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«Hasta enterrarlos en el mar», cantavam Alberti e Ibañez

Lembrar os poetas livres de um povo afogado em sangue, fará em 2019 oitenta anos. Colóquios, literatura infanto-juvenil e outra, teatro, cinema, música e artes visuais: são as sugestões culturais.

Miliciana vigilante em Barcelona. Foto de Arquivo da Guerra Civil de Espanha (1936-1939).
Miliciana vigilante em Barcelona. Foto de Arquivo da Guerra Civil de Espanha (1936-1939). Créditos / Fonte: pinguinos en Paris

Quando se fala da Guerra Civil espanhola e do assassinato de Federico García Lorca (1898-1936) pelos partidários de Franco, é difícil não lembrar a primeira parte do poema “El crimen fue en Granada” do grande poeta espanhol Antonio Machado (1875-1939) – que morreria, ele próprio, já em França, na sequência da fuga às tropas fascistas e do esmagamento das forças democráticas da República. Recordemos, em tradução livre, esses versos:

Viram-no, caminhando entre espingardas
por uma longa rua,
sair para o campo frio,
ainda com estrelas, era de madrugada.
Mataram Federico
quando a luz assomava.

O pelotão de fuzilamento
não se atreveu a olhar-lhe o rosto.
Todos fecharam os olhos;
rezaram: nem Deus te salva!
Morto caiu Federico,

– sangue na fronte e chumbo nas entranhas –
… Que foi o crime em Granada,
ficai a saber – pobre Granada! – na sua Granada!...

Este trecho é apenas um dos inúmeros escritos literários que, em castelhano como em muitos outros idiomas, foram sendo compostos, ao longo das décadas e até hoje, sob o impacto da Guerra Civil. Basta lembrar poemas de Rafael Alberti [que aqui se escuta na própria voz e na voz de Paco Ibañez, numa comovente gravação],

Miguel Hernández, Leon Felipe e Vicente Aleixandre, do peruano Cesar Vallejo, do chileno Pablo Neruda, do inglês Stephen Spender, dos brasileiros Manuel Bandeira e Carlos Drummond de Andrade, dos portugueses Miguel Torga, José Gomes Ferreira, Carlos de Oliveira e Joaquim Namorado, sem esquecer inumeráveis narrativas de ficção: de Manuel Rivas, Javier Cercas, Marina Mayoral, Agustín Fernández Paz, do norte-americano Ernest Hemingway,

Hemingway em Espanha, durante a Guerra Civil (1936-1939). Créditos

do francês André Malraux, e dos portugueses Jorge de Sena, Manuel Tiago, José Saramago, Fernando Assis Pacheco, Álvaro Guerra, Manuel Seabra, Bento da Cruz, José Viale Moutinho, Francisco Duarte Mangas e outros. Uma lista que se poderia prolongar e muito, pois se existe conflito bélico moderno que, internacionalmente, suscitou atenção e comoção extremas (a par da solidariedade com os republicanos) por parte de escritores e artistas, tal conflito foi, justamente, a Guerra Civil espanhola.

Neste tempo em que os democratas são de novo convocados para a denúncia e combate às novas formas que o fascismo assume e às suas inclinações militaristas (nunca será de mais lembrar os cada vez mais perigosos avanços da extrema-direita na Ucrânia, na Polónia, na Áustria, na Suécia, na Flandres, na França, na Itália, na Alemanha, em Israel, nos EUA, no Brasil, nas Filipinas…), importa evocar a Guerra Civil e a luta de classes em Espanha, entre 1936 e 1939, bem como o que representou o sanguinário fascismo espanhol e o apoio que colheu quer de Hitler e Mussolini quer de Salazar, ou seja do nazi-fascismo europeu da época, preparando terreno para o eclodir da Segunda Guerra Mundial.

