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Memórias, Partilha e Liberdade

Bolsas de Criação Artística de Setúbal e as exposições «Passo Partilhado» em Lisboa, «Argila que nos une. Bienal em Movimento» na Covilhã e «Desalados e Outras Esculturas» em Macedo de Cavaleiros.

Obra «Impressões», de Tânia Dinis, das Bolsas de Criação Artística de Setúbal de 2021, em exposição na Gráfica a partir 7 de julho 
Obra «Impressões», de Tânia Dinis, das Bolsas de Criação Artística de Setúbal de 2021, em exposição na Gráfica a partir 7 de julho Créditos / Tânia Dinis

As Bolsas de Criação Artísticas em Setúbal foram iniciadas em 2021 pelo Município de Setúbal e destinam-se a apoiar criadores e/ou coletivos que desenvolvam projetos pensados para espaços não convencionais, não só como um incentivo financeiro, mas também abrindo a possibilidade de usufruírem de uma área de trabalho nas instalações d'A Gráfica – Centro de Criação Artística durante o processo criativo, seja ele de pesquisa, investigação ou experimentação. Cada bolsa tem o valor pecuniário de 5000 euros e podem ser selecionados até três projetos.

Dos três projetos selecionados em 2021, poderemos ver a partir de 7 de julho de 2022, no âmbito da Mostra de Artes Performativas em Setúbal, na Gráfica – Centro de Criação Artística1, a criação ficcional «Impressões», de Tânia Dinis2, «que parte das memórias e da partilha de imagens e outros documentos, de um grupo de participantes ligados à cidade, à sua história, à indústria gráfica, um ritual, uma rotina, também ela familiar, como é o álbum fotográfico: testemunha e depositária de histórias. Mas muitas vezes o álbum está incompleto, o arquivo está à espera de ser organizado, a memória tem espaços vazios, e é a partir daqui que trabalhamos uma nova narrativa, numa viagem por uma linha, uma sequência de imagens de uma determinada região, que é transversal a todos, com a sua relação socioeconómica». O trabalho de Tânia tem vindo a mostrar diversas perspetivas e campos artísticos, como o da fotografia, o da performance, o do cinema e o da estética relacional, focando mais o seu trabalho na pesquisa de imagens de arquivo de família, pessoais ou anónimas, embora tenha também recorrido em alguns dos seus projetos a outros registos de imagem real, em torno do conceito «tempo-imagem-memória-sonho-mulher».

Outra das criações selecionadas em 2021 nas Bolsas de Criação Artística foi a instalação «Over our Head», de Marta Cerqueira, que também poderá ser vista em A Gráfica a partir de 10 de setembro, assumindo-se como «um convite à exploração do corpo e do espaço onde todas as pessoas são cocriadoras, intérpretes e intervenientes», tendo em destaque aspetos coreográficos e participativos, procurando envolver o público numa «dimensão de participação mais ativa, fomentando interferências tácitas com a obra, num lugar de convívio que se quer atravessado, experienciado e modelado pelo visitante».

Exposição «Passo Partilhado», das artistas Irene Buarque e Joanne Grüne-Yanoff, na Galeria Diferença, em Lisboa, até 18 de junho. / Galeria Diferença

A exposição «Passo Partilhado», das artistas Irene Buarque3 e Joanne Grüne-Yanoff4, na Cooperativa Diferença5, em Lisboa, decorre até 18 de junho. Esta exposição surge do diálogo entre as duas artistas «cujas obras exploram a simbiose entre movimento e transformação» de «materialidades, temporalidades e sensibilidades em fluxo». Na Galeria Diferença podemos encontrar uma instalação que integra a peça Passo-a-Passo (1983), de Irene Buarque, e uma série de pegadas de Grüne-Yanoff, entre muitos outros trabalhos.

Sobre a peça Passo-a-Passo (1983) Irene descreve que «a parte central deste trabalho é composta por fotografias de pisos e caminhos naturais (terra, pedra, folhas, musgos...) em envelopes de plástico, que pisados permitem sentir as texturas desses diferentes andares». Sobre a série pegadas de Grüne-Yanoff, muitos destes trabalhos são desenvolvidos em oficinas com populações marginalizadas, têm como tema a memória, a pertença, o lar e a comunidade e pretendem «explorar a conexão e a transformação criativa como ferramentas de resiliência» na relação do indivíduo com o mundo exterior, como refere a artista.

Obra «Big Smile I», de Ellen Van Der Woude. Exposição «Argila que nos une. Bienal em Movimento», na Galeria António Lopes, na Covilhã, até 26 de junho / Ellen Van Der Woude

A Bienal Internacional de Cerâmica Artística de Aveiro realizou a sua primeira edição em 1989 e tem vindo a destacar-se como um dos eventos culturais mais relevantes e tem contribuído para o desenvolvimento da produção da cerâmica artística, abrindo caminhos para novas tendências na cerâmica. Quanto à participação e exposições, referimos a bienal de 2019, em que de 245 candidaturas foram selecionadas 83 e foram expostas 107 obras de 25 nacionalidades, ano em que a bienal de cerâmica completou 30 anos de existência.

