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Armazém do Campo e Expressão Popular têm novo espaço no centro de São Paulo

«Não é só comida ou livro, propomos um modelo de socialização para os espaços urbanos», afirma João Paulo Rodrigues, dirigente do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST).

O Armazém e a Livraria estão abertos ao público de segunda a sexta, das 9h às 20h, e aos sábados, das 9h às 19h 
CréditosGabriela Moncau / Brasil de Fato

Um novo ponto de encontro foi inaugurado este sábado, no centro da capital paulista, para eventos culturais e de formação, para venda de livros e de alimentos saudáveis produzidos pelo MST. O Armazém do Campo e a livraria da editora Expressão Popular partilham agora um espaço na Alameda Nothmann, no Bairro de Campos Elíseos.

De acordo com João Paulo Rodrigues, da coordenação nacional do MST, a escolha da zona para o novo espaço não foi ao acaso, sendo que o objectivo é «incidir nas disputas» que envolvem o desenho futuro do centro de São Paulo.

Palco histórico de manifestações e da acção de movimentos populares, a zona é alvo da especulação imobiliária e de processos de gentrificação, revela o Brasil de Fato. Ao mesmo tempo, concentra uma boa parte da população em situação de rua da cidade, bem como a chamada Cracolândia (espaço assim denominado pelo tráfico e consumo de estupefacientes que ali têm lugar).

Segundo indica a fonte, o actual governador do estado de São Paulo, Tarcísio de Freitas (direita), anunciou a intenção de transferir para o Bairro de Campos Elíseos o centro administrativo do governo estadual, no âmbito de um designado processo de «requalificação» da zona, por meio de uma parceria público-privado (PPP).

A este propósito, João Paulo Rodrigues afirma: «Nós não podemos deixar que esse bairro seja um novo shopping center, uma Faria Lima ou coisa parecida. Tem que manter essa tradição do popular e, acima de tudo, de alternativa: um modelo de São Paulo que nós defendemos.»

«Inaugurámos este espaço para debater cultura, educação e alimentação no centro de São Paulo, uma das cidades mais importantes do mundo, numa região popular, abandonada pelo Estado», disse o dirigente do MST ao Brasil de Fato. «O Estado vai ter que achar uma alternativa de como tratar o tema da Cracolândia. Acho que a esquerda também deveria tratar esse tema com o devido cuidado», frisou.

«Nós, os movimentos populares, estamos dizendo: é possível ter espaços bonitos, de qualidade e que sejam organizados e tocados pelo povo», declarou o dirigente do MST, acrescentando: «Por isso é muito mais que o espaço da livraria, do Armazém do Campo. É um modelo de socialização dos espaços urbanos das grandes capitais.»

A inauguração

Com um programa que durou o dia todo, a inauguração do novo espaço ficou marcada por jogos, música, comida, apresentações culturais, intervenções de representantes políticos e activistas.

À tarde, foi lançada uma reedição – com a chancela da Expressão Popular – de Vidas Secas, obra clássica de Graciliano Ramos. Escrito entre 1937 e 1938, o romance aborda a história, a relação e as emoções de uma família migrante do sertão nordestino, atravessada pela seca, a fome e a luta pela sobrevivência.

Armazém e livraria

Os armazéns do campo surgiram há oito anos como aposta do MST para um espaço de diálogo entre o campo e a cidade, com o intuito de mostrar à população urbana aquilo que é produzido nas áreas de reforma agrária. Actualmente, há 30 lojas destas espalhadas por todo o país sul-americano.

Por seu lado, a Expressão Popular é uma editora, fundada em 1999 com o objectivo de produzir livros a preços acessíveis. Para tal, conta com autores que habitualmente cedem os direitos de criação, tradução ou imagem, bem como com a ajuda voluntária nas várias etapas da produção dos livros.

Em 25 anos de existência, em que se consolidou como um meio de divulgação de ideias progressistas, formação de militantes e democratização do acesso à literatura, a Expressão Popular publicou cerca de 700 títulos, 400 dos quais constituem o catálogo permanente da editora.

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