As crianças, eternas derrotadas pela guerra. A fuga de Málaga tomada pelos franquistas para o porto de Almería, sob o fogo incessante dos franquistas, foi um dos piores massacres da Guerra Civil. Chamaram-lhe «La Desbandada» e esteve na origem da «Guernica» de Picasso. CréditosHazen Sise / Jesús Majada/CAF

Guerra Civil de Espanha: ciclo de conferências na UPP

Aproximando-se pois o octogésimo aniversário do fim da Guerra em Espanha, 2019 será, naturalmente, um ano para tudo isto discutir. E por isso a Universidade Popular do Porto (Rua da Boavista, 736, Porto) organiza já, neste final de 2018, um ciclo de conferências sobre o tema.

Miguel Hernández, declamando em público, numa homenagem a Ramón Sije, en Orihuela, Espanha (1936). Créditos

A documentação acerca da Guerra Civil de Espanha no Arquivo Nacional da Torre do Tombo será questão a abordar por Silvestre Lacerda, arquivista, director do Arquivo Nacional da Torre do Tombo e da Direcção-Geral do Livro, dos Arquivos e das Bibliotecas, no dia 3 de Dezembro (segunda-feira), às 18 horas.

A 6 de Dezembro, pela mesma hora, caberá a José António Gomes, professor da Escola Superior de Educação do Porto, desenvolver o tema da Guerra Civil Espanhola na literatura portuguesa e, a 14 de Dezembro, também às 18h, Maria del Pilar Nicolás Martínez, docente da Universidade do Porto, falará sobre a Guerra Civil na literatura do seu país. Sónia Duarte, professora e investigadora, é a comissária desta meritória iniciativa.

Pelo Joãozinho!, um balanço

Passo a outra actividade no Porto, esta de natureza político-cultural: a conferência de imprensa aberta, na sede da Associação dos Jornalistas e Homens de Letras do Porto, para apresentar à comunicação social o balanço do abaixo-assinado Pelo Joãozinho! Será na quarta-feira, dia 5 de Dezembro, pelas 11h. Cito a informação disponível: as 27 mil assinaturas recolhidas em um mês, de norte a sul, “representaram sério elemento desbloqueador de um impasse de anos, tornando tangível – através de investimento público no Serviço Nacional de Saúde – o almejado sonho de construção da nova ala pediátrica do Hospital São João, em favor da saúde das crianças do Porto, da Região, do País”.

O professor Manuel Sobrinho Simões – uma das personalidades referenciais da iniciativa, a par do arquitecto Álvaro Siza e da professora Maria de Sousa – estará presente e intervirá. Também o jornalista Júlio Roldão, como porta-voz do movimento.” Recorde-se que tudo começou, pouco após o lançamento do livro infanto-juvenil de Augusto Baptista (escritor, artista visual, jornalista), com ilustrações de Zé Luís Darocha e design de João Bicker, O Lobo Mau no Hospital – bela, divertida e solidária co-edição do Centro Hospital de S. João e da AJHLP, cuja leitura neste Natal vivamente se recomenda.

Em maré de livros: biografia de Saramago, encontros luso-galaicos do livro infantil, Eça e Os Maias

Em maré de livros, e no vigésimo aniversário do Nobel da Literatura português, é de chamar a atenção para a apresentação, a 14 de Dezembro, terça-feira, pelas 18.15h, do livro José Saramago: Rota de Vida – Uma Biografia (Horizonte, 2018), de Joaquim Vieira. Terá lugar na sempre muito activa livraria UNICEPE, no Porto.

