«Um espectáculo que fala muito directamente aos corações das mães e das avós». Assim resume a encenadora o trabalho estreado em Tomar, em 2023, que agora chega à capital. A certeza vem-lhe da comoção que, entretanto, percebeu no público, quando confrontado com as histórias de família que Raquel sabe que existiram e as que, da investigação aos seus 300 ascendentes, imagina que possam ter acontecido. Sara Inês Gigante, Sara de Castro, Tânia Alves e Tónan Quito são os actores que sobem a palco com a criadora d'«As Castro» e que ajudam a compreender a teia de antepassados que Raquel construiu com a ajuda de um genealogista. «A árvore cresce para trás em todos os ramos até cerca do século 18, depois é que a coisa se complica...», ouvimos na entrada da peça.
Mas, que pergunta suscitou a pesquisa? «Eu fiz a árvore por uma curiosidade pessoal, mas com a intuição de que podia alimentar alguma coisa, porque eu faço trabalho neste campo de autoficção e de autobiografia», contou Raquel Castro, criadora de «Os Dias São Connosco», «Turma de 95» ou «A Morte de Raquel», ao AbrilAbril, dias antes da apresentação em Lisboa.
«A pergunta era um bocadinho o que é que eu sou hoje que vem do passado e depois cheguei à conclusão que a resposta àquilo que eu sou está mais perto da minha mãe e da minha avó, ou seja, dos meus ascendentes mais directos, do que daqueles de há 300 anos», acrescenta a co-fundadora da companhia de teatro Razões Pessoais. Desenvolvida em torno do ramo materno da família de Raquel, nomeadamente da avó, bisavó e trisavó maternas, a peça vai buscar as histórias, nem sempre fáceis e por vezes escondidas, destas mulheres, sendo sobretudo da relação com as suas ascendentes mais próximas que a trineta da viúva da Latoaria Ferrão (descobriu-o nesta investigação, apesar de a profissão não aparecer nos registos) fala em palco.
Há uma «ferida que eu de repente consigo identificar para trás que elas todas têm, e que tem a ver com o abandono e com as relações com os maridos», refere a encenadora, que no palco é, como na vida real, a Raquel. «A minha trisavó casou com um tio, 30 anos mais velho, a minha bisavó viveu com uma senhora, depois de o meu bisavô morrer, é uma história meio escondida na família, meio estranha, no caso da minha avó e da minha mãe, os maridos tinham outras mulheres, aquelas coisas com que muita gente se identifica, e depois há uma última camada, uma última não, se calhar há muitas mais», conta.
«De repente, a minha personagem depara-se com isso: "Ok, eu tenho isto para trás e agora o que é que eu faço?"», acrescenta. Ao longo da peça, em que o espectador acompanha o percurso de Raquel à procura de si própria, existem muitas cenas dramáticas aliviadas pela existência do humor que a vida sempre condensa e do amor que une as mulheres da sua família.
«As Castro» vão estar em cena de 8 a 11 e de 14 a 18 deste mês na Sala Estúdio Valentim de Barros, nos Jardins do Bombarda.
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