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Geografias capitalistas da guerra

A máquina da guerra vive da destruição dos corpos-território e do absoluto imperativo capitalista da reestruturação daqueles para gerar uma nova geografia favorável à expansão e aprofundamento do seu modo de produção.

Habitantes ajudam-se após o ataque da aviação ucraniana sobre a indefesa aldeia de Luganskaya, nos arredores de Lugansk, Ucrânia, a 2 de Julho de 2014. As autoridades de Kiev negaram a autoria do ataque mas a Human Rights Watch confirmou-o no local e pediu uma investigação independente
A paisagem humana e física, mudadas pela guerra. Donbass, 2014CréditosValery Melnikov / Rossia Segodnya

Como ontem, hoje também os poderes oligarcas capitalistas do mundo regozijam-se com a guerra. Ela é a condição primária e extrema de «destruição criativa» dos territórios e paisagens ao serviço do capitalismo. Qual «capitalismo de desastre»...

A máquina da guerra não alimenta só o escoamento dos produtos da indústria do armamento, logo produção, circulação e distribuição capitalista. Ela vive da destruição dos corpos-território e do absoluto imperativo capitalista da reestruturação daqueles para gerar uma nova geografia favorável à expansão e aprofundamento do seu modo de produção.

«A história do desenvolvimento capitalista, sobretudo na sua geografia, demonstra como este precisa de superar constantemente o delicado equilíbrio entre preservar o valor dos investimentos passados de capital fixo na produção de ambiente construído e destruir esses investimentos para abrir espaço novo para a acumulação»

Como David Harvey demonstra há décadas com o conceito de «ajuste espacial» do Capital: Para sobreviver e multiplicar-se às suas crises, o Capital tem que construir um espaço fixo (produzir «paisagem») necessário para seu próprio funcionamento em um certo ponto de sua história, apenas para destruir esse espaço (destruição criativa e desvalorizar grande parte do capital investido) a fim de dar lugar a uma nova «fixação espacial» (abertura para novas frentes de acumulação em novos espaços e territórios) em um ponto posterior de sua evolução.

O capital está sempre representado na forma de uma paisagem física e de uma determinada organização do espaço que, embora criada como valor de uso e condição de garantia de acumulação e reprodução, coroa o desenvolvimento expansível do capital na forma de capital fixo e imobilizado, mas inibe a expansão adicional futura da acumulação, funcionando, simultaneamente, como barreira espacial.

A história do desenvolvimento capitalista, sobretudo na sua geografia, demonstra como este precisa de superar constantemente o delicado equilíbrio entre preservar o valor dos investimentos passados de capital fixo na produção de ambiente construído e destruir esses investimentos para abrir espaço novo para a acumulação, abrindo ou articulando novas escalas. Persiste a contradição entre o capital fixo necessário à absorção de excedentes pela produção de espaço urbano, e o capital móvel em constante rotatividade, movimento e circulação. E se é verdade que toda a forma de mobilidade geográfica do capital requer infraestruturas espaciais fixas e seguras para funcionar efectivamente, tal não põe em causa todo o tipo de tensões e contradições inerentes ao processo de circulação de capital produzidas pela capacidade diferencial de diferentes tipos de destruição criativa de ambiente construído responderem ao desafio da constante mobilidade geográfica do capital e da sua reprodução.

Ele circula de reconstrução em reconstrução: Japão, Iraque, Afeganistão, Síria… num movimento cíclico nos/dos/entre espaços do mundo que quanto mais acelerado mais extracção de mais-valia gera. Estas são as geografias capitalistas da guerra.

Luís Mendes é geógrafo no Centro de Estudos Geográficos do Instituto de Geografia e Ordenamento do Território da Universidade de Lisboa (CEG/IGOT-UL)

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