Nos dias 13, 14 e 15 de Dezembro, no auditório da Escola Superior de Educação do Porto, decorrerão os 24.os Encontros Luso-Galaicos do Livro Infantil e Juvenil, dedicados este ano ao tema: “Literatura para a Infância e Educação Literária: diálogos intergeracionais”. Além da presença de investigadores portugueses e galegos, e de uma pequena homenagem, no dia 13, a Saramago, estão previstas as participações dos escritores portugueses Pitum Keil do Amaral (autor de O Solar de Berbiande e de O Zbiriguidófilo e Outras Histórias), Conceição Dias Tomé (autora do premiado O Caderno do Avô Heinrich e de outros títulos) e João Manuel Ribeiro (autor, por exemplo, de Meu Avô, Rei de Coisa Pouca) e ainda da ilustradora Ana Biscaia. Intervirão também as escritoras galegas Concha Blanco e María Canosa, a editora Laura Rodríguez, a tradutora Ánxela Gracián e vários outros comunicadores e conferencistas de Portugal e da Galiza, quase todos ligados à Rede LIJMI (Literaturas Infantiles y Juveniles del Marco Ibérico e Iberoamericano), tal como a sua coordenadora, Blanca-Ana Roig Rechou, da Universidade de Santiago de Compostela.

Em Lisboa, não perca a exposição (e se possível leve os jovens a conhecê-la) Eça e Os Maias – Tudo o que tenho no saco, na Fundação Calouste Gulbenkian. Poderá ver fotografia, pintura, escultura, música e filmes, caricaturas, cartas, crónicas, peças do espólio pessoal de Eça de Queirós mostradas pela primeira vez em Lisboa. Há ainda uma programação complementar de mesas redondas e de cinema, de assistência gratuita, que vale a pena. Uma exposição organizada em colaboração com a Fundação Eça de Queiroz, com curadoria de Isabel Pires de Lima, patente de 30 de Novembro de 2018 a 18 de Fevereiro de 2019.

Soldados da República lêem, num intervalo dos combates. Guerra Civil de espanha (1936-1939) Créditos

Novos livros

Ainda em maré de livros, permita leitor, que deixe mais algumas sugestões.

Na poesia, a lírica combativa, mas não só, de Domingos Lobo, percorrendo um arco temporal que vai da Guerra Colonial ao presente. Refiro-me à obra Os Dias Desarmados (Página a Página, 2018).

De Braga e da editora Crescente Branco, chega Cleptopsydra, de Vergílio Alberto Vieira (n. 1950), livro quase integralmente preenchido por sonetos, de provocador título neologístico (um mot valise), que de imediato sugere o forte vínculo dos versos à Clepsidra, de Camilo Pessanha (1867-1926) – essa obra essencial do simbolismo português e da nossa modernidade literária que o poeta de Amares aqui glosa e recria. Como explica o prefaciador, Ernesto Rodrigues, analisando a questão hipo/hipertextual, “poderíamos falar de transposição, e dentro da imitação, em imitação séria, acrescidas de inesperado travestimento satírico”, pelo menos em alguns momentos.

Não esqueça, por outro lado, que Joaquim Manuel Magalhães acaba de publicar nova súmula poética revista, Para Comigo (Relógio d’Água, 2018). Uma poesia muito considerada por muitos e que importa (re)visitar.

Imperdível me parece a versão portuguesa de 42 Elegias, de Propércio (43 a.C. — 17), edição da Afrontamento, com data de 2018. Pena que o autor da belíssima tradução do latim não tenha vivido para as ver publicadas. Falo desse poeta apreciado por muitos, e notável tradutor, que foi Albano Martins (1930-2018). Uma obra clássica, por isso essencial, e vertida por alguém a quem a cultura deste país muito ficará a dever.

No campo do ensaio, assinale-se (finalmente) a reedição dessa preciosidade de 1972, indispensável a qualquer interessado em arte e na sua desmontagem e leitura críticas que é Modos de Ver (Antígona, 2018), do escritor, arguto ensaísta e crítico de arte britânico que foi John Berger (1926-2017). Desta feita, a tradução e o prefácio ficamos a devê-los a Jorge Leandro Rosa. O livro, recorde-se, foi escrito na sequência do êxito que a série homónima da BBC conheceu, contando com diversas colaborações. É ilustrado, e o seu discurso sedutoramente pedagógico. John Berger ensina-nos a ver.

