Muita tinta e foco mediático se centraram nos espectáculos que o agora candidato oficial dos republicanos à Casa Branca, Donald Trump, foi dando ao longo da campanha para as primárias nos diversos estados norte-americanos. A retórica sem pejo, os discursos inflamados de racismo contra os imigrantes e os negros, o proteccionismo cerrado dos interesses dos empresários norte-americanos saltaram à evidência no que a comunicação social foi mostrando. A falta de currículo do candidato em cargos políticos foi igualmente sublinhada, para, no conjunto, se perceber uma figura excêntrica e chocante, que escapava aos padrões médios, mesmo para um republicano mais à direita.
Neste cenário, enfatizado, Hillary Clinton, a agora candidata oficial pelo Partido Democrata, aparecia como figura respeitável e repleta de andamento: antiga senadora, ex-primeira-dama e secretária de Estado no primeiro mandato de Obama. Por isso mesmo, era a alternativa sensata e moderada face à barbárie do candidato sem modos.
À esquerda, no aparelho do partido, Hillary enfrentou e derrotou, nas primárias, a oposição tenaz de Bernard Sanders – cujos apoiantes apontaram a existência de irregularidades em vários estados onde as derrotas se deram por curtas diferenças. Mas nem mesmo a fuga de emails, via WikiLeaks, a mostrar que o aparelho partidário torceu o processo eleitoral para favorecer Clinton e a confirmar as desconfianças de amanho, beliscou a nomeação da antiga senadora por Nova Iorque. O próprio Sanders, aliás, lhe endereçou o seu apoio político na Convenção Nacional Democrática, em Filadélfia.
Ao fazê-lo, o senador de Vermont foi apupado, e Clinton terá dificuldade em recolher os votos da sua base de apoio. De resto, está também a ter problemas em impor-se a Trump, que, com um discurso fascista e populista, a explorar os receios da classe média e dos trabalhadores, passou de candidato improvável a possível vencedor das eleições de 8 de Novembro para a Presidência norte-americana.
Clinton, a sensata democrata, como alternativa ao bárbaro republicano? Se é bem conhecido o historial dos do partido do elefante no que respeita à defesa de políticas neoliberais, afronta aos direitos das minorias e política imperialista e de ingerência externa, os do partido do burro não têm razões para sentir inveja, a começar pelo nobelizado Obama.
Sirvam de exemplo a invasão da Líbia, o não fechamento do campo de concentração em Guantánamo, a promoção do golpe fascista na Ucrânia, a desestabilização da Venezuela, o lançamento da guerra e do caos na Síria, o patrocínio dos golpes de Estado nas Honduras e no Paraguai. E Clinton, apoiada de perto pelo capital financeiro de Wall Street, já anunciou o reforço dos laços com Israel e boas relações com as ditaduras árabes do Golfo Pérsico.
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