Ponto final

Enquanto se prepara a entrega do terceiro maior banco nacional a abutres, a direita vai enchendo a discussão pública com uma novela que já merecia um ponto final há muito.

Créditos / CC BY-SA 3.0

Enquanto se desenrolam novos episódios em torno do folhetim promovido pela direita em torno da Caixa Geral de Depósitos, são afastados da discussão pública os reais problemas da Caixa, em particular, e do sistema financeiro nacional.

O Governo não andou bem no processo de transição da administração do banco público, em meados do ano passado, e tomou opções que mereceram crítica generalizada, a começar pelo valor que fixou para os salários dos gestores.

Se houve ou não intenção de furtá-los à apresentação das declarações de rendimentos é coisa que não sabemos, ainda que tenha ficado claro que essa obrigação se manteve sempre. A ter sido assumido qualquer compromisso noutro sentido por membros do Governo, essa é uma atitude que não pode deixar de merecer crítica.

Entretanto, o processo de venda do Novo Banco vai passando pelos pingos da chuva, arredada para segundo plano face às especulações animadas por sectores que sempre quiseram ver a Caixa em mãos privadas – talvez esperando que, assim, seja facilitada a transferência do terceiro maior banco nacional para os abutres da Lone Star.

O fundo norte-americano tem procurado, recentemente, amenizar as críticas que se seguiram à recomendação do Banco de Portugal para que seja aceite a sua proposta. Hoje mesmo, a Lone Star conseguiu plantar na imprensa notícias de convites endereçados a vários grupos económicos portugueses para entrarem consigo no capital do Novo Banco.

Parecem, assim, querer convencer aqueles que demonstraram preocupação com a transferência do controlo da banca nacional para o estrangeiro de que vêm por bem – até querem partilhar o banco com Amorins, Belmiros e quejandos.

Mas impõe-se um alerta aos que possam ser seduzidos pela generosidade dos abutres. Este é um filme que já vimos e revimos, nomeadamente no Totta, hoje nas mãos do Santander. Em 1999, Champalimaud não hesitou em trocar o grupo bancário português que detinha em troca de uma participação no espanhol Santander.

A história recente do sistema financeiro nacional prova que, como vem sendo dito, ou a banca é pública ou não é nacional. Entregar o Novo Banco a privados, mais ou menos recomendáveis, venham de que proveniência vierem, é entregar um valioso instrumento para a condução de uma política económica que responda aos problemas do País a interesses que lhe são alheios.

Mas, enquanto isso, a direita vai enchendo a discussão pública com uma novela que já merecia um ponto final há muito.

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