A peça Ermelinda do Rio, uma produção do Teatro da Terra encenada e interpretada por Maria João Luís, será levada à cena no Fórum Municipal Luísa Todi, em Setúbal, na próxima sexta-feira, dia 20 de Dezembro.
Ermelinda do Rio (nocturno para voz e concertina) é um «poema narrativo» da autoria de João Monge, inspirado pela dor causada pelas cheias do Tejo a 26 de Novembro de 1967, no Ribatejo e arredores de Lisboa.
Escrito na primeira pessoa, o texto é um «testemunho dorido» de uma menina e sua mãe que sobrevivem para assistir, impotentes, ao desaparecimento de grande parte da sua família, de amigos, de conhecidos. Bastou uma noite de chuva, começada como tantas outras, para que de madrugada «o seu mundo estivesse virado do avesso».
Maria João Luís tinha quatro anos de idade e morava em Alhandra, uma das localidades mais atingidas pelas cheias, com o pai, a mãe e o irmão. Foram poupados por a casa onde viviam estar situada numa zona alta de Alhandra, mas cerca de 30 familiares perderam a vida na fatídica noite. «Cada vez que leio isso, choro», afirmou a actriz em programa televisivo, referindo-se à ode poética de João Monge.
Com Ermelinda do Rio, segundo a apresentação da peça, Maria João Luís encena os fantasmas associados às suas memórias de infância e «que ainda hoje a visitam, de tempos a tempos», numa «catarse pessoal da actriz em palco», assumida como «um ritual reflexivo partilhado e em comunhão com o público», em cada sessão.
A interpretação de Maria João Luís é musicalmente acompanhada ao vivo por três contrabaixos – Miguel Leiria Pereira, Sofia Pires e Sofia Queiroz Orê-Ibir – que interpretam uma composição musical de José Peixoto. A cenografia está a cargo de José Carretas e o desenho de luz de Pedro Domingos, que assegura também a direcção da produção.
Ermelinda do Rio (nocturno para voz e concertina) estreou em Junho passado em Ponte de Sor e apresentou-se posteriormente em diversas salas do espectáculo, incluindo em Lisboa. Na próxima sexta-feira estará em Setúbal, no Luísa Todi. Para a restante informação do espectáculo remetemos para a respectiva ficha técnica.
A tragédia que a ditadura encobriu
Durante «a noite em que a chuva matou», como escreveu, na altura, o semanário O Século Ilustrado, a precipitação chegou a atingir, nalgumas zonas, os 170 litros por metro quadrado, cerca de um quinto da verificada durante o ano inteiro.
Enxurradas provocadas pela deslocação de toneladas de terra, a partir de pontos mais altos, transformaram-se em verdadeiros rios de lama e confluíram com a subida rápida das águas do Tejo, que tinham rebentado os diques que habitualmente as continham, deixando poucas hipóteses de sobrevivência àqueles que se encontravam no seu caminho.
Cerca de 700 pessoas perderam a vida e dezenas de milhar de casas foram destruídas naquela que é considerada a maior catástrofe natural em Portugal desde o terramoto de 1755.
Os concelhos onde se verificou maior perda de vidas foram os de Vila Franca de Xira e de Loures (que à altura incluía Odivelas), onde existiam as zonas mais pobres e degradadas, mas também Alenquer e Lisboa foram severamente atingidos pelas cheias.
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