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BCE: um instrumento de classe da União Europeia

O BCE reconhece lucros extraordinários. Sabe que há uma transferência histórica de rendimentos do trabalho para o capital, mas quer manter os trabalhadores na miséria. É uma política de classe, para uma classe e levada a cabo por essa classe. 

A culpa para a inflação tem vindo a ser colocada nos trabalhadores. Esta é a única leitura possível das recentes declarações de Christine Lagarde, presidente do Banco Central Europeu, que esteve esta semana em Portugal, numa clara postura de prepotência. Lagarde procurou ver a seus pés um país submetido às suas ordens, procurou humilhar quem trabalha e, tal como nas séries medievais, procurou juras de obediência juntos das instituições portuguesas. O Governo português finge mostrar discordâncias, mas praticamente tudo acata e o Banco de Portugal comporta-se como uma sucursal.

Não deixa de ser interessante analisar as declarações de Lagarde, a sua vontade e a sua opção vincada, e ao mesmo tempo analisar os dados que vão sendo revelados pelo próprio BCE. No largo rol das citações de Lagarde esta semana, pudemos ver que o ónus da culpa para eventuais subidas da inflação e consequente aumento de taxas de juro está nos trabalhadores que, ao verem-se a empobrecer, exigem aumentos salariais. A presidente do BCE não tem pejo em reconhecer que efectivamente os trabalhadores viram uma desvalorização dos salários reais e não tem problema em admitir que as margens de lucros das empresas aumentaram com a inflação, mas, por mera opção de classe, ameaça os trabalhadores que se sentem roubados, injustiçados e revoltados.

Veja-se que num relatório do BCE publicado em Março, foram divulgados dois quadros com a evolução sectorial dos salários e dos lucros em dois períodos temporais distintos para efeito de comparação. Um primeiro período que compreende o quarto trimestre de 2019 até ao primeiro trimestre de 2022, e um segundo período que compreende o primeiro trimestre de 2022 e vai até ao quarto trimestre do mesmo ano.

A observação do gráfico fala por si. No primeiro quadro, que demonstra a evolução sectorial dos salários e dos lucros podemos ver que no ano de 2022, regra geral, os lucros, mesmo com algumas reduções, apresentaram no total uma maior evolução que os salários, contrariando o verificado no outro período. Estes dados, sendo da zona euro, não captam a realidade específica de cada país, mas ilustram a tendência dos efeitos da política económica promovida pelo BCE na promoção da transferência dos rendimentos do trabalho para o capital.

No segundo quadro, onde se observam os lucros unitários sectoriais e custos unitários com o trabalho vemos ainda que, mais uma vez, a tendência é semelhante. O ano de 2022 revela que os custos com o trabalho não acompanharam a tendência de subida dos lucros. Se no período relativo ao quarto trimestre de 2019 e ao primeiro trimestre de 2022 até se podia considerar que os custos com o trabalho eram maiores que os lucros, atendendo até aos efeitos da pandemia, sendo que a discrepância não era grande, o ano de 2022 alterou por completo essa tendência. 

O BCE e a União Europeia têm colocado o problema da inflação no lado dos consumidores, mas não são esses que têm engrossado as suas margens de lucro. Têm sido as grandes empresas que, aproveitando problemas que efectivamente existem, têm aumentado os preços. A guerra na Ucrânia tem sido a justificação perfeita para cavalgar a espiral inflaccionista, não aumentar salários e obter lucros extraordinários. É esta uma das razões para se ter provocado a guerra, é esta também uma das razões para negociar a paz. 

Não se pode considerar que haja uma real preocupação com a estabilização dos preços. O que o BCE está a fazer é funcionar enquanto instrumento para alcançar os objectivos de classe com que a União Europeia foi edificada e tem à sua disposição a moeda e os tratados que o tornam intocáveis. Todos os europeístas o sabem, mas encenando uma ou outra discordância, mantêm intocável todo este sistema e os seus objetivos.

Há um ataque claro aos trabalhadores, um apelo a que não se aumentem salários, mesmo reconhecendo que são eles quem mais tem perdido. Há ainda a orientação para que os governos diminuam os apoios. O problema não é somente o BCE, é o projecto da UE e em que base ideológica este está assente. Os que ficam em silêncio são cúmplices do ataque a todos os povos. 
 

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