A imagem de um menino sentado numa ambulância correu mundo e suscitou revolta em muitas almas. Um sentimento a que não assistíamos desde a publicação de outra fotografia, do corpo de outro menino sírio dando à costa da Turquia sem vida, há quase um ano atrás.
A comoção generalizada ou, mais precisamente, massificada não é mais que o sucesso de uma poderosa operação mediática, montada para justificar a agressão à Síria. Após a publicação em praticamente todos os órgãos de comunicação social à escala global, não se fizeram esperar os oportunistas a clamarem, de forma mais ou menos clara, por uma escalada de violência na região: mais guerra para pôr fim às imagens desconcertantes.
A verdade é que, se o quisessem fazer, os principais media não teriam qualquer dificuldade em encher capas, ou mesmo edições inteiras, com vítimas da guerra por todo o mundo, desde novos a velhos, com tudo o que fica pelo meio.
Mas não o fazem. Fizeram-no com esta imagem, com uma história, um protagonista (que não é o menino coberto de fuligem) e um objectivo.
Uma fotografia captada por um alegado fotojornalista, cujas únicas credenciais conhecidas apontam para ligações aos terroristas da Frente al-Nusra, e um vídeo propagado pelo Aleppo Media Center, com um percurso de simpatia para com a mesma sucursal da Al-Qaeda na Síria. Como denuncia o Off-Guardian, é a agenda desta gente que a imprensa considerada «de referência» alimenta.
O bombardeamento de uma escola no Iémen, as denúncias da Unicef sobre a proliferação do trabalho infantil no Iraque após a invasão em 2003 ou a morte de um jovem palestiniano pelo Exército israelita não fizeram capas. Foi a imagem de propaganda de um dos mais mortíferos grupos terroristas a operar na Síria que deu várias voltas pelo globo e está a ser usada para justificar a guerra.
Conscientes ou não, os principais media à escala global parecem estar envolvidos numa gigantesca operação de propaganda de guerra.
A comoção é mais uma das armas no arsenal dos senhores da guerra para justificar, hoje, a agressão à Síria. Como já o fizeram na Palestina, no Iraque, na Jugoslávia, no Afeganistão ou na Líbia.
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