A reforma agrária e a agroecologia foram alguns dos temas abordados durante a visita de Lula, este sábado, ao assentamento Eli Vive, do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), localizado em Londrina (estado do Paraná) e que é a maior área de reforma agrária do país sul-americano numa região metropolitana.
Ao intervir, Lula da Silva, pré-candidato à Presidência do Brasil, destacou como prioridades na sua acção o combate à fome, o incentivo à agricultura familiar e a recuperação da soberania nacional.
«Eu sei o que é ficar desempregado, não ter um arroz e feijão para comer, levantar de manhã e não ter café para tomar. Eu sei o que é perder tudo», disse Lula da Silva, citado pelo portal do MST, ao abordar a questão da fome no país.
«A fome é uma das coisas mais bárbaras que a sociedade deixou acontecer com ela. Esse mundo não precisa ser desigual como ele é. A agricultura familiar tem a capacidade de alimentar o nosso país. Nós precisamos recuperar a soberania brasileira. Um país soberano cuida da educação, das florestas, das águas, dos alimentos e do povo», frisou.
Edson Fachin, do Supremo Tribunal Federal, anulou esta segunda-feira as sentenças contra Lula da Silva no âmbito da operação Lava Jato, o que lhe permite participar nas eleições presidenciais de 2022. Fachin declarou a incompetência da Justiça Federal do Paraná nos casos do triplex do Guarujá, do sítio de Atibaia e do Instituto Lula, no meio de denúncias de parcialidade de membros da força-tarefa e do ex-juiz Sérgio Moro. No jargão jurídico, a 13.ª Vara de Curitiba não seria o «juiz natural» dos casos, refere o Brasil de Fato. Agora , cabe à Justiça Federal do Distrito Federal analisar se os actos realizados nos três casos são válidos e podem ser reaproveitados. Com esta decisão, o ex-presidente brasileiro recupera os seus direitos políticos e pode apresentar-se como candidato às eleições presidenciais previstas para o próximo ano. No fim-de-semana passado, uma pesquisa realizada pela Inteligência em Pesquisa e Consultoria (Ipec) mostrou que o potencial de votos do fundador do Partido dos Trabalhadores (PT) nas eleições presidenciais de 2022 é 12 pontos percentuais maior que o do actual presidente, Jair Bolsonaro. Em declarações recentes, o ex-chefe de Estado disse que não precisa de ser candidato em 2022, mas que se colocava à disposição da esquerda para derrotar Bolsonaro. «Eu tenho certeza que, se for necessário para derrotar o tal bolsonarismo, não tenha dúvida nenhuma que me colocarei à disposição», disse, citado pelo portal noticias.uol.com.br. Numa nota enviada à imprensa pela defesa de Lula da Silva, os advogados Cristiano Zanin e Valeska Martins afirmam que a decisão do juiz Fachin «afirma a incompetência da Justiça Federal de Curitiba». «É o reconhecimento de que sempre estivemos correctos nessa longa batalha jurídica, na qual nunca tivemos que mudar nossos fundamentos para demonstrar a nulidade dos processos e a inocência do ex-presidente Lula e o lawfare que estava sendo praticado contra ele», lê-se no texto. Os advogados afirmam que a anulação dos processos «está em sintonia» com o argumento sustentado pela defesa dos ex-presidente «há mais de cinco anos na condução dos processos», mas ressaltam que a decisão de Fachin «não tem o condão de reparar os danos irremediáveis causados pelo ex-juiz Sergio Moro e pelos procuradores da "lava jato" ao ex-presidente Lula, ao Sistema de Justiça e ao Estado Democrático de Direito». «Nessa longa trajectória, a despeito de todas as provas de inocência que apresentámos, o ex-presidente Lula foi preso injustamente, teve os seus direitos políticos indevidamente retirados e seus bens bloqueados», sublinham os advogados. «Sempre provámos que todas essas condutas faziam parte de um conluio entre o então juiz Sergio Moro e dos membros da "força tarefa" de Curitiba, como foi reafirmado pelo material a que tivemos acesso também com autorização do Supremo Tribunal Federal», frisam. Desde há vários anos, o AbrilAbril assume diariamente o seu compromisso com a verdade, a justiça social, a solidariedade e a paz. O teu contributo vem reforçar o nosso projecto e consolidar a nossa presença.Internacional|
Juiz brasileiro anula sentenças contra Lula relacionadas com a Lava Jato
Defesa sublinha reconhecimento de que sempre esteve certa
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Em Londrina, juntaram-se muitos militantes do MST que participaram na Vigília Lula Livre, durante os 580 dias em que o ex-presidente brasileiro esteve preso em Curitiba. Lula da Silva agradeceu-lhes e lembrou a sua profunda ligação ao Movimento dos Sem Terra, desde o 1.º Encontro Nacional, em 1984, em Cascavel.
Na sua intervenção, Lula referiu-se também à actual composição do Congresso Nacional e destacou a importância de eleger candidatos para a Câmara, Senado e governos estaduais que estejam comprometidos com a luta popular.
«O Congresso Nacional brasileiro nunca esteve tão deformado e tão anti-povo como está agora. Ele nunca esteve tão submisso aos interesses anti-nacionais como está agora. Esse talvez seja o Congresso mais contra o Brasil. É importante lembrar que não basta eleger o Lula presidente, se a gente não mudar a qualidade dos deputados e senadores eleitos», alertou, citado pelo Brasil de Fato.
Comités populares como ferramenta de luta
O encontro de Londrina, que contou com a presença de João Pedro Stédile e João Paulo Rodrigues, ambos os dirigentes nacionais do MST, serviu igualmente para o lançamento dos Comités Populares.
Com esta iniciativa, o Partido dos Trabalhadores (PT) pretende reforçar a organização dos trabalhadores em defesa de um projecto popular para o Brasil e contra os retrocessos promovidos pelo governo de Jair Bolsonaro, e, ao mesmo tempo, contribuir para a campanha e a eleição de Lula, em Outubro próximo.
Gleisi Hoffmann, presidente do PT e deputada federal pelo Paraná, destacou a solidariedade e a presença do MST em todas as lutas do povo, e, referindo que «Lula está livre, inocente e pronto para ser presidente», apontou a necessidade de organização dos trabalhadores para enfrentar o período eleitoral e «combater o fascismo».
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