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Povo chileno continua nas ruas por mudanças sociais

Apesar das tentativas encetadas pelo presidente chileno e da forte repressão para refrear a contestação social, que enche as ruas há mais de 10 dias, os protestos prosseguem com uma greve geral, amanhã.

Manifestação em Santiago, capital do Chile, 25 de Outubro de 2019
CréditosPedro Ugarte / AFP

Têm sido vários os anúncios, por parte de Sebastian Piñera, para tentar acalmar e pôr fim às diversas acções de luta que têm tomado conta da realidade chilena nos últimos dias. Ao mesmo tempo prosseguem registos de violência militar e policial sobre os protestos.

Este fim-de-semana, o chefe de Estado anunciou que uma remodelação governamental que seria parte de uma reforma mais profunda, depois de ter revelado estar disponível para recuar parcialmente nas medidas de austeridade em curso e ter prometido aumentos de salários e de pensões. Foi também publicado um decreto presidencial que levantou, desde ontem, o estado de emergência.

Não obstante, os manifestantes consideram que tais anúncios não respeitam o pedido popular de dignificação social e de mudança que o país necessita e têm mantido os protestos, exigindo mais justiça nos serviços de saúde, no sistema de pensões, o fim da privatização da educação, assim como o aumento de salários.

«Cansámo-nos, unimo-nos» foi o lema da última greve realizada nos dias 23 e 24 de Outubro, e que foi palco de um acto cultural que contou com a presença de artistas chilenos como Cami, Princesa Alba, Villa Cariño, La Moral Distraída, Manuel García, Los Prisioneros, e Narea y Tapia.

Também na passada semana, a luta já trouxe uma vitória, com o voto favorável da maioria da Câmara de Deputados da proposta do Partido Comunista chileno de pôr em prática as 40 horas de trabalho semanal, medida esta que ainda terá de passar por comissão parlamentar e pelo Senado.

Esta segunda-feira, muitos milhares manifestaram-se em frente ao Palácio da Moeda, sede do Governo, reivindicando a renúncia do presidente, o fim da repressão militar contra os protestos em curso e a instalação de uma Assembleia Constituinte.

Mesmo perante registos de uma manifestação pacífica, polícias e militares desencadearam ataques contra os manifestantes, dando aso a uma escalada de violência.

Para amanhã está convocada uma greve geral, de iniciativa das mais de 100 organizações e movimentos sociais que compõem a Unidade Social, e que tem por objectivo a prossecução da luta contra as políticas governativas.

Luta sob violência e repressão

Perante a contestação social em marcha, a repressão das forças de segurança fez-se sentir, incluindo a violação dos direitos das crianças. Pelo menos 43 menores foram feridos por forças militares e policiais e 240 foram detidos, segundo informações da Defensoria para as Crianças do país, com dados registados até ao passado dia 26 de Outubro.

Perante a denúncia desta situação, aquele organismo solicitou ao Governo que garantisse a presença da Comissão Interamericana dos Direitos Humanos.

Segundo dados oficiais do Governo, mais de 17 pessoas perderam a vida e mais de sete mil foram detidas desde o início destas lutas.

O Instituto Nacional de Direitos Humanos do Chile informou ainda que nos próximos dias chegará ao país uma delegação enviada pela Alta Comissária da ONU para os direitos humanos. A presença desta delegação tem como objectivo avaliar as sucessivas alegações de violações dos direitos humanos, em particular com a decisão governativa de accionar as forças armadas.

Recorde-se que os anúncios de aumento das tarifas de electricidade e dos bilhetes de metro foram o rastilho para as lutas que se sucedem, num país que é o mais desigual entre os que fazem parte da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE), ocupando a sétima posição do ranking na América Latina.

Solidariedade com o povo chileno em Lisboa

No passado dia 25 de Outubro dezenas de chilenos residentes em Portugal estiveram concentrados no Largo Luís de Camões, em Lisboa, para expressar a sua solidariedade com a luta desenvolvida pelo povo chileno que, enfrentando uma violenta repressão das forças policiais e militares, mantém manifestações contra as medidas anti-sociais e ao serviço dos monopólios e interesses estrangeiros, promovidas pelo governo do Presidente Sebastián Piñera.

Na iniciativa, que contou com música, dança e poesia, foi lido um manifesto da Associação de Chilenos em Portugal, no qual condenam a violência e os assassinatos resultantes da repressão, exigindo a renúncia do Presidente Piñera.

Marcaram presença na concentração membros da Associação de Colombianos pela Paz e do Conselho Português para a Paz e Cooperação (CPPC).

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