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Israel e Trump

A eleição de Donald Trump como Presidente dos EUA teve repercussões internacionais imediatas, em particular no delicado balanço no Médio Oriente.

Rudy Giuliani, antigo presidente da Câmara de Nova Iorque, e Donald Trump, no passado dia 20 de Novembro
Rudy Giuliani, antigo presidente da Câmara de Nova Iorque, e Donald Trump, no passado dia 20 de NovembroCréditosPeter Foley/EPA / Agência Lusa

Juntamente com a mensagem congratulatória moderada do primeiro-ministro Benjamin Netanyahu, vários membros do seu governo rejubilavam. Naftali Bennett, líder do partido ultranacionalista Bait Yehudi (Lar Judaico) e actualmente Ministro da Educação e da Diáspora, declarou: «A vitória de Trump é uma tremenda oportunidade para Israel anunciar imediatamente a sua intenção de renegar a ideia de estabelecer a Palestina no coração do país – um ataque directo à nossa segurança e à justiça da nossa causa.

Esta é a visão do presidente-eleito tal como aparece na sua plataforma, e esse deve definitivamente ser o nosso caminho. Saliente, simples e claro. A era do Estado Palestiniano acabou.» Bennett defende a anexação de 60% da Cisjordânia.

O Presidente da Câmara de Jerusalém, Nir Barkat, que ambiciona suceder a Netanyahu como líder do Likud, enviou mensagem ao recém-eleito Trump recordando-lhe a sua promessa de transferir a embaixada dos EUA em Israel para Jerusalém. [A candidata Clinton havia feito igual promessa.]  

O ministro do Interior e líder do Partido ultra-ortodoxo Shas, Aryeh Deri, louvou a vitória de Trump como um milagre, afirmando que enfraqueceria a influência dos judeus liberais não ortodoxos na América, acrescentando: «Devemos estar mesmo em tempos Messiânicos, tudo se está a tornar favorável ao povo de Israel.»

A 14 de Novembro, o Tribunal Supremo rejeitou um pedido do governo para adiar por sete meses a demolição de um colonato ilegal em Amona, na Cisjordânia, em plena terra privada Palestina, a menos de 20 quilómetros nordeste de Ramallah. A demolição estava agendada para 25 de Dezembro, e o governo temia uma repetição da violência ocorrida quando da evacuação do colonato em 2006.

Mas dias depois, a 16 de Novembro, o parlamento israelita aprovava (58-50 votos) um decreto de lei proposto por um grupo de ministros de direita na coligação governamental (incluindo do Likud) que retroactivamente legaliza colonatos ilegais em terra Palestina.

Motivado por Amona, a lei tem implicações mais alargadas, «legalizando» entre duas a três mil casas judaicas em território ocupado. [De acordo com o grupo de direitos humanos B’Tselem, mais de meio milhão de judeus Israelitas vivem em 150 colonatos na Cisjordância e Faixa de Gaza.]

Esta proposta já estava a ser preparada, mas a decisão de avançar foi feita na véspera da decisão do Tribunal Supremo, já depois da vitória de Trump, e ignorando as objecções de Netanyahu.

No mesmo dia, o actual Ministro da Defesa de Israel, Avigdor Liberman, líder do partido nacionalista de direita Yisrael Beiteinu, que se juntou à coligação governamental em Maio, fez declarações consideradas moderadas, ao afirmar que Israel deveria concentrar-se em parar a construção fora dos principais colonatos, apostando antes na construção dentro dos mesmos, e aceitando a solução de dois Estados, segundo a fórmula Bush-Sharon.

Por outro lado, a 20 de Novembro, Bennett encontrou-se, em Nova Iorque, com membros da equipa de Trump, apelando a que a futura administração abandone o modelo de dois Estados. Netanyahu foi forçado a ordenar o congelamento de declarações e contactos com a futura administração. Mas é claro que a eleição de Trump veio encorajar a direita Israelita.

É curioso que durante as eleições, esta mesma direita temia a eleição de Trump. Clinton apresentava uma mensagem pró-Israelita mais clara e consistente. Também ela prometera a transferência da embaixada dos EUA para Jerusalém, e era garantia de que os aumentos de apoio financeiro dos EUA a Israel de Obama iriam persistir.  

Trump, à semelhança de outros temas, fazia afirmações algo contraditórias sobre o conflito Israelo-palestiniano, e insinuava que seu maior interesse seria doméstico. Mas após as eleições, as nomeações de Trump para o círculo próximo e gabinete têm claramente dissipado quaisquer dúvidas.

Começando pelo seu genro, Jared Kushner, um judeu ortodoxo e um grande apoiante de Israel que já foi apontado como possível diplomata responsável por acompanhar as relações Israelo-palestinianas.

Rudy Giuliani, o antigo Presidente da Câmara de Nova Iorque, considerado durante as primárias republicanas o melhor candidato para Israel, que já chegou a prepor a entrada de Israel na NATO, está a ser considerado para o posto de Secretário de Estado (o equivalente a ministro de negócios estrangeiros dos EUA).

Outros exemplos se poderiam mencionar, mas há uma nomeação que pode suscitar dúvidas: Steve Bannon como seu conselheiro estratégico. Afinal o sítio Breitbart News por ele fundado tem sido um veículo de ideologia racista, xenófoba e anti-semita (mas também concebida inicialmente em Israel, como um sítio «pró-liberdade e pró-Israel»).

Várias organizações judaicas nos EUA, em particular a Liga Anti-Difamação, têm protestado a nomeação. Mas a primeira mensagem estrangeira de congratulação recebida por Bannon veio de Uri Ariel, Ministro da Agricultura de Israel, membro do HaBayit HaYehudi, o partido dos colonatos e um dos partidos mais à direita no Knesset.

O apoio a Israel nos EUA não se limita às comunidades judaicas (e estas são consideradas em Israel como sendo muito liberais), mas estende-se ao Sionismo Cristão e Movimento Evangélico (que vê a formação do Estado de Israel como o cumprimento da profecia bíblica) e à direita conservadora que vê em Israel um importante aliado geoestratégico no Médio Oriente, afinidade reforçada com as décadas de governos de direita em Israel.

Mesmo os nacionalistas Estado-unidenses, apesar do seu anti-semitismo, apoiam Israel como o país que realiza as suas fantasias de subjugar, violentar e expulsar os Árabes e Muçulmanos. Para a direita Israelita, tudo é perdoado desde que se apoie Israel e sua ocupação dos territórios Palestinianos.

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