A passagem directa de destacadas figuras, de cargos políticos para os grandes grupos económicos e financeiros (e vice-versa), ao arrepio dos deveres a que qualquer eleito deveria estar obrigado, é o corolário natural de quem, aqui e ali, defende sempre os mesmos interesses, revelando uma extraordinária coerência ideológica e de classe. Agem em prol da sua verdade, contam as mesmas mentiras.
A consultora da financeira britânica Arrow Global, deputada do PSD e ex-ministra das Finanças, Maria Luís Albuquerque, é um dos mais recentes casos, e o texto que assina esta segunda-feira no Jornal de Negócios um exemplo lapidar.
Na perspectiva que lança ao ano que agora começa, a deputada do PSD critica a política implementada em 2016, que, diz, «levou à perda de confiança dos agentes internos e externos». Simultaneamente, branqueia e valoriza as opções do anterior governo, omitindo os seus efeitos ao nível do aumento do desemprego, da generalização da precariedade, do aumento das desigualdades, da destruição da riqueza sem paralelo nos tempos mais recentes ou do alastrar do empobrecimento.
A especialista da Arrow apresenta um extenso rol de lamentações, em que ora recorre à mentira, quando afirma, por exemplo, que «os impostos são mais e mais pesados», ora recorre à hipocrisia e cinismo, nomeadamente quando refere o estado dos serviços públicos, sem nunca perder de vista os interesses que defende. «Os mercados estão atentos», avisa a ex-ministra, inferindo-se do alerta que estas «entidades» estavam mais satisfeitas com o rumo de exploração e empobrecimento anterior às eleições de 4 de Outubro.
Rejeitando os aumentos nas reformas e a integração dos trabalhadores com vínculo precário, que exercem funções permanentes na Administração Pública (medidas que define por uma «decisão puramente eleitoralista»), Maria Luís Albuquerque alerta ainda para o perigo de o Governo «ir buscar dinheiro a quem o acumulou».
Na prática, a antiga governante debate-se contra uma governação que, graças à luta dos trabalhadores e do povo, esmigalha menos os rendimentos destes. O que custa a Maria Luís e a todos cujos interesses defende é que em 2016 se tenha invertido o rumo de desastre e de perda de direitos de quem trabalha, e que o povo tenha finalmente conquistado alguma esperança.
A deputada social-democrata conclui dizendo: «A bem de todos nós, esperemos que nada de mais grave aconteça, mas se vier a acontecer, mesmo que a causa imediata seja exterior, é bom que a maioria perceba desde já que sabemos todos bem quem tem a responsabilidade porque podia e devia ter feito diferente». E nisto estamos de acordo.
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