A exposição «Debaixo da Pedra» de Pedro Fazenda no Palácio de Dom Manuel[fn]Paços de Évora / Palácio de Dom Manuel - R. 24 de Julho 1, 7000-650 Évora. Horário: segunda-feira a sábado, entre as 9h30 e as 12h30 e as 14h e as 18h.[/fn], em Évora, pode ser visitada até 29 de fevereiro de 2024. A exposição «Debaixo da Pedra» é promovida pela Câmara Municipal de Évora e transporta-nos para o mundo mágico das pedras esculpidas por Pedro Fazenda. Ao todo estão expostas 25 peças trabalhadas principalmente com mármores alentejanos, trabalhadas pelo escultor em Évora, ao longo de quase quatro décadas, de 1987 a 2023.
Como nos revela o texto da exposição, «as obras expostas nesta coleção foram meticulosamente criadas no Antigo Matadouro Municipal, um espaço disponibilizado em 1986 pelo Município para o Departamento de Escultura em Pedra – Pó de Vir a Ser», que posteriormente seria reconvertida na associação Pó de Vir a Ser, onde Pedro Fazenda foi o presidente e desenvolveu a sua atividade. «Este espaço de arte e criatividade serviu de local de encontro e colaboração para mais de 200 artistas ao longo dos últimos 37 anos. A exposição não se limita a exibir o trabalho de Pedro Fazenda, mas também celebra as experiências partilhadas com esses artistas, a produção artística em Évora e a criação de uma rede de conexões que liga a cidade ao mundo».
A criação da associação «Pó de Vir a Ser – Departamento de Escultura em Pedra/Centro Cultural de Évora» resulta de um coletivo que foi potenciado por João Cutileiro (um dos mais conceituados escultores portugueses), que em 1985 ocuparam o Antigo Matadouro em Évora e desenvolveram este projeto. «"Nessa altura, integrávamos uma estrutura que havia – que não era única de Évora – que eram os centros culturais que estavam disseminados pelo país", conta o escultor Pedro Fazenda. "Portanto, nós integrámos o Centro Cultural de Évora, que existia desde 75 – já há dez anos – e que incluía a Companhia de Teatro, a Escola de Formação de Atores, Escola de Formação de Técnicos, Departamento de Vídeo, Fotografia enfim... tinha uma orgânica muito grande".»
Além da prática da escultura em pedra, a Pó de Vir a Ser promove uma série de iniciativas e projetos que têm as artes como elo de ligação entre território e comunidade. Aqui, o próprio processo de escultura é quase uma metáfora do trabalho que a associação desenvolve com as pessoas.»[fn] Entrevista a Pedro Fazenda, Mariana Mata Passos, Sérgio Carronha e Patrícia Claudino ao Gerador: «Pó de Vir a Ser: o coletivo que fez do matadouro de Évora um espaço de criação» realizada por Sofia Craveiro em 2021.[/fn]
É neste espírito que a associação Pó de Vir a Ser tem participado ativamente nos últimos anos e recentemente também esteve presente na Conferência Internacional «Cultura, Comunidade e Saúde: As artes e a criatividade na construção de comunidades saudáveis», uma iniciativa promovida pela CIMAC, no âmbito do TRANSFORMA – Programa para uma Cultura Inclusiva do Alentejo Central, que decorreu no Teatro Garcia de Resende, em Évora em 2023.
A Exposição de Ilustrações de Marta Nunes, «O Povo é Quem Mais Ordena», decorre na sala polivalente da Biblioteca e Arquivo do Município de Grândola[fn]Biblioteca e Arquivo do Município de Grândola- Rua Dr. José Pereira Barradas, 7570-281 Grândola. Horário: segunda a sexta das 9h30 às 19h e das 10h às 13h[/fn], até 24 de fevereiro. Esta exposição apresenta 45 ilustrações dedicadas à Revolução dos Cravos e às conquistas e valores de Abril, como a liberdade, a democracia e a solidariedade.
«O Povo é Quem Mais Ordena» reúne os últimos anos do trabalho da artista dedicados ao 25 de Abril, temática que, para Marta Nunes, «não tem tempo e que deverá estar sempre na ordem do dia, já que a data não é apenas uma efeméride, mas sim um legado e uma forma de olhar o presente com lutas ainda por terminar. A revolução permitiu não só acabar com um regime autoritário, mas significou a conquista de muitos direitos que são hoje fundamentais na nossa constituição e inexistentes até à data.»
