A arte não avança, move-se

Exposições coletivas: «A arte não avança, move-se» na Festa do Avante, «Reserva para o Futuro» na SNBA, «O Jardim Secreto» nas Caldas da Rainha e «A Outra Vida Dos Animais no Museu do Chiado».

Exposição coletiva: «A arte não avança, move-se», no Espaço de Artes Plásticas da Festa do “Avante!” na Quinta da Atalaia, Amora, Seixal, 2, 3 e 4 de Setembro. 
Créditos / Colectiva Festa do Avante

O Espaço de Artes Plásticas da Festa do “Avante!”1, no Seixal, vai apresentar a exposição coletiva «A arte não avança, move-se», que decorre de 2 a 4 de Setembro. Nesta exposição de artes plásticas participam trinta e oito artistas com cerca de oitenta obras de várias expressões e técnicas artísticas como colagem, escultura, fotografia, fotopolímero, gravura em metal, pintura, serigrafia utilizando diversos materiais como cera de abelha, papel, linho, esferovite, madeira, tintas, mármore e tecido, entre muitos outros.

O formato desta exposição vem na sequência de diversas coletivas que se têm vindo a desenvolver na Festa do Avante, em anos intercalares às bienais da Festa do “Avante!”, dando como exemplo as que foram realizadas em 2015 ou em 2018, em que se fizeram convites a artistas que têm colaborado com alguma regularidade nas diversas exposições da Bienal do Avante, contribuindo assim para que os artistas, e em especial os artistas plásticos, possam ultrapassar o enorme agravamento das suas condições de trabalho que sentiram nos últimos tempos, tanto no que se refere à criação como na escassez de exposições para apresentarem os seus projetos artísticos.

A frase «A arte não avança, move-se», retirada dos Cadernos de Lanzarote, vai ser utilizada como mote da exposição, sendo uma homenagem ao escritor José Saramago, galardoado com o Nobel de Literatura de 1998, e, ao mesmo tempo, motivo para refletir sobre a arte em geral. Uma dessas reflexões vai ser publicada no catálogo da exposição, num texto original de Manuel Araújo, no qual se reflete sobre se a questão do progresso em arte, onde se afirma que «é um facto que há muito se discute que a arte não cede perante o progresso contínuo registado pelas novas conquistas científicas e tecnológicas que vão tornando obsoletas concepções e ferramentas».  Acrescentando que «as artes, desde que assim começaram a ser classificadas, conhecidas e praticadas desde o Renascimento, correspondem ao tempo em que são realizadas, sendo expressão da sua época. Transcorridos séculos em que os contornos sociais, económicos e políticos que a tornaram possível são arqueologia, não perdem a capacidade de atracção e de fascínio (…) O que se demonstra é que num tempo desde sempre marcado por uma  aceleração de progresso contínuo, a  analogia entre as artes a ciência e tecnologia não faz sentido, é falsa como é falso que nas artes um novo modo de expressão é inevitavelmente superior ao que o precedeu, embora evidentemente se reporte ao carácter histórico mutável dos tempos que a arte procura exprimir.»

Quanto às expressões das artes e da cultura na Festa do Avante, e mais precisamente as exposições de artes visuais, Manuel Augusto Araújo salienta, que estas «lutam sem detença pela democratização das artes e da cultura possíveis no quadro social, económico e político em que vivemos para que com ele sejamos confrontados e a arte se confronte consigo própria num acto de resistência em relação ao seu tempo na “tradição dos oprimidos” como Walter Benjamin proclamava.»

Exposição: «Reserva para o Futuro», no Salão da SNBA- Sociedade Nacional de Belas-Artes em Lisboa, até dia 27 de Agosto.  Créditos

Até dia 27 de Agosto, o Salão da SNBA- Sociedade Nacional de Belas-Artes2 apresenta a exposição «Reserva para o Futuro» dos Alunos Finalistas do Curso de Pintura da Faculdade de Belas-Artes. Esta exposição que apresenta alguns dos trabalhos desenvolvidos ao longo do ano de 44 alunos tem a coordenação do professor Fernando Quintas e a curadoria de Joana Duarte.

Manuel Botelho, um dos seus professores na Faculdade de Belas-Artes, revela-nos num texto as suas vivências com estes alunos e a frustração de um processo que foi interrompido pela pandemia: «Foi um início de ano como tantos outros. Falámos das condições de trabalho nos ateliês de pintura, da vivência individual e coletiva nos anos de faculdade, dos paradoxos do processo criativo… falámos da vida, da arte, da paixão que nos une (…) Desafiei-os a pensar, desafiei-os a fazer. Refletimos juntos sobre obras e intenções. Falámos de tudo, livremente, desde as grandes opções dos seus projetos pessoais e de obras de autores de referência até questões de ordem formal e mesmo técnica. Os ateliês e corredores encheram-se de trabalhos de toda a espécie, de objetos e imagens. Um frenesim criativo tomou conta dos espaços disponíveis, que passámos a percorrer com o cuidado de uma loja de porcelanas. Depois, a meio do ano letivo, a pandemia mandou-nos a todos para casa. No dia 11 de março as aulas presenciais foram interrompidas e a faculdade fechou as portas a alunos e professores. A desilusão foi tremenda. Fisicamente longe dos alunos e das suas obras, os meus derradeiros meses como professor da FBAUL pareciam condenados». Manuel Botelho confidencia-nos ainda no texto, que dedica a estes alunos, dizendo que «os jovens que agora apresentam os seus trabalhos nesta empolgante exposição de finalistas foram meus alunos – foram os meus últimos alunos». Mais informações na página da Faculdade de Belas-Artes.

