As declarações de deputados do PSD e do CDS-PP no sentido de pressionar o Presidente da República e o Governo no processo de nomeação do Chefe de Estado-Maior da Armada (CEMA) levantam uma pertinente questão relativa à partidarização das chefias militares e dos oficiais generais, em particular.
A ofensiva destes dois partidos, que representa uma clara tentativa de ingerência e partidarização do processo de nomeação de um chefe militar, como se de um qualquer director-geral se tratasse, mostra bem que o cumprimento do preceito constitucional que consagra o apartidarismo dos militares, em particular na estrutura superior das Forças Armadas, se encontra beliscado. Porventura, o clima existente entre PSD e PS, resultante da nova solução política encontrada há um ano, terá levado a que esta discussão chegasse à praça pública e não se desenrolasse, como habitualmente, no segredo dos gabinetes. De qualquer forma, não se compreende todo este alarido da direita, dado que o centrão político tem feito, nas últimas décadas, uma fina escolha político-ideológica dos oficiais generais de três estrelas.
Aliás, não deixa de ser muito curioso que o deputado João Rebelo, sempre tão zeloso de que estas questões sejam tratadas por aquilo que designa (ou designava?) «os partidos do arco da governação», venha agora chamar à colação as outras forças políticas quando afirma que o actual CEMA «era apreciado por todos os partidos». Será?
Quanto à situação de facto, a decisão do Governo de não reconduzir o actual CEMA, importa dizer que ela não constitui nenhuma surpresa sobretudo se tivermos em conta a instabilidade que se vive na estrutura superior da Marinha e que, de alguma forma, marcou esta gestão. Desde as exonerações do anterior Director-Geral da Autoridade Marítima e, no Verão passado, do Superintendente de Pessoal, ambos por razões ainda hoje não esclarecidas, até às aparatosas notícias publicadas no Correio da Manhã no passado mês de Junho. Notícias que abordavam eventuais movimentações de almirantes nos bastidores da Marinha e que, segundo alguns rumores, não estão desligadas das exonerações acima referidas e visava beneficiar dois oficiais generais tidos como muito próximos do CEMA.
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