Leviandades

Propostas de alteração na organização e estrutura das Forças Armadas exigem uma reflexão muito para além dos holofotes dos media ou do aproveitamento de superficialismos antimilitaristas.

Créditosexpresso.sapo.pt

Os recentes acontecimentos no curso de formação de Comandos do Exército, de que resultou a morte de dois militares, provocaram um choque em cadeia de declarações políticas, quando o que momento mais exigia era, muito provavelmente, ponderação e reflexão. O próprio Presidente da República, do alto das suas funções de Comandante Supremo das Forças Armadas, ter-se-á pronunciado vezes demais sobre a matéria, alimentando uma expectativa junto dos militares que, certamente, não deixará de lhe ser cobrada noutros momentos.

A gravidade da situação obrigará, naturalmente, ao apuramento das causas e à retirada de consequências, mas é importante sublinhar que situações novas exigem novas medidas. Era o que deveria ter acontecido no curso de formação dos Comandos quando, a uma situação excepcional de calor, com temperaturas muito elevadas, deveria ter correspondido uma medida de direcção também ela excepcional, por parte do Exército. A acontecer, porventura, teria evitado uma medida mais drástica como foi a suspensão do curso.

Mas nada justifica que, de forma pouco amadurecida, se venha propor a extinção dos Comandos. A este propósito, importa lembrar que a sua extinção nos anos 90 é um episódio que terá tido menos a ver com situações similares de acidentes no final dos anos 80, mas mais com a pressão e a força de alguns lobbies. Aliás, do ponto de vista político e estratégico e que tem a ver com a organização das nossas Forças Armadas, ninguém na altura explicou o motivo da extinção do Regimento de Comandos (já que a especialidade de comando não foi extinta, tendo passado para o Centro de Operações Especiais), nem, mais tarde, a razão da sua reactivação. Muito menos nos disseram quanto custou a «brincadeira».

Daí que, compreendendo o papel e a acção das Forças Armadas e as missões constitucionais que lhe estão atribuídas, uma proposta de extinção do Regimento de Comandos exija alguma reflexão estratégica, muito para além dos holofotes dos media ou da exploração de emoções e do aproveitamento de qualquer superficialismo antimilitarista.

Nunca nos esqueçamos que, no dia em que deixássemos de ter Forças Armadas, os nossos amigos e aliados, os mesmos que hoje na União Europeia nos impõem condições leoninas de sobrevivência, estariam prontos a reinstalar-se em Portugal com os seus militares para nos «protegerem» dos «nossos inimigos».

Mas nós a pagar, é claro!

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