Exposição de Gravura Contemporânea: «O Jardim Secreto», na Galeria de Exposição do Posto de Turismo das Caldas da Rainha, até 26 de Agosto.  Créditos

A Galeria de Exposição do Posto de Turismo do Município das Caldas da Rainha3 apresenta a Exposição de Gravura Contemporânea «O Jardim Secreto» até 26 de Agosto. Nesta exposição participam cinco artistas: Céu Costa, Júlia Pintão, Mami Higuchi, Najla Leroy e Ruth Lee, que embora com percursos e procedimentos diferentes apresentam trabalhos que têm como base técnicas da gravura contemporânea e vivem no Porto. A curadoria da exposição «O Jardim Secreto» é da responsabilidade de Célia Bragança, professora na ESAD.CR – IPLeiria.

Céu Costa e Júlia Pintão obtiveram a sua formação artística na Cooperativa Árvore e juntamente com a artista japonesa Mami Higuchi foram cofundadoras da «Matriz»-Associação de Gravura do Porto em 20064, tendo participado, desde então, em diversos projetos e intercâmbios de gravura em Portugal e no estrangeiro, Higuchi participa nesta exposição com trabalhos onde integra elementos naturais, flores e plantas como as camélias e que surgem nas suas gravuras. Ruth Lee, nasceu no Reino Unido, é uma artista têxtil, gráfica, contadora de histórias visuais apresentando variadas técnicas de impressão desde a xilogravura até a flores em tecido que são também base para gravuras. Najla Leroy, uma artista plástica brasileira, é investigadora com um «trabalho artístico autobiográfico, onde observa com curiosidade a natureza e sua relação no processo criativo» expressando-se através de desenhos, gravuras e fotografias, apresenta nesta exposição um projeto com «trabalhos em gravura desenvolvidos em ateliê, onde utiliza três posturas básicas da yoga, envolvidas com folhagens do jardim da casa onde morou durante 30 anos.

Obra de Wireman, aka David Oliveira, Raposa, 2017, Arame e tule. Exposição: «A Outra Vida Dos Animais», no Museu Nacional de Arte Contemporânea do Chiado, até 28 de Agosto.  Créditos

A exposição «A Outra Vida Dos Animais» no Museu Nacional de Arte Contemporânea do Chiado5, poderá ainda ser visitada até 28 de Agosto. Esta exposição tem a curadoria de Emília Ferreira, a diretora do Museu, apresenta cerca de setenta obras, dos artistas Ana Roque de Oliveira, António Manuel da Fonseca, Amadeo de Souza-Cardoso, António Soares, Dordio Gomes, Ema M, Henrique Pousão, Júlia Lema Barros, Júlio Pomar, Miguel Branco, Mikhail Karikis, Nelson Ferreira, Paula Rego, Pedro Proença, Rui Macedo, Sousa Pinto e art.TheLisbonWireman apresentando trabalhos de desenho, pintura, fotografia, escultura, instalação, vídeo e media.

 «Ao longo dos séculos, os animais foram vistos por nós de muitas maneiras. No Egito, alguns foram considerados deuses. Noutras culturas, foram considerados importantes atributos dos deuses. Mas, em geral, foram vistos como muito diferentes de nós. Como se a nossa espécie fosse realmente superior a todas as outras e pudesse dispor das demais ao seu bel-prazer. (…) As suas vidas, que temos mantido secretas e fechadas em imagens criadas por nós, são, afinal, muito mais ricas do que imaginamos. Percebemos finalmente que cada espécie que levamos à extinção não significa apenas a perda de beleza ou diversidade — o que já seria suficientemente grave —, mas que nos coloca, a nós também, mais perto do nosso próprio fim.

Continuaremos a manter secretas as vozes dos outros animais, levando-as até ao último e intransponível segredo — o do seu desaparecimento para sempre — ou conseguiremos dar voz aos outros e, com isso, perceber melhor a nossa própria voz?

Continuaremos a negar a nossa natureza animal?»

Estas são algumas das muitas perguntas com que pretendem, Ana Vasconcelos e Emília Ferreira, questionar-nos com esta exposição, esclarecendo ainda, no texto da exposição, que “a relação artística do homem com os animais foi uma constante desde o início da história da humanidade, tal como a conhecemos».

  • 1.  Festa do Avante. Av. Baía Natural do Seixal 415, 2845-415 Amora. Horário: sexta 18h-24h; sábado 10h-24h e domingo 10h-22h.
  • 2.  Sociedade Nacional de Belas-Artes - Rua Barata Salgueiro, 36, 1250-044 Lisboa. Horário: Dias úteis das 12h00 – 19h00 e sábados das 14h00 – 19h00.
  • 3.  Galeria de Exposição do Posto de Turismo das Caldas da Rainha - R. do Provedor Frei Jorge de São Paulo, 2500-254 Caldas da Rainha. Horário: Segunda a Sexta - 10H às 13H30 - 14H às 16H.
  • 4. A Matriz-Associação de Gravura do Porto é uma Associação Cultural sem fins lucrativos que procura fomentar a prática da Gravura Artística, foi fundada em 2006 e procurou reunir energias à volta da paixão pela gravura e desenvolver novos projetos a partir da troca de saberes e experiências entre gravadores. Promovem exposições de intercâmbio quer em Portugal quer no estrangeiro, bem como a organização de workshops para os quais convidam diversos gravadores.
  • 5. Museu Nacional de Arte Contemporânea do Chiado - Rua Serpa Pinto, 4; Rua Capelo, 13 1200-444 Lisboa. Horário: Terça-feira a Domingo: 10h00 às 13h00 e das 14h00 às 18h00.

Contribui para uma boa ideia

Desde há vários anos, o AbrilAbril assume diariamente o seu compromisso com a verdade, a justiça social, a solidariedade e a paz.

O teu contributo vem reforçar o nosso projecto e consolidar a nossa presença.

Contribui aqui