O líder do PSD deu o mote para a dramatização da situação política. «Vem aí o diabo», foi a pedra de toque do discurso de Passos Coelho, para consumo interno, sobre as alegadas consequências nefastas para o País da acção do Governo e dos compromissos do PS com o BE, o PCP e o PEV. Uma dramatização acompanhada por um importante leque de comentadores e analistas, que não se cansam de agitar o papão da mudança, provocado pela alteração da composição da Assembleia da República. Houve mesmo quem ligasse o conjunto de audiências aos partidos e parceiros sociais, promovidas pelo Presidente da República, a esta encenação de uma suposta crise na chamada rentrée política.
Uma acção sustentada pelas orquestradas pressões internas e externas, e que é inseparável de uma continuada e persistente operação de chantagem das instituições europeias, em particular da Comissão Europeia, em torno das contas públicas e com o objectivo, ontem tornado claro, de condicionar as opções do Governo na elaboração do Orçamento do Estado para 2017.
Aliás, à saída da audiência com Marcelo, também o presidente da Confederação Empresarial de Portugal falava da preocupação dos patrões e, embora não afirmando que «em Setembro vem aí o diabo», sempre foi alertando para a eventualidade de, após o Verão, o País poder entrar «num clima de alguma instabilidade». Falta saber de que instabilidade se fala. Porventura não será da instabilidade social, provocada pela acção do governo PSD/CDS, com milhões de portugueses a verem a sua vida profundamente alterada e, em muitos casos, transformada num inferno em consequência de políticas que promoveram desemprego, baixos salários e pobreza. Nem da instabilidade política que provocaria um governo do PSD/CDS, em minoria na Assembleia da República, e que Cavaco Silva tentou forçar em nome da tal estabilidade, tão endeusada pelos grandes grupos económicos, pelos beneficiários das parcerias publico-privadas e pelos que ficam com pele de galinha mal ouvem falar, por exemplo, na subida do salário mínimo ou no desbloqueamento da contratação colectiva.
Trata-se da estabilidade dos 263 milhões de euros de lucro que a EDP registou no primeiro trimestre de 2016, dos mais de 100 milhões de lucro que o BPI anunciou neste primeiro semestre ou dos muitos milhões de lucro de outras grandes empresas, nomeadamente as que Passos Coelho e Assunção Cristas privatizaram, como a ANA, os CTT ou a REN.
É caso para dizer: vem aí o diabo, que os carregue!
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