No filme de Susana Sousa Dias, o júri destacou «o uso de uma proposta estética e narrativa própria com um desenho sonoro muito cuidado», promovendo «uma reflexão que transcende e convida a atingir o "poço escuro" da memória», de acordo com a decisão anunciada na noite de sábado, em Madrid.
Luz Obscura, de Susana Sousa Dias, insere-se no trabalho de «arqueologia» que a realizadora tem vindo a fazer sobre o regime fascista português - e os arquivos da polícia política, em particular - que está também na base de 48, de 2010, e de Natureza morta, de 2005, no qual revisita actualidades da época, reportagens de guerra, documentários de propaganda, além fotografias de prisioneiros políticos.
Processo-crime 141/53 – Enfermeiras no Estado Novo, de 2000, o documentário de estreia de Susana Sousa Dias como realizadora, aborda a situação de enfermeiras presas durante a ditadura, em Caxias, por se terem oposto à proibição de trabalharem nos hospitais civis, por serem casadas ou viúvas, com filhos.
No mais recente documentário, Luz Obscura, Susana Sousa Dias prendeu-se às fotografias de cadastro de presos políticos, em que estes aparecem acompanhados dos seus filhos, centrando-se em particular na família do militante comunista Octávio Pato (1925-1999) – o mais novo dos três irmãos nasceu na clandestinidade e aparece ao colo da mãe, na fotografia da PIDE.
«Ouvimos testemunhos de familiares de comunistas assassinados, explicando como se viram arrastados para processos de humilhação – crianças tratadas como prisioneiros, sendo que muitas delas nunca mais viram os pais», destaca a realizadora na sinopse do documentário, que teve estreia nacional na sexta-feira, no âmbito do festival IndieLisboa.
O DocumentaMadrid – Festival Internacional de Documentário decorreu, desde o passado dia 4, na Cineteca de Madrid.
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