O Teatro Colón, em Bogotá, foi ontem palco da cerimónia de assinatura de um novo acordo final de paz entre as FARC-EP e o Governo colombiano, depois de o original, firmado a 26 de Setembro em Cartagena das Índias, ter sido rejeitado pela maioria dos votantes no plebiscito celebrado a 2 de Outubro.
Depois de quatro duros anos de negociações em Havana, amplos sectores da nação andina, que tinham por certa a vitória do «sim», pareceram mergulhar num tempo de frustração e incertezas, mas recompuseram-se com uma enorme vaga de mobilizações a favor da paz, não querendo perder uma oportunidade que consideram histórica. As delegações de paz regressaram à capital cubana e, a 12 de Novembro último, alcançaram o novo acordo.
Num registo que não disfarça certa euforia, alguma comunicação social – e também porta-vozes das FARC-EP – destacam que esta versão do «acordo final» constitui um enriquecimento face à primeira, na medida em que contém alterações de fundo, para atender às solicitações dos apoiantes do «não» – ontem mesmo, a TeleSur informava que o acordo incluía «cerca de 190 ajustes, entre modificações e precisões pedidas e sugeridas por aqueles que votaram "não"».
Ao cabo de 52 anos de guerra, é mais que notório o esforço das partes para fazer chegar as negociações a bom porto e levar o acordo à fase da implementação. E vastas camadas e sectores da sociedade colombiana, os camponeses e assalariados rurais, os indígenas, os afrodescendentes, os estudantes, os trabalhadores, os defensores do meio ambiente, os defensores dos direitos humanos, civis e políticos fazem sua a exigência da paz com justiça social. Um direito inalienável do povo colombiano.
Não deixa, contudo, de se ser legítimo questionar até que ponto, ao cabo de 52 anos de luta travada nas mais duras condições, por uma das partes, em defesa dos desfavorecidos e explorados, não é uma cedência demasiada firmar um acordo que é uma segunda via de um outro negado em plesbiscito, em grande medida como resultado das pressões e manobras levadas a cabo pelo extremismo de direita, uribista.
Também não deixa de ser legítimo pensar até que ponto a assinatura do acordo de paz significará a concretização da paz, tendo em conta o historial de violência contra dirigentes agrários – na semana passada foram assassinados três e ontem mais um –, dirigentes do movimento Marcha Patriótica. O paramilitarismo existe porque a oligarquia e os terratenentes não estão interessados em perder os privilégios de quem tanto engordou à custa da guerra. E haverá por certo sectores no Exército e nas forças policiais pouco interessados em perder os aliados de sempre.
As incógnitas subsistem e são legítimas. Caberá ao povo colombiano, mobilizado, lutar contra os preceitos da violência e desfazer os nós do poder há tanto tempo instalados. Para transformar a sociedade. Pelo direito a viver em paz e com justiça social.
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