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Escolas públicas e privadas não se podem comparar

Quem estiver minimamente atento sabe que não podem ser estabelecidas comparações com colégios privados, mesmo que se apresentem como «uma escola normal». 

Mário Nogueira sublinha a reversão da municipalização em países como a Suécia
Créditos / exame.abril.com.br

Voltaram a ser publicados os chamados rankings dos estabelecimentos escolares e, sem surpresas, os primeiros lugares são ocupados por escolas privadas. A primeira questão que se coloca é se faz sentido comparar estabelecimentos de ensino tão diferentes, desde logo no universo de alunos que recebem. Para se ter uma ideia, na última escola pública do Ensino Secundário da lista divulgada pelo Ministério da Educação (que conta com duas privadas como piores classificadas), 77,8% dos alunos do 12.º ano são considerados carenciados (as privadas não apresentam este indicador). Mas as diferenças prendem-se também com as condições de que umas gozam e que outras lutam para ter, mas que sucessivos governos teimam em negar.

Quem estiver minimamente atento sabe que, apesar do esforço hercúleo e do amor à escola pública que ainda resiste em muitos profissionais, não podem ser estabelecidas comparações com colégios privados, mesmo que se apresentem como «uma escola normal», como o colégio do Porto que encimeira a lista das melhores. Não pode, desde logo, porque lhe falta gente ou está nos mínimos decretados, mas que toda a gente sabe que não chega para a qualidade de ensino que se exige.

Faltam mais auxiliares para cuidar da escola e dos alunos, mas faltam também mais professores. Independentemente das condições laborais dos professores dos colégios privados, há longos anos que ser professor da escola pública significa não saber onde (e se) vai trabalhar no início de cada ano lectivo, se isso pode implicar ficar longe da família, se terá um horário completo que valha a pena arranjar casa ou se será colocado em regiões (Lisboa e Algarve são as mais críticas) onde o salário de professor fica muito distante do preço das rendas. 

Esta insegurança tem levado muitos professores a abandonarem a profissão que abraçaram. E a tendência, a avaliar pela resistência do Governo em acatar as reivindicações dos professores, a que se junta a destravada especulação imobiliária, será que continuem a faltar cada vez mais docentes. 

Quando se ouve falar da luta dos professores, que apesar de todo o desgaste continuam abnegadamente a dar horas do seu tempo à escola, é nisto que devemos estar concentrados e não vale a pena alarmar com uma possível resistência da opinião pública porque é o futuro da educação que está em jogo.

Outro dos motivos pelos quais é ingrato o exercício de tentar comparar estabelecimentos públicos e privados, é que os primeiros, e bem, são abertos a toda a população, a todas as classes sociais, a toda a diversidade de problemas, carências e exigências, e onde (insistimos) não há gente para responder às necessidades específicas de cada aluno, enquanto nos segundos, a propina de entrada se encarrega de fazer a selecção necessária para que os resultados sejam os que se divulgam.

Mais do que tentar encontrar as melhores, em universos tão distantes e com critérios enviesados, o exercício devia por-nos a olhar para o que consegue a escola pública fazer com tão pouco.

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