A «reactivação do nazismo» é uma das preocupações expressas pelo escritor, numa conversa com José Jorge Letria, colocada no livro Mário de Carvalho: Nem Um Dia sem Uma Linha, da colecção «O Fio da Memória» publicada pela Guerra & Paz.
O título escolhido é inspirado numa máxima atribuída ao escritor latino Plínio, o Velho, «nem um dia sem uma linha», que Mário de Carvalho utilizou para se referir ao seu método de trabalho.
Face às «tremendas transformações» e aos sinais da recuperação de conceitos «completamente postos de lado», «alguns dos quais [que] não são contrariados», Mário de Carvalho afirma: «bater-me-ia pela manutenção duma Europa democrática forte.»
Carvalho, autor de romances como Um Deus Passeando pela Brisa da Tarde (1994), que lhe valeu quatro prémios literários, diz que nunca se deve «perder de vista o horizonte dum mundo mais fraterno, justo e solidário».
Na opinião de Letria, Mário de Carvalho é «um dos mais importantes escritores das últimas décadas», referindo que a política o «seduziu» cedo, tendo sido criado numa família de ideais republicanos, que nunca o quis ver vestido, quando aluno do Liceu Gil Vicente, em Lisboa, com a farda da Mocidade Portuguesa, organização juvenil da ditadura de Salazar.
Sobre a conversa, agora vertida em letra de forma, Letria adianta, num texto introdutório, que se «fala da vida, da política e dos livros com a mesma serenidade ponderada com que sempre falou das coisas que marcaram a sua vida como cidadão e autor».
Mário de Carvalho estreou-se literariamente em 1981, com o livro Contos da Sétima Esfera, ao qual se seguiu, em 1982, outro livro de contos, Casos do Beco das Sardinheiras. O seu primeiro romance, O Livro Grande de Tebas, Navio e Mariana (1982), valeu-lhe o Prémio Cidade de Lisboa.
O autor, com 74 anos, tem editados 30 títulos, entre ensaios, contos, novelas e romances.