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|Vitórias Laborais

CESP impede «despejo ilegal» de trabalhadores da Webhelp

O AbrilAbril acompanhou os sindicalistas do CESP que, ao lado dos trabalhadores, impediram o «despejo ilegal». É a segunda vez que a Webhelp os tenta desalojar, alegando que deram uma falta injustificada.

A Webhelp, empresa que está a tentar despejar os seus próprios trabalhadores tem escritórios em Lisboa (na imagem) e 5 outras cidades portuguesas. 
A Webhelp, empresa que está a tentar despejar os seus próprios trabalhadores tem escritórios em Lisboa (na imagem) e 5 outras cidades portuguesas. Créditos / Webhelp

A Webhelp, agora Concentrix, afirma ser «uma nova geração de empresas de tecnologia — centrada no ser humano». Em Portugal, a empresa alicia trabalhadores estrangeiros ao incluir (mediante o pagamento de 280 euros mensais, descontados directamente do salário) a oferta de alojamento, o que leva, num mercado liberalizado e cada vez mais inacessível, muitos destes a aceitar a proposta e descolarem-se para o país.

Significa, também, que a empresa, com este esquema, ganha um controle imenso sobre a vida destes trabalhadores estrangeiros, muitos dos quais não falam a língua, não têm redes de apoio e não conhecem bem a legislação laboral. Era com esse desconhecimento que a Webhelp contava no caso mais recente de dois trabalhadores que partilhavam uma casa em Sacavém com dois outros colegas.

Um dos trabalhadores decidiu contactar o Sindicato dos Trabalhadores do Comércio, Escritórios e Serviços de Portugal (CESP/CGTP-IN), cuja acção tem prevenido a realização deste despejo, que já por duas vezes (incluindo ontem) foi tentado pela CSFM, empresa subcontratada pela Webhelp para gerir as habitações.

«Eles receberam a notificação de que tinham de abandonar a casa com 72 horas de antecedência», explicou ao AbrilAbril Orlando Gonçalves, da Direcção Nacional do CESP, presente na acção que esta sexta-feira impediu o despejo. 

Entre as regras determinadas pela empresa para viverem nas «acomodações» (nome usado pela empresa), está a proibição de levarem companhia para os seus quartos, não poderem beber e, entre outras, «não poderem ter faltas injustificadas». A pena por cometer uns destes (graves) pecados é a expulsão das habitações. Mas isto «é um contrato de arrendamento em que eles pagam todos os meses», defende Orlando, «não se pode despejar uma pessoa por ter faltas injustificadas no posto de trabalho...».

«É inaceitável que uma empresa que contrata trabalhadores vindos do estrangeiro, oferecendo as acomodações, perante faltas injustificadas os meta a dormir na rua, onde estão longe dos seus familiares, estão longe do seu país, e com grandes dificuldades para depois poderem estar aqui a conseguirem trabalhar», disse.

A perspectiva defendida pelo sindicato foi confirmada na semana passada, quando da primeira tentativa de despejo, em que o CESP chamou a Polícia. As forças de segurança informaram a empresa de que «só com uma ordem do tribunal é que poderiam ser despejados». As vontades desta (e qualquer) empresa ainda não são Lei em Portugal.

Davide Salvi, italiano, trabalhador da Webhelp esteve doente e sem recursos financeiros para ser acompanhado por um médico, acabou por ter falta injustificada. A empresa ditou a sentença: é para despejar

«Decidi vir para cá, para Portugal, porque me apresentaram [a Webhelp] a hipótese de ter um sítio onde dormir e ficar. Na verdade é um quarto, mas a oportunidade era bastante interessante para mim porque não tenho a possibilidade de alugar um sítio por questões financeiras», explicou Davide Salvi, um dos trabalhadores visados pela ordem de despejo, ao AbrilAbril. O problema deu-se meses depois, quando Davide, que não fala português, ficou doente.

«Não posso pagar a um médico porque tenho dificuldades financeiras, podemos dizer assim. O ordenado é suficiente para sobreviver, mas não dá para mais», explicou. Passados três meses desde essa situação, sem que nada o fizesse prever (e uma das razões que levam o CESP a desconfiar que o objectivo da Webhelp é forçar o trabalhador ao despedimento), «a empresa vem ter comigo e diz-me OK, tens estes dois dias de ausência injustificada, tens de deixar o apartamento dentro de 72 horas».

«Quando tentei falar com a empresa, com os Recursos Humanos, não me deram a oportunidade de explicar a situação», disse. Quando perguntámos se algum responsável da empresa, durante esses meses, fez algum comentário que indicasse alguma má-vontade, a resposta foi que, por normal, não falam com trabalhadores como ele: as chefias e os recursos humanos «escondem muita informação de nós».

«Por exemplo, eu não sabia que tinha o direito a ficar neste apartamento. Se não tivesse ao sindicato e perguntado pelos meus direitos, provavelmente nunca saberia disso. Há muitas pessoas nesta mesma situação. Não sabem. Estou muito contente por encontrar alguma ajuda nesta situação porque se não fosse o CESP, eu não tinha nenhuma informação sobre as Leis que me protegem», afirmou.

50 anos depois do 25 de Abril, muitas empresas ainda usam e abusam com total impunidade

Na semana passada foi agendada a primeira tentativa de despejo. «Os trabalhadores estavam cá para dizer que não aceitavam o despejo», relata Orlando. Para isso, tiveram de se ausentar do seu local de trabalho. «O que a empresa está a dizer é que vai agora marcar falta injustificada pelo facto de terem vindo para a sua casa» resolver o problema criado pela própria Webhelp.

Se o dirigente sindical não desconfiasse já que a Webhelp tem como objectivo forçar o despedimento dos trabalhadores, quase pareceria «que a empresa quer que estejam em dois sítios ao mesmo tempo: a trabalhar e em casa para entregar as chaves». Só isto já é, em si, «completamente ilegal».

Com o segundo despejo evitado (despejo este que já foi convocado depois de uma reunião com o sindicato), o CESP vai agora estabelecer contactos com a Associação dos Inquilinos Lisbonenses (para melhor informar os trabalhadores sobre os seus direitos) e vai aproveitar a oportunidade para fazer chegar mais informação às dezenas de trabalhadores que se encontram na mesma situação na Webhelp.

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