursos que se decidem com pontuações».

As intenções do autor não podiam ser mais claras, e ainda bem. Em tempos confusos onde reside o medo, a confusão e a ausência de esperança, ao contrário de muitos outros que ou ficam em cima do muro ou por uma questão de conforto não dão a cara, xullaji não se esconde. Ao denunciar, ao expor e ao combater, xullaji transforma a estética em arte e a arte em forma de combate. O que nos é dado é, sem dúvida alguma, «Poesia Revolucionária em Curso».