Na área do livro infanto-juvenil, saúde-se a publicação de Coisas que Acontecem (Bruáa, 2018), belo romance de/para adolescentes da jovem Inês Barata Raposo, com ilustrações de uma artista incontornável, Susa Monteiro.

Páginas do livro «Coisas que acontecem», texto de Inês Barata Raposo e ilustrações de Susa Monteiro,editora Bruaá. Créditos

Foi o vencedor do Prémio Branquinho da Fonseca Expresso / Gulbenkian, de 2017, na modalidade de literatura juvenil. Outro livro distinguido no âmbito do mesmo prémio, modalidade infantil, acaba de sair. Trata-se de A Construção do Mundo (Horizonte, 2018), de Fábio Monteiro, com ilustrações de Mariana Rio.

Por último, é de referir Quaderna – literatura e arte (Braga: Quarto Crescente, 2018), publicação literária não periódica mas com aspecto de periódica, que procura resgatar o conceito de “revista de literatura e artes”. Como se sabe, desapareceram, praticamente, da nossa cena editorial as revistas literárias, substituídas por revistas académicas, de moldura universitária, que não cumprem a mesma função. A direcção (e autoria de alguns textos) de Quaderna é de Vergílio Alberto Vieira e colaboram Almeida Faria, Gil de Carvalho, Ernesto Rodrigues, o brasileiro Antônio Torres, Jorge Fernandes e outros. São publicados inéditos e manuscritos (Virgílio Martinho, Joaquim Manuel Magalhães, António Gancho, o brasileiro Walmir Ayala), traduções (Marianne Moore), uma entrevista a Manuel Lourenzo, dramaturgo e homem de teatro galego com vasta obra, e outras matérias. Assinale-se a coragem e singularidade cultural da iniciativa e registe-se o bom gosto da publicação no aspecto da concepção gráfica. Um caso de simples e desinteressado amor à arte – o que não é pequena coisa.

Espectáculos em Almada, no Minho, em Aveiro, no Porto

Atenção à sempre desafiadora programação do Teatro Municipal Joaquim Benite/Companhia de Teatro de Almada, que prossegue com novos espectáculos, incluindo uma adaptação (viva! viva!) de O Romance da Raposa, esse genial livro para todos, de Aquilino Ribeiro. Consulte a programação aqui.

«O Romance da Raposa», espectáculo do Teatro Municipal Joaquim Benite/Companhia de Teatro de Almada, adaptado do livro homónimo de Aquilino Ribeiro. Almada, 2018. CréditosRui Mateus / Companhia de Teatro de Almada

Já agora, e rumando a norte, explore igualmente as programações, interessantes, da companhia Comédias do Minho e do Teatro Aveirense e não se esqueça de que tem bons espectáculos e outras actividades interessantes a decorrer no Teatro Nacional de S. João no Porto.

Cinema: Oliveira em Lisboa

Atenção à próxima integral de Manoel de Oliveira, na Cinemateca Portuguesa, em Lisboa: entre Dezembro de 2018 e Janeiro de 2019.

Música

Bruckner e Haas – compositores a ouvir na Casa da Música, sala Suggia, a 9 de Dezembro, pela Orquestra Sinfónica do Porto Casa da Música, com direcção musical de Baldur Brönniman e com Miranda Cuckson, no violino. Veja a restante programação aqui e oiça um extracto Sinfonia n.º 3 de Anton Bruckner, que será uma das peças tocadas no concerto:

Ainda em matéria de música, e porque estamos a chegar a uma quadra festiva, aconselha-se uma visita à programação natalícia de música, da Fundação Calouste Gulbenkian, em Lisboa. Vale a pena.

Artes visuais

Por último, sugestão de uma exposição: Ernesto de Sousa: um interventor plural no mundo das Artes. A mostra estará patente até 7 de Dezembro de 2018, na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa. A não perder, pela reconhecida relevância deste artista (1921-1988) na arte portuguesa contemporânea.

Janas, Sintra, 70s. CréditosErnesto de Sousa /

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