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|20 anos do Nobel de Saramago

Quando a Câmara de Lisboa quis ir buscar Saramago a Lanzarote, há 20 anos

A notícia da atribuição do Nobel, nesse dia 8 de Outubro de 1998, não nos apanhou de surpresa no Município. Muitos de nós o esperavam e desejavam. 

O Prémio Nobel da Literatura, José Saramago, agradece à multidão, no Salão Nobre da Câmara Municipal de Lisboa, perante as objectivas dos jornalistas, antes de receber as chaves da cidade
O Prémio Nobel da Literatura, José Saramago, agradece à multidão, no Salão Nobre da Câmara Municipal de Lisboa, perante as objectivas dos jornalistas, antes de receber as chaves da cidadeCréditosTiago Petinga / Agência Lusa

Pela dimensão do Homem e da obra, e também – porque não dizê-lo? – porque Saramago fora o presidente da Assembleia Municipal de Lisboa, na sequência, de um acordo inédito, quando Jorge Sampaio foi presidente da Câmara Municipal de Lisboa (CML), e se deu início a um período de três mandatos que resolveram alguns problemas da cidade de uma forma que envolveu juntas de freguesia, o entusiasmo de muitos trabalhadores municipais, associações de técnicos e moradores de natureza muito diversificada. E mesmo que Saramago não tenha querido ficar naquelas funções muito tempo.

Nos dois dias seguintes, sendo então já João Soares o presidente da CML, tomou-se a decisão fora do vulgar de fretar um avião e ir buscar José Saramago, que recebera a notícia quando estava na Feira do Livro de Frankfurt, e aí realizara, em correspondência com o interesse dos jornalistas presentes, uma conferência de imprensa sobre o significado que, para si, tivera a atribuição do Prémio. E que regressara a Lanzarote, depois de algumas peripécias de novos terminais e voos que se confundiram.

Na CML, o João Soares, eu e Maria Calado considerávamos – e bem, penso eu – que Saramago devia regressar a Lisboa e não devia deixar arrastar naquelas circunstâncias o desgosto para com Portugal, de que o governo de Cavaco Silva fora responsável ao não lhe permitir concorrer com O Evangelho segundo Jesus Cristo ao Prémio Europeu de Literatura de 1992.

Créditos

Lisboa era a cidade onde o escritor vivera, se batera pela democracia, e de que tinha sido autarca, com uma expressiva maioria pelos cidadãos de Lisboa. E porque não víamos, nem Manuel Maria Carrilho nem António Guterres (no estrangeiro) muito preocupados em ir buscar o Saramago e a Pilar del Río, a Lanzarote, o João Soares, eu e a Maria Calado fomos ao aeroporto de Tires fretar um avião para os ir buscar.

A notícia chegou aos ouvidos de Carrilho. E apesar do disputar de quem os devia trazer – o que deixara Zeferino Coelho, seu editor de sempre, na Caminho, em polvorosa – a solução foi, obviamente, ser esse regresso garantido por Manuel Maria Carrilho, que, depois desse frisson de competências, foi buscar o casal num Falcon da Força Aérea. Quem fretou o avião à CML, devolveu, num gesto de simpatia, o dinheiro.

À chegada do avião, no dia seguinte, parte da vereação esteve presente para o saudar na sala do aeroporto e acompanhou-o em cortejo para os Paços do Concelho onde ocorreu uma cerimónia, onde falaram João Amaral, João Soares e José Saramago, e onde lhe foi atribuída a Chave da Cidade de Lisboa.

Depois dirigiu-se à varanda e saudou os munícipes que ocorreram à Praça do Município. O Salão Nobre estava cheio de autarcas e de muitos outros lisboetas que o tinham querido saudar. Jorge Sampaio, Presidente da República, e anterior presidente da CML, estivera na cerimónia de Estocolmo de atribuição do Nobel no dia anterior.

Durante a noite, a CML colocou em toda a cidade em múpis e pendões as saudações, nas quais os lisboetas se reconheciam, como «Parabéns Saramago» e «Obrigado, José Saramago».

Saramago e Pilar acabariam por optar pela residência em Lanzarote. Sousa Lara, o tal secretário de Estado da Cultura, responsável pela proibição de 1992, demitiu-se, continuando a dizer depois que voltaria a fazer o mesmo, chegando ao ponto de garantir que «rezava» por Saramago pelas pretensas ofensas feitas na obra à fé dos crentes e à Igreja, e de considerar o livro «não representativo de Portugal».

Em Belém, Cavaco atribui-lhe o Colar do Infante D. Henrique (!). Essa foi uma das muito estranhas decisões dos mandatos presidenciais de Cavaco Silva.

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