O pau mandado

João Duque comportou-se durante o período negro da aplicação das polítcas da troika como um pau mandado, na defesa das políticas de fragilização da actividade produtiva e de ataque às funções sociais do Estado, assumindo até ao fim a tese da inevitabilidade das políticas de Passos Coelho e Cristas.

CréditosAndre Kosters / Agência LUSA

O ex-presidente do Instituto Superior de Economia e Gestão (ISEG), numa entrevista ao jornal i de ontem, à falta do diabo quis vestir-lhe a pele e, ao melhor estilo de Medina Carreira, antecipa problemas sociais gravíssimos, fala de um «PS que no governo foi além da troika» e sublinha «uma impensável capacidade do PCP e do BE para aceitarem coisas que achava impensáveis».

João Duque vai mesmo mais longe falando provocatoriamente da rendição do PCP às políticas de Bruxelas e da proximidade entre os discursos de Jerónimo de Sousa e de Passos Coelho.

Mas, como a ignorância é muito atrevida, importa recordar que ainda na conferência de imprensa da passada semana, o secretário-geral do PCP afirmou ser «uma perigosa ilusão pensar que, face à acrescida instabilidade e incerteza no plano internacional, os interesses nacionais se defendem no quadro do reforço da União Europeia», chamando ainda a atenção para o facto de a União Europeia e o euro significarem «brutais constrangimentos» para os interesses nacionais, sublinhando que «a única resposta é adoptar todas as medidas, incluindo medidas de emergência, de defesa e de reforço da soberania nos mais diversos planos, a par de uma política externa independente e soberana».

João Duque foi durante o longo período negro da aplicação das brutais polítcas da troika um fiel defensor, qual pau mandado, das políticas da governação do PSD e do CDS-PP de fragilização da actividade produtiva, de ataque às funções sociais do Estado, de destruição e entrega de empresas estratégicas e de favorecimento da especulação financeira e da banca privada.

Quem não se lembra de o ver por todo o lado, em particular nas televisões, a perorar, dia sim dia sim, procurando sempre justificar todas as imposições dos senhores da troika, nacionais e estrangeiros, fossem aumentos de impostos ou cortes nos salários dos funcionários públicos, nas pensões e nas reformas. O antigo presidente do ISEG esteve permanentemente na primeira linha dos que então apelavam ao conformismo dos trabalhadores e das populações, assumindo até ao fim a tese da inevitabilidade das políticas de Passos Coelho e Cristas, ao serviço dos senhores do dinheiro.

Aliás, não foi por acaso que, enquanto presidente do ISEG, apadrinhou em 2013 a atribuição do doutoramento honoris causa ao banqueiro Ricardo Salgado, enaltecendo a sua figura com vários mimos, com a mesma sabedoria com que assumiu as inevitabilidades das catratróficas políticas dos últimos anos.

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