Desde 1989, a Bienal Internacional de Cerâmica Artística de Aveiro tem revelado os artistas mais relevantes da cerâmica artística contemporânea, tanto a nível nacional como internacional, destacando nomes como Xohan Viqueira, Ferreira da Silva, Anisabel, Cecília de Sousa, Pop Eugénia, Ilda Bragança, Yves Louis Margriet, Li Hshing-Lung, Ihor Kovalevych, Alberto Hernández Martín, Fainis, Mariano Poyatos Mora, Heitor Figueiredo, Sofia Beça, Santa Rita, Jasmina Pejcic, Ricardo Casimiro, Silvia Tagusagawa, Ana Cruz, Rafa Perez, Paulo Reis, Mara, Heidi Preuss Grew, Vitor Santos e Sónia Borga, Lourdes Riera Rey, Alberto Vieira, Sara Dario, Carlos Enxuto e Ellen van der Woude, entre muitos outros, apresentando também, fora de concurso, obras de Virgínia Frois, Enric Mestre, Karen Gunderman, Anabela Soares e Rosa Ramalho.

Este ano a Bienal Internacional de Cerâmica Artística resolveu organizar uma exposição itinerante, começando a percorrer outros lugares para dar a conhecer o seu projeto e a excelência da criação artística em cerâmica, apresentando, assim, a exposição «Argila que nos une. Bienal em Movimento» na Galeria António Lopes6, na Covilhã, que pode ser visitada até 26 de junho. Esta exposição é composta por uma pequena parte da coleção de cerâmica artística dos Museus de Aveiro resultante das obras premiadas nas edições da Bienal.

Exposição de escultura «Desalados e Outras Esculturas», de Guilherme Fonseca, no Centro Cultural de Macedo de Cavaleiros, até 20 de junho / Guilherme Fonseca

O Centro Cultural de Macedo de Cavaleiros7 apresenta a exposição de escultura «Desalados e Outras Esculturas», de Guilherme Fonseca8, até 20 de junho. Convidado a falar sobre os trabalhos desta exposição, Guilherme Fonseca diz-nos que são «seres que não conseguem voar por alguma razão e quantas vezes isso nos acontece…, depois tem os outros, as outras esculturas. Aquela águia voa, mas são peças que surgem, às vezes é só isso. Os Desalados não. Os Desalados acompanham-me pela vida. Os mais recentes estão no chão. Há nesta exposição uma ausência de possibilidade para voar». Tal como na exposição «Coisas ao Contrário & Outras», em que o artista, segundo Elias Pinhão Ferreira, «parece apelar a que busquemos um eu dentro do eu: um eu ao contrário, avesso aos meus próprios cânones… pensar as coisas ao contrário permite "resolver" os problemas principais da vida sem muletas, somente através do jogo de pensamentos livres e desimpedidos, desafiando a física e a mecânica, respirando a omnipotência do absurdo. A execução de um pensamento ao contrário é materialmente provocante. A provocação é também ela uma orientadora do pensamento independente, uma invocação ao sujeito», esta impossibilidade de voar remete-nos também de forma metafórica para o seu contrário, que é a liberdade. Elias Pinhão Ferreira, acerca da obra deste artista, referiu ainda que «se queremos situá-la em compreensão, nas coordenadas do fantástico, do surreal e da intervenção, conseguimos; mas podemos apreciar a sua obra por ela mesma, na sua essencial singularidade».


O autor escreve ao abrigo do Acordo Ortográfico de 1990 (AO90)

  • 1. A Gráfica – Centro de Criação Artística-Ladeira da Ponte de São Sebastião – Setúbal.
  • 2. Tânia Dinis, 1983, natural de Vila Nova de Famalicão, residente no Porto. Mestrado em Práticas Artísticas Contemporâneas pela FBAUP, 2015. Licenciatura em Estudos Teatrais, Ramo-Interpretação pela ESMAE, 2006. Em 2013, realiza a sua primeira curta-metragem, Não são favas, são feijocas, que foi premiada em vários festivais de cinema. Realizou também Arco da Velha, em 2015, com dois prémios no Super Off e Curta 8, Brasil, dedicado ao Super 8, vídeo-instalação Linha em 2016, Teresa, Laura, em 2017, que recebeu prémio de melhor curta-metragem no Arquivo em Cartaz – Festival Internacional de Cinema de Arquivo – Brasil e Armindo e a Câmara Escura.
  • 3. Irene Buarque (1943, São Paulo, Brasil). Vive e trabalha em Lisboa desde 1973. Desde a segunda metade da década de 60 do século XX que desenvolve e expõe obras em pintura, instalação, escultura, cerâmica e arte pública, apresentando também muitos livros de artista.
  • 4. Joanne Grüne-Yanoff é uma artista transdisciplinar sueca-americana com sede em Estocolmo, Suécia, e Filadélfia, EUA. Ela também é a diretora fundadora da FLYG! – uma associação internacional de mulheres que aborda projetos focados em tolerância e diversidade. As suas instalações exploram a conexão e a transformação criativa como ferramentas de resiliência.
  • 5. Galeria Diferença – R. São Filipe Neri, 1250-012 Lisboa. Horário: terça a sexta, das 14h às 19h; sábado, das 15h às 20h.
  • 6. Galeria António Lopes – Rua das Portas do Sol, 122 – Covilhã. Horário: terça a domingo, 10h-13h e 14h-18h.
  • 7. Centro Cultural de Macedo de Cavaleiros – Rua Eng.º Moura Pegado, 5340-302 Macedo de Cavaleiros. Horário: segunda a sexta, das 9h às 12h30 e das 13h30 às 17h.
  • 8. Guilherme Fonseca, Curso Superior de Tecnologia Artísticas (ARCA/ETAC – Coimbra). Leciona Educação Visual desde o ano letivo 1993/94. Participou em vários projetos artísticos, destacando-se as exposições «Coisas ao Contrário», Galeria Ortopóvoa – 2015, em que expõe escultura e pintura pela primeira vez, e a exposição «Desalados e Outras Esculturas», na Filantrópica Cooperativa de Cultura em Póvoa de Varzim, em 2022.

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