«A 22 de Janeiro de 2006 abriu-se um novo tempo para o povo boliviano, o da revolução democrática e cultural, e do processo de mudança que refundou o velho Estado colonial e neoliberal», afirmou, ontem, o presidente da República, Luis Arce, ao discursar na Casa Grande do Povo, em La Paz, no contexto do 14.º aniversário do Estado Plurinacional.
Arce fazia alusão à tomada de posse de Evo Morales, a 22 de Janeiro de 2006, como presidente do país sul-americano, bem como ao fim da República e ao nascimento do Estado Plurinacional da Bolívia, a 22 de Janeiro de 2010, no seguimento da nova Constituição Política do Estado, em vigor desde 2009.
Neste sentido, Luis Arce afirmou que, se o dia 6 de Agosto é a data em que se assinala a independência, 22 de Janeiro é o dia que evoca a refundação do Estado com um sentido plurinacional.
«Um Estado Plurinacional que assume e valoriza as nossas nações e que aprofunda a democracia», disse o chefe de Estado na presença de autoridades nacionais, regionais e representantes de organizações sociais, refere a Agencia Boliviana de Información (ABI).
Assembleia Constituinte, nova Constituição e um país «de todos», que deixou de ser mero fornecedor de matérias-primas
O Estado Plurinacional tem os seus alicerces na «histórica Assembleia Constituinte», a partir da qual surgiu uma nova Constituição, em 2009, que permitiu deixar «para trás essas estruturas anquilosadas de um Estado que existia para uns poucos e virava as costas às grandes maiorias», frisou.
Essa Carta Magna, que estabelece que o país boliviano é composto por todos os bolivianos – por todas as nações e povos indígenas, originários, camponeses, comunidades africanas –, definiu igualmente uma nova estrutura e organização económica para o Estado, «um modelo virado para melhorar a qualidade de vida» dos bolivianos, lembrou.
Num discurso com menos de uma hora de duração, Arce sublinhou a aposta em políticas sociais, da saúde, educação, cultura, bem como o investimento no desenvolvimento económico produtivo.
Neste sentido, lembrou que, antes da Revolução Democrática e Cultural, o país sul-americano tinha sido condenado a ser um mero fornecedor de matérias-primas, e que isso mudou, pois o Estado Plurinacional recuperou a soberania dos recursos naturais e apostou na industrialização, para substituir as importações.
Nas palavras de Luis Arce, essa política tem como finalidade a construção de uma economia sólida, integrada, soberana, de modo a reforçar o mercado interno e a acelerar o desenvolvimento integral da Bolívia.
Deixar para trás o modelo neoliberal e as privatizações, aprofundar a integração latino-americana e o multilateralismo
«Deixámos para trás o modelo neoliberal, um modelo de privatizações e gerador de fome, de saque ao Estado, imposto à maior parte dos países latino-americanos, no contexto de uma estratégia de dominação e hegemonia unipolar, que procurou sempre apropriar-se dos nossos recursos naturais para financiar o desenvolvimento capitalista de países do Norte», afirmou.
A este propósito, disse que, a nível internacional, a Bolívia pretende reforçar alianças com países que partilham os mesmos ideais de construção da Pátria Grande, para juntar forças e «pôr fim a abusos hegemónicos».
Referiu-se a figuras de esquerda e progressistas como Lula da Silva (Brasil), Gabriel Boric (Chile) e Alberto Fernández (Argentina), enquanto «no Peru o presidente que venceu as eleições, o professor rural Pedro Castillo, foi destituído do seu mandato e encarcerado».
Luis Arce pediu ainda ao país que não perca de vista a ruptura da ordem constitucional de 2019, «quando a autoproclamada presidente Jeanine Áñez procurou voltar à República colonial e ao modelo neoliberal».
«No entanto, o povo boliviano recuperou a democracia em 2020 nas ruas e nas urnas, com mais de 55% do voto popular», disse.
«E graças a essa luta retomámos a senda de construção do nosso Estado Plurinacional, a senda da inclusão, a senda da estabilidade e do crescimento económico com justiça social», frisou.
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