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Despedimento colectivo na Global Media é consequência da gestão de um fundo obscuro

Os privados que detêm os meios de comunicação procuram condicioná-los à medida dos seus interesses. O caso da Global Media merece toda a atenção porque para além de se saber que quem detém 51% do grupo é um Fundo de Investimento sedeado nas Bahamas, pouco mais se sabe sobre ele. 

CréditosTiago Petinga / Agência Lusa

A Outubro de 2023 um fundo de investimento chamado World Opportunity Fund Ltd e sedeado nas Bahamas, passou a ser o accionista maioritário da Global Media, a empresa que detém o Diário de Notícias, o Jornal de Notícias, O Jogo,  ou a TSF e que está no centro do furacão. 

Esse fundo, detido pela pela gestora de fundos Union Capital Group tinha já comprado em Julho uma participação uma posição de 38% no capital na empresa Páginas Civilizadas que detinha 50,25% da Global Media e 22,35% da agência de notícias Lusa. Com essa compra à empresa de Marco Galinha, o tal fundo ficava assim com 51% da Páginas Civilizadas.

Não ficando satisfeito, o World Opportunity Fund comprou nova participação ao grupo BEL, detido pelo mesmo Marco Galinha, que se tinha tornado recentemente o accionista maioritário do grupo de comunicação social e que com isso perdeu o controlo. Esta autêntica matrioska revela, apenas e somente, como funcionam os grandes grupos monopolistas que se multiplicam em fundos de participações sociais em empresas. 

A questão é que para além de todas estas compras e consequências mexidas na administração da Global Media, onde a título de exemplo Marco Galinha deixa a presidência executiva para ser José Paulo Fafe a ocupá-la, pouco se sabe. 

O Grupo Bel justificou todas estas mudança por entender que naquele momento o foco da atuação devesse «ser dirigido para outros projetos relevantes centrados na consolidação e no crescimento do grupo de uma forma sustentável» e considerou tudo o que aconteceu como «imprescindível», dada «a necessidade de ter um jornalismo livre, independente e credível para que as sociedades mantenham o rumo da democracia e liberdade».

Acontece que nada disto se verificou e está em marcha um despedimento colectivo de 150 a 200 trabalhadores. O estranho contraste com o esperado e prometido com a realidade não podia ser mais evidente. 

A verdade é que algo que nasce torto, tarde se endireita e o surgimento do tal World Opportunity Fund não augurou nada de bom. Para começar nada se sabe da composição accionista desse fundo, depois a sede nas Bahamas parece trazer consigo suspeita de fundos pouco declarados e por último há o facto do seu registo de beneficiários efetivos ter acesso público e está apenas reservado a residentes. Nada garante que a Global Média seja para esse fundo apenas uma forma de lavar dinheiro, num processo onde os trabalhadores são os mais afectados. 

Acresce a todo este emaranhado de problemas apenas mais um: a Agência Lusa. É que as Páginas Civilizadas detêm 22,35% da agência de notícias e a Global Media detém outros 23,36%. O tal fundo muito pouco transparente detém as participações sociais e consegue já controlar ambas as empresas, o que significa que o World Opportunity Fund pode controlar 45,71% de uma organização de jornalismo especializada em recolher informações e difundir notícias directamente das fontes para os veículos de comunicação - ou seja, alimenta grande parte dos jornais, rádios e televisões. 

Isto tudo representa um enorme perigo para a liberdade de informação, mas também para a democracia. Com «pezinhos de lã»  um fundo que ninguém conhece bem o que é, conseguiu já encetar um despedimento colectivo de um dos maiores grupos de informação e comunicação do país e controlar a Agência Lusa.

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