Marta Nunes nasce na primavera de 1984, em Lousada. Formada em Arquitetura pela Universidade da Beira Interior é ainda durante o curso que surgem os primeiros trabalhos de ilustração para publicações. Desde 2010 que participa em exposições coletivas e individuais, mas desde 2019 que a ilustração tem sido cada vez mais a sua principal atividade, onde o interesse pela tradição e cultura portuguesa marcam alguns dos seus trabalhos. As expressões, as pessoas e os ofícios tradicionais são o que mais a inspiram na construção de narrativas, mas também os objetos do quotidiano e a poética dos dias úteis.
A Galeria Municipal do 11[fn]Galeria Municipal Do 11 - Av. Luísa Todi 5, 2900-461 Setúbal. Horário: terça a sábado das 11h às 13h e das 14h às 18h.[/fn], em Setúbal, inaugura a 3 de fevereiro, a exposição «Teresa Sousa (1928-1962) – Biografia Ilustrada», uma retrospetiva da breve e original obra de Teresa Sousa, uma artista pioneira da gravura moderna em Portugal. Esta exposição vai poder ser visitada até 9 de março. Nesta exposição de Teresa Sousa apresenta-se cerca de quatro dezenas de obras do período entre os anos de 1956 e 1961, sendo assumida como «uma retrospetiva antológica da obra da artista, que constitui a primeira grande mostra em que são expostos ao público trabalhos em todas as principais linguagens em que se expressou, incluindo quase toda a obra de gravura, pintura, desenho e ainda uma tapeçaria. O percurso expositivo inclui ainda elementos do percurso académico, materiais da aprendizagem no Atelier 17, estudos preparatórios e matrizes de alguns trabalhos expostos, e catálogos de exposições».
A jovem artista desde muito cedo mostrou o «seu forte interesse pelas técnicas de gravura (...), bem como, do ponto de vista formal, pelo reconhecimento dos valores plásticos da Abstração (liberdade no tratamento da mancha, liberdade do desenho), que concilia com temas da realidade sensível».[fn]Candeias, A. F. (2003). Enciclopédia luso-brasileira (Vol. 27, p.484). (Verbo, Ed.) Lisboa/São Paulo. (CANDEIAS, p.484.)[/fn] A tapeçaria «Porto de Abrigo», é uma obra executada pela Manufatura de Tapeçarias de Portalegre, «a partir de um desenho da artista realizado em 1961 (…)».
Em 2022, 60 anos depois da sua morte, por altura da exposição retrospetiva de Teresa Sousa realizada na Biblioteca Nacional de Portugal, em Lisboa, o crítico de arte José Luís Porfírio lembra as palavras que a artista terá escrito em novembro de 1955, num fragmento de uma carta: «Fui ontem à gravura pela primeira vez. Foi o mesmo que querer escrever e não saber pegar na caneta...». Luís Porfírio acrescenta que esta frase «é a melhor introdução possível, pois permite-nos avaliar a medida da rapidez e da qualidade de adaptação desta jovem pintora a uma técnica artística que a escola de Belas Artes lisboeta não privilegiava. Escrita a partir de Paris, onde iniciava breves estudos de gravura no Atelier 17 de Stanley Hayter, a carta coloca-nos com rara franqueza perante as dificuldades que sentiu…», sendo precisamente neste período que a artista estabelece contactos com Vieira da Silva em Paris. A prova real da superação rápida de tais dificuldades, é que a jovem artista, apenas dois anos depois, recebe o prémio de gravura da I Exposição de Artes Plásticas da Fundação Gulbenkian.
É ainda de sublinhar a importância que a artista Teresa Sousa teve na vida artística em Portugal , quando «em 1955, juntamente com os colegas das Belas Artes, Lourdes Castro (1930-2022), José Escada (1934-1980) e Cruz de Carvalho (designer), (1930-2015), seu futuro marido, a artista inaugurou a Galeria Pórtico (1955-1959), um novo espaço no panorama artístico da capital portuguesa que na altura "apoia jovens artistas ainda ligados às Belas Artes"», segundo o texto «A Subtil Narrativa Geométrica na Gravura de Teresa Sousa», de Joanna Latka.