|Privatizações

Groundforce é exemplo de privatização danosa

Alfredo Casimiro passou a controlar a Groundforce sem a comprar. A acusação do ministro das Infraestruturas aponta para comissões de 7,6 milhões recebidas antes de o empresário ter pago qualquer valor.

<p>Trabalhadores da SPdH/Groundforce manifestaram-se em frente ao Palácio de Belém, em Lisboa, a 15 de Março de 2021, para exigir o pagamento dos salários em atraso e que o accionista maioritário aceite a proposta de aumento de capital feita pela TAP</p>
O accionista maioritário da Groundforce recebeu comissões de 7,6 milhões de euros antes de ter pago a empresa à TAP, sua anterior proprietária CréditosJosé Sena Goulão / LUSA

Nascida em 2003, a empresa de handling era totalmente detida pela TAP, que foi forçada pela Autoridade da Concorrência (AdC) a vender a maioria do capital. Depois de um impasse entre vários interessados, a TAP faz vários contactos, de entre os quais o Grupo Urbanos, empresa de Alfredo Casimiro.

O negócio com esta empresa acaba por avançar em 2012 com condições colocadas pela AdC. Segundo Casimiro, foi por imposição desta instituição que se criou um «incentivo» à gestão por forma a evitar os erros que tinham conduzido à acumulação de prejuízos.

Estas comissões de gestão dizem respeito a 1,5% das receitas recebidas pela Groundforce, que foram pagas mensalmente a uma empresa do universo de Casimiro, a Gepasa. Entre 2012 e 2015, trataram-se de 5,4 milhões de euros, segundo os números do Governo.

Em Março de 2015 a TAP deixaria de pagar essas comissões, levando a uma acção judicial pelo empresário, a qual resultou num acordo entre as partes e no pagamento de mais 2,2 milhões de euros entre 2016 e 2018.

Terá sido esse mesmo acordo que permitiu à empresa não fazer qualquer pagamento imediato pela aquisição da Groundforce, dando apenas uma garantia bancária (junto do Montepio). O preço seria estabelecido mais tarde e poderia variar entre os três e os seis milhões de euros, consoante os resultados operacionais. O ministro explica agora que a efectivação do pagamento foi feita apenas em 2018.

O contrato previa que só depois da emissão das licenças a garantia bancária fosse efectivamente transformada em pagamento. O pagamento foi feito seis anos depois do negócio ser fechado e uma década depois de a TAP ter pago 31,6 milhões de euros aos espanhóis da Globália para ficar com a mesma participação.

Recorde-se que, após ter conseguido alcançar, em 2013, resultados positivos, a Groundforce acumulou lucros de 28,8 milhões de euros até 2019, tendo distribuído quase 17 milhões de euros aos accionistas, o que é visto com naturalidade pelo Governo, mesmo depois de todos os encargos do processo de transferência. «Os dividendos decorrem da empresa estar a dar lucro. São decisões normais da empresa», justificou Pedro Nuno Santos.

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