Palavra dada nem sempre é honrada

A eleição falhada de Correia de Campos revelou que a verdadeira geringonça está nos tão desejados «consensos» entre PS e PSD.

O ex-ministro da Saúde Correia de Campos dizia, na audição no Parlamento enquanto candidato apoiado por PS e PSD para a presidência do Conselho Económico e Social (CES), que o acordo para a sua indicação era um bom sinal. Deixou a ideia de que pelo menos nisto entenderam-se, um bom presságio para futuro.

Já o Presidente da República vem apelando aos consensos, desde antes da sua eleição, entre o PS e a direita. E mesmo no seio dos socialistas surgem vozes ocasionais a pedir um realinhamento com a tradição do partido. A tese que começou na «ilegitimidade» da solução política e que foi dar à «legislatura roubada» de que Passos Coelho se queixou recentemente, em entrevista ao Diário de Notícias e à TSF. Ainda não percebeu que o que tiraram ao PSD foram 19 deputados, quem lhos tirou foram os votos dos portugueses nas últimas legislativas  e por isso já não é primeiro-ministro.

Mas o aspecto mais saliente da eleição falhada de Correia de Campos para a presidência do CES é que, 253 dias depois da assinatura das posições conjuntas entre PS e o BE, o PCP e o PEV, o primeiro acordo entre PS e PSD tenha resultado num tremendo falhanço. Dos 175 deputados das duas bancadas, apenas 105 deram o voto favorável – a quase 50 votos de distância dos dois terços necessários.

A exigência de uma maioria qualificada de dois terços torna obrigatório o voto de, pelo menos, uma parte da bancada do PSD, mas o que se viu hoje na Assembleia da República foi que os sociais-democratas são pouco confiáveis.

Nestes últimos oito meses desde que o País se libertou do governo do PSD e do CDS-PP, o salário mínimo nacional teve a maior subida desde 2011, as pensões e reformas foram descongeladas, foram repostos os quatro feriados suspensos, o horário de trabalho semanal da administração pública voltou às 35 horas, o IVA na restauração desceu para 13%, foram revogadas as alterações à lei da interrupção voluntária da gravidez.

Na última semana, o PSD negociou um conjunto de lugares com o PS, de que se destacava a indicação de Correia de Campos para a presidência do CES em troca da indicação pelo PSD do próximo Provedor de Justiça. Resultado? O CES continua sem presidente e Carlos César acusa a bancada do PSD de faltar à palavra.

Quando Portas popularizou o termo «geringonça» teria na cabeça uma relação disfuncional entre o PS e os restantes partidos, e a inevitável quebra dos compromissos assumidos entre si. 253 dias depois, a verdadeira geringonça toma forma no primeiro dos tão desejados «consensos» entre o PS e o PSD.

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