Hoje realiza-se mais uma greve dos trabalhadores da construtora Soares da Costa, com uma concentração no Porto. Isto depois de terem vindo há três dias a Lisboa, reunir com o Ministério do Trabalho e Segurança Social e concentrar-se em protesto. Foram 130, a maior parte vindos do Norte do país, e até decidiram «invadir» a sede da empresa, da qual só saíram quando foram recebidos por alguém da Administração.
E qual a motivação destes trabalhadores? Alguns deles estão há oito meses sem receber o salário. Outros há cinco meses, outros há três meses. Subsídios de Natal e férias também estão por receber.
Os trabalhadores, no entanto, continuam a trabalhar. Continuam a contribuir com a sua força de trabalho, sem receber com isso qualquer retribuição. Como se pode viver sem receber salários durante meses consecutivos? Esta é das primeiras questões com que nos deparamos quando conhecemos este caso.
Esta é uma situação que se arrasta há dois anos, altura em que os trabalhadores começaram a receber mais tarde o salário. A empresa começou a pagar só a dia 14,15,16 de cada mês. Há um ano começou a não pagar salários, e posteriormente acumularam-se atrasos que hoje vão até aos 8 meses no caso dos trabalhadores que laboram em Angola, e de três a cimco meses para os trabalhadores que estão em Portugal.
A empresa alega que estão retidos no Banco de Fomento de Angola 17 milhões de euros para pagar os salários dos trabalhadores, mas que não os conseguem converter de kwanzas para euros. Os trabalhadores já não aceitam esta justificação, pois continuam a trabalhar sem salário… e é necessário viver.
Vários relatos falam-nos da situação difícil em que vivem. Famílias em situações precárias, dificuldade em sustentar as necessidades mais básicas, filhos que têm de ser retirados dos estudos por dificuldades económicas.
Perante a falta de resposta do Governo (que apenas disse que ía monitorizar o caso) e da administração, que afirmou que tinham de esperar por uma auditoria, os 130 trabalhadores, que diziam «não dá mais», no limite do desespero, à pergunta do membro da Comissão de Trabalhadores – «E o que vamos fazer?» – reponderam em uníssono – «Luta! Mais luta!».
Esta é uma força que vem de quem já não tem nada a perder. Em pleno século XXI, este não é caso único de salários em atraso. Trabalhadores que estão a trabalhar em troca de nada. Numa outra altura chamava-se esclavagismo. Hoje alguns chamam «dificuldades das empresas».
Manuel Almeida, trabalhador há 42 anos na Soares da Costa dizia, enquanto esperava resposta da administração: «não vamos esmorecer nesta luta, nem que tenhamos de passar dias e noites amarrados à empresa». É isto que estes trabalhadores vão fazer, porque continuar a luta é a sua única saída.
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