«Pedimos desculpa pelos incómodos causados…»

A frase «pedimos desculpa pelos incómodos causados» já se tornou famosa pela sua recorrência nos transportes. Causas? Desconhecidas por alguns, é bom que sejam descortinadas as responsabilidades.

Uma das consequências das perturbações na circulação do Metro de Lisboa é o aumento dos intervalos entre os comboios, cada vez mais frequente
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Não raras as vezes e cada vez mais, somos confrontados com problemas que trazem atrasos ou supressões nos transportes públicos. As consequências são várias para os utentes e transtornam quase diariamente: atrasos para o trabalho, para a escola, para cumprir compromissos ou a perda de tempo. As causas? Desconhecidas por alguns, é bom que sejam descortinadas as responsabilidades. 

A frase «desculpe pelos incómodos causados» já se tornou famosa pela sua recorrência. Quem pede desculpa – a empresa, ou melhor, a sua administração – é na verdade o culpado pelos diversos problemas. As empresas procuram atenuar a não resolução dos problemas com pedidos de desculpa, e por vezes até responsabilizam os trabalhadores. 

Um exemplo paradigmático é o do Metropolitano de Lisboa. No início de Julho, um comunicado distribuído aos utentes afirmava que há cinco anos que a empresa está proibida de contratar trabalhadores operacionais, faltando quase 50 maquinistas nos quadros e outros tantos trabalhadores das estações, e umas dezenas na manutenção das infraestruturas e do material circulante. Empurraram-se mais de 300 trabalhadores para «rescisões amigáveis» e para o desemprego, descapitalizaram a empresa, encerraram 18 postos de vendas, diminuíram o número de carruagens na linha verde, aumentaram o tempo de intervalo entre comboios, diminuíram a velocidade de circulação de 60 para 45 km/h, degradaram a manutenção e a limpeza de comboios e estações. A administração da empresa procura responsabilizar os trabalhadores, pelas greves e os plenários. Usando aquilo que é um direito, procuram escamotear que a verdadeira causa é a falta de trabalhadores.

O Metro é um caso flagrante, mas longe de ser o único. 

Na Carris, segundo a Comissão de Utentes, há tempos de espera de 17 minutos que passam por vezes para 45. Segundo o Sindicato dos Trabalhadores de Transportes Rodoviários e Urbanos de Portugal (STRUP), o problema está relacionado com a necessidade de reposição dos quadros de pessoal de modo a que os trabalhadores não sejam sujeitos ao aumento dos horários de trabalho, não sejam impedidos de utilizarem os seus dias de férias e para que o nível de oferta possa ser reposto.

Quanto aos TST, tem vindo a público a informação da degradação da sua frota, sendo que a média diária são mais de 90 autocarros imobilizados por avaria. Como consequência, há ausência de cumprimento do serviço programado, o que leva a que milhares de utentes fiquem privados dos transportes. Faltam recursos humanos no sector de manutenção. São dezenas de motoristas que todos os dias se apresentam ao serviço e não têm viatura para trabalhar.

Na Trantejo são enumerados vários problemas com a frota, como é o caso dos ferries, que efectuam o transporte de viaturas, e que neste momento encontram as duas unidades mais recentes com problemas técnicos muito graves, problemas estes que vêm desde a sua construção e que têm originado muitas interrupções nas carreiras que ligam a margem sul à margem norte. Os trabalhadores alertam ainda para que existem secções na empresa que não têm ordem para efectuar compras, e deste modo muitas operações são afectadas, chegando ao ponto de navios estarem parados por falta de material para reparação.

Já na Soflusa, a supressão diária que tem existido nas carreiras fluviais entre o Barreiro e Lisboa, como as anunciadas pela empresa no final da semana que passou, se devem à falta de trabalhadores para preencher as vagas deixadas em aberto por rescisões impostas pelo anterior Conselho de Administração, com directrizes do governo anterior. O Sindicato dos Trabalhadores Fluviais Costeiros e da Marinha Mercante refere que a situação tem sido compensada com um enorme volume de trabalho extraordinário, que já começa a ter consequências como problemas de saúde e cansaço dos trabalhadores, esgotados com todo este esforço físico e mental.

Estes são vários exemplos de insuficiências no serviço público de transportes que têm sido dados a conhecer pelos sindicatos e comissões de utentes. Para já não falar de muitos outros problemas em todo país, como por exemplo a grave insuficiência da rede de transportes no interior do país. Situações que põem em causa a qualidade do serviço e o direito à mobilidade dos utentes. Situações que urgem ser resolvidas pelas empresas e onde o Governo deve uma especial intervenção (o que não aconteceu com o anterior governo do PSD e do CDS), nomeadamente nas empresas detidas pelo Estado, como é o caso do Metropolitano de Lisboa, da Transtejo ou da Soflusa.

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