Negócios sindicais

Perante os despedimentos a caminho no Deutsche Bank em Portugal, Rui Riso faz do sindicato que dirige um seguro de saúde com direito a apoio jurídico. 

CréditosMário Cruz / Agência LUSA

O Deutsche Bank está a preparar há mais de um ano uma reestruturação da sua operação em Portugal. Em linguagem do mundo da finança, reestruturação significa encerramento de balcões e despedimento de trabalhadores. O plano em preparação no gigante da finança alemão, a braços com uma multa de vários milhares de milhões de euros nos EUA por «irregularidades» (leia-se, fraudes, aldrabices) na venda de produtos financeiros complexos até 2008, não é excepção.

A novidade não é mais este despedimento colectivo a caminho, num sector em que milhares de trabalhadores foram empurrados por esse caminho nos últimos anos, em Portugal. Mas as declarações de Rui Riso, dirigente sindical, são muito reveladoras de um certo sindicalismo.

Riso é presidente do Sindicato dos Bancários do Sul e Ilhas, vice-presidente da UGT e deputado eleito pelo PS. Em declarações à Lusa, o distinto dirigente sindical explica que não houve «grande sucesso na sindicalização dos trabalhadores do Deutsche Bank em Portugal, nos últimos anos», e por isso o envolvimento do sindicato a que preside não será grande.

«Uma das coisas que faz com que se verifique uma sindicalização muito forte no sector é, sem dúvida, o apoio na saúde mas como o Deutsche Bank em Portugal não é subscritor do acordo colectivo de trabalho, os trabalhadores não têm o nosso apoio em termos de saúde, tendo optado por seguros de saúde privados», continua o dirigente da UGT.

E eis como se transforma um sindicato num seguro de saúde com direito a apoio jurídico, caso surjam conflitos laborais. O papel do sindicato – a defesa dos interesses e dos direitos dos trabalhadores – transformado num negócio.

Mas percebem-se estas declarações, depois de ler a entrevista de Riso ao jornal i, em que responde a nove perguntas sobre os tais processos de reestruturação na banca sem falar uma única vez de trabalhadores. Um banqueiro não conseguiria uma melhor defesa da política de despedimentos em massa.

Rui Riso é um exemplo deste sindicalismo oportunista, que, perante um despedimento colectivo, diz que «foi uma pena» não se terem sindicalizado. «Curiosamente, e depois de tantos anos de crise, agora é a Alemanha que lhes vira as costas», atira a provocação mesquinha.

Perante declarações destas, aos 400 trabalhadores do Deutsche Bank em Portugal sobra uma saída que não é a do despedimento. A